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Muito além dos quadrinhos - análises e reflexões sobre a 9ª arte
Por Deise Cavignato
10/05/2011

O livro Muito além dos quadrinhos lançado em 2009 com a organização de Waldomiro Vergueiro e Paulo Ramos aborda de forma acadêmica as histórias em quadrinhos. Para quem quer um motivo para ter este livro, basta querer saber o que o futuro aguarda para as HQs.

Entre tantos temas, o que mais chama atenção são os capítulos dedicados a aposta no mercado brasileiro que “está mais maduro para esse tipo de obra”, conforme afirmam ambos organizadores. Se de um lado as HQs do gênero super heróis contam com leitores fiéis, do outro também há pessoas interessadas apenas no formato linguístico que atraem público significativo. Prova disso são os espaços cada vez maiores que se tem dado a esse tipo de conteúdo em livrarias. Atualmente, há lojas especializadas na venda apenas de quadrinhos, onde vende-se todo tipo de HQ nacional e internacional.

“Pode-se dizer que em praticamente todos os países do mundo é possível encontra exemplos de utilização da linguagem dos quadrinhos nos mais diferentes setores ou atividades humanas, seja com finalidades de educação e treinamento, de entretenimento, como com fins de divulgação e publicidade de produtos comerciais. Tudo isso evidencia o potencial das histórias em quadrinhos para atingir todas as camadas da população”, explicou Vergueiro.

Os nove autores tratam de assuntos que levam ao leitor a entender que quadrinhos não servem apenas para o entretenimento. O livro demonstra que, embora HQs trabalham com ficção, elas carregam elementos que constatam a realidade, tanto no discurso da escrita como no visual. Além disso, o autor de quadrinhos, principalmente aquele que trabalha com os chamados históricos, remete o leitor a documentos que são tidos como verdadeiros.

A comunicadora Agda Dias fez o capítulo Margarida no Brasil: retrato de uma mulher pós-moderna. Agda faz uma síntese das publicações sobre a namorada do Pato Donald. A personagem retrata o cotidiano das mulheres que lutam pelo seus direitos como, por exemplo, trabalhar. Com o esteriótipo do gênero feminino a autora do capítulo aborda um contexto sociológico e a mudança de valores da sociedade moderna.

Já Paulo Ramos escreveu sobre O uso da gíria nas histórias em quadrinhos. Ele analisa alguns quadrinhos que contém a linguagem oral transformada em escrita e mostra gírias nacionais, regionais, além de comentar sobre a aproximação dos personagens da realidade do leitor. A pesquisadora Gêisa Fernandes D'Oliveira escreveu O caipira de todos nós: A construção do sentido de um tipo brasileiro nos quadrinhos. Os personagens trabalhados no texto foi o Jeca Tatu, do escritor Monteiro Lobato e Chico Bento, personagem de Maurício de Sousa. Gêisa faz uma comparação com o caipira do cinema, conhecido como Mazzaropi e a partir daí faz uma construção de uma identidade nacional.

O organizador do livro Waldomiro Vergueiro fez o capítulo Quadrinhos e educação popular no Brasil: considerações à luz de algumas produções nacionais. Para o autor, as HQs podem ser utilizadas de forma eficiente para transmitir conhecimentos específicos, ou seja, “tendo uma função utilitária e não somente como entretenimento”. O professor e chargista Alexandre Barbosa também discutiu o mesmo tema no capítulo História em Quadrinhos: a coexistência da ficção e da realidade. Ele afirmou que as HQs podem assumir um fator importante na construção da realidade.

Túlio Vilela destacou A religião e o sobrenatural nos quadrinhos brasileiros de terror. O comunicador deu exemplos de quadrinhos nacionais e internacionais escritos nos anos 50 como O terror negro, Kripta e Mystery. Além disso, também abordou personagens assustadores e folclóricos como a mula-sem-cabeça, lobisomem e fantasma, no caso estudado, o Penadinho da Turma da Mônica. A conclusão do autor é que há a necessidade de mais estudos dos quadrinhos de terror nacionais para, assim, quem sabe, criar uma nova geração de desenhistas e roteiristas deste gênero.

O desenhista Eloar Guazzelli fez o capítulo Grafismos nos Pampas: breve histórico dos quadrinhos na Argentina onde discute toda a trajetória, isto é, desde o início do século XX, quando surgiu as revistas de histórias em quadrinhos, a idade de ouro na década de 40, com as publicações de Rico Tipo, Patoruzito e Intervalo e o início da decadência nos anos 60. Mas Guazzelli foi positivista e aposta na renovação da linguagem e tem perspectivas para o futuro, já que no segundo semestre de 2007 houve sinais de recuperação dos quadrinhos argentinos com grande venda deste conteúdo.

A professora Ângela Rama criou o capítulo Heróis no Brazil (com Z mesmo). A análise feita por ela é sobre a falta de informações que os desenhistas estrangeiros tem sobre o nosso país. De acordo com a autora, as revistas Batman no Brasil (1993) e Wolverine: Rio de Sangue (2001), por exemplo, colocam elementos que não correspondem aos meios e cultura dos brasileiros, já que desenham lanchonetes e prédios com estilo norte-americano, e gangues vestidas com roupas também americana com tacos de beisebol, esporte praticamente inexistente no Brasil. As favelas são os erros mais gritantes porque retratam vilas do interior da Espanha ou Portugal.

Fernando Mafra escreveu Batman de Beethoven: um olhar sobre as adaptações televisivas do Homem-Morcego. Para o autor, Batman não é apenas outro personagem de quadrinhos, ele passou ao status de ícone pop tornado-se uma lenda comparável a Drácula ou Sherlock Holmes. Por isso, Mafra acentua o universo do herói na capítulo, destacando os ajudantes (Robin, Bat-Girl e outros) e também os vilões (Coringa, Duas-Caras, Pinguim entre outros).

A comparação entre Batman e Beethoven é por conta das adaptações de algumas mídias como, por