BRRRR!!!!! Depois que assisti o clássico "Westworld-Onde ninguém tem alma" ando apavorado, achando que o andróide assassino carecão Yul Brynner vai aparecer atrás de mim para me exterminar! Pra me acalmar um pouco fui até o quintal do Bigorna, onde tenho uma humilde plantação clandestina de ervas medicinais e fiz um cigarro fitoterápico jamaicano, no melhor estilo Bob Marley, podicreeeeee?!? Estava eu lá imerso na fumaça e nos pensamentos, contando as estrelas do céu, quando subitamente QUEM eu vejo na rua?!? O carecão Yul Brynner me encarando silencioso!!! Com seus passos automáticos o monstro mecânico veio em minha direção. Saí correndo pelo quintal e o desgraçado atrás de mim. Corri em volta da minha horta psicotrópica umas dez vezes e o robô não saía da minha cola. Até que, exausto e já sem forças, entrei na redação, onde o monstro metálico me encurralou. Lentamente, com seu rosto impassível, ele se aproximou e puxou de sua cintura não uma arma mas sim... uma lista de dez gibis! UFA!... Era apenas o Osvaldo Pavanelli, talentoso quadrinhista e ilustrador paulista, tão carecão quanto o Yul Brynner! Eu, sob delírio da erva psicotrópica, confundi-o com o terrível vilão do cinema. Desfeito o mal-entendido, rimos muito e ele se despediu. Não sem antes levar um punhado de lindas "mudas" de minha horta para plantar em casa, que ninguém é ferro, né?! Só os robôs. Ainda bem!...
Os Dez Melhores Quadrinhos de Todos os Tempos
por Osvaldo Pavanelli
Olá, amigos do Bigorna, essa seleção que faço é muito mais baseada em feeling do que em design...creio até que em meu caso deveria ser o oposto, mas HQ pra mim sempre foi muito mais paixão e tesão do que qualquer outra coisa. Também não há qualquer hierarquia na ordem de apresentação entre eles. Lá vai, então:
1 - Príncipe Valente- Nos tempos do Rei Arthur - Harold Foster
Esse material foi uma das primeiras coisas que caíram na minha mão quando eu era pequeno. Li e reli, deslumbrei-me, apaixonei-me, mas infelizmente não era meu,era emprestado, e só consegui um próprio quando um amigo do peito me presenteou décadas depois com um raríssimo exemplar publicado pela EBAL em 1974. Hal Foster,quando jovem, teve muito contato com a vida ao ar livre nas florestas do oeste canadense, o que pode-se facilmente constatar pelas paisagens e fundos arborizados que retrata com perfeição em suas HQs. Sua narrativa é calma, serena e linear, levada a cabo com a maestria dos grandes gênios. O texto narrativo e os diálogos das personagens eram apresentados na forma de script impressos ao lado superior ou inferior das cenas, cuja execução primava pela pesquisa e exatidão de detalhes históricos. Uma obra-prima para todo o sempre, leitura absolutamente obrigatória para quem, como eu, ama arte sequencial. Clássico dos clássicos!
2 - A origem de Tarzan - Joe Kubert
Eu, aos 12 anos, nunca havia visto o trabalho de Joe Kubert, monstro sagrado da pena e do pincel. Com seu gestual magnífico, indescritível, recortando, sombreando e definindo com uma fluidez tão incompreensível quanto a convergência de precisão e espontaneidade que, como sabe qualquer um que desenha profissionalmente, são como água e óleo, teimam em não andar juntas. O roteiro é a clássica história de Edgar Rice Burroughs que resignifica-se e ganha mais brilho ainda na execução mágica e inebriante de Kubert. Este meu exemplar, publicado como edição comemorativa da primeira edição de Tarzan em HQ no Brasil em 1934, tem lugar muito especial em minha estante.
3 - Batman, a piada Mortal - Alan Moore e Brian Bolland
Tenho até vergonha de ser tão lugar-comum, pois certamente está em todas as listas dos dez mais, e nem vou tentar dizer algo que já não tenham dito desta obra divina e espetacular, fruto do encontro dos titãs Alan Moore e Brian Bolland. Tenho as duas edições, a primeira, mais simples, e a segunda, de luxo, da Panini comics, em capa dura...se fizerem uma terceira, compro de novo! Sem palavras!
4 – Hellboy: Sementes da destruição - Mike Mignolla e John Byrne
Imagine que você desenha muito bem, tem um "chiaroscuro" poderoso nos moldes de Hugo Pratt e José Munhoz e uma ambientação melhor ainda. Imagine então que você tem também uma ótima idéia para uma personagem baseado numa figura mítica ancestral temida e odiada pela humanidade cuja repersonificação como "mocinho" remete ao mais íntimo e insolúvel conflito individual: como incrustrar-se numa sociedade que não te aceita e te odeia pelo que você é. Promissor, não? Imagine agora que depois de sua façanha realizada aparece um cineasta latino doidão e genial que transporta para o cinema de forma magistral sua criação em HQ turbinando-a em dez mil por cento. Ora oras, pessoas, de quem posso estar falando somente? Sim, "Hellboy, sementes da destruição", grandes Mike Mignola(história e arte) e John Byrne(texto)!!!
5 - Sophie going South - Carlos Sampayo e José Munhoz
Quando vi esta obra pela primeira vez não acreditei, nunca havia visto nada sequer parecido. Tenho ojeriza da língua francesa desde o ginásio, mas reaprendi a lê-la somente para degustar esta obra. É impossível para mim não falar sobre o desenho de Munhoz, pois este teve influência esmagadora sobre meu trabalho. Quem faz HQ sabe o quão difícil é ser original nesta arte. Quando vemos alguém com um alto grau de originalidade, portanto, é o caso de bater continência. Eu bato! Pode-se dizer que Munhoz bebeu na fonte de Pratt e Caniff, sim, mas o resultado que o argentino conseguiu para si é de fazer cair o queixo. O meu caiu e até hoje não levantou! Os argentinos em geral são muito originais, mas Munhoz realmente é hours concours, é um visual que arrebata, um uppercut estonteante de um radicalismo artístico e autoral inesquecível. Ele usa pincel mas a arte final parece ter sido talhada a canivete. E para fechar com chave de ouro esta obra, o roteiro de Sampayo disseca ferina e impiedosamente a atávica e dolorosa relação latino-estadunidense com posicionamento político muito pertinente e interessante através da figura anárquica e subversiva da personagem Sophie. Referência obrigatória e imprescindível para autores e leitores!
6 - Tintin: Voo 714 para Sidnei - Hergé
Este também me caiu às mãos quando criança, e foi a minha porta de entrada para o quadrinho europeu. E que porta! O que falar do trabalho de Hergé? Grafismo impecável, sintético, de um equilíbrio visual de dar inveja, maravilhosamente adequado para a linguagem de HQ com esse tipo de proposta. Narrativa também equilibrada, fluída, bem temperada com toques de humor fino e inteligente. Leitura para qualquer idade, e isso é muito incrível porque eu sempre achei que essa era a camisa de força que desembocava em todas as porcarias que eu já li aqui feitas para "todas as idades". Tintin é para todas as idades, para toda a família, e mesmo assim é de altíssimo nível. Para esfregar bem esfregado na cara de algumas grandes editoras que consideram que a condição única e exclusiva para publicação de HQ em larga escala é a de que a obra seja anódina e insossa!
7 - Mistérios de la Carne - Charles Burns
Charles Burns em momento sublime, estranho, esquisito, cabuloso, grotesco, maldito até os ossos, ou seja, tudo de bom!! Ler este álbum é dar um mergulho às profundezas do universo único e tão próprio dos quadrinhos. É lembrar que HQs são forjadas na fornalha de uma só alma, na solidão de seu estúdio, no isolamento nerd de quem nunca se adapta ao normal, ao esperado, ao corriqueiro. Neste trabalho Burns vai fundo na análise das idiosincrasias masculinas e femininas, reveladas na totalidade de sua crueza através dos sintomas físicos e carnais resultantes da grande doença psicossocial humana. Perda de tempo elogiar o desenho peculiar e único de Burns que por vezes conta melhor a história do que seu próprio texto. Outro gibi memorável que ocupa lugar especial em minha estante.
8 - A noite da aranha-As investigações de Edmund Bell - Rene Follet e Jacques Stoquart
Rene Follet desenha esta história de John Flanders adaptada por Jacques Stoquart. Este é um daqueles raros casos nos quais um trabalho despretensioso e espontâneo acaba por resultar numa grande obra. A história original de Flanders exubera um realismo fantástico que torna-se quase natural e muito palatável, mesmo aos mais céticos.Em grande parte graças ao desenho pessoal, simpático e gostoso de Follet. Um trabalho encantador e muito charmoso.
9 - Asterix e os louros de César - Uderzo e Goscinny
Uderzo e Goscinny em momento inspirado (para variar). Li quando era adolescente, e ainda leio raramente quando sobra um tempinho. Foi crucial para minha formação em humor gráfico de HQ. A constância, firmeza e controle da linha narrativa através do trabalho gráfico elaborado me encanta ainda hoje. Nossos humoristas daqui parecem preferir o desenho caligráfico mais relaxado e descompromissado quando fazem HQ, bem ao contrário dos europeus, que mantém a exigência de estruturação elaborada com fundos complexos e ambientação requintada com roteiro idem, mesmo para fazer humor.
10 – Revista "Circo" # 6 - por vários autores
A leitura deste gibi teve impacto estrondoso em minha vida profissional! Vou direto ao ponto. Foi gente daqui tentando fazer algo nosso com trabalho autoral altamente propositivo bancada por uma pequena editora local. Algum pouco recheio importado, mas a maioria do material feita aqui no Brasil. Coisa para se aplaudir de pé, sempre. A revista em questão trazia uma determinada HQ surpreendente, instigante e revolucionária, tanto semântica como sintaticamente, e que destacava-se rotundamente de todas as outras HQs nacionais e importadas publicadas neste mesmo número. Lembro-me perfeitamente da minha sensação de estupefação e incredulidade diante do fato de que esta tal HQ havia sido feita por um brasileiro, pois eu não me lembrava à época (e ainda não me lembro hoje) de nenhum outro material estrangeiro que se lhe comparasse em audácia, originalidade e domínio de linguagem. Refiro-me à HQ "Perdidos no espaço", de Luiz Gê, em minha opinião o maior quadrinista brasileiro vivo!!! Esta HQ mudou por completo e em definitivo minha visão dos Quadrinhos!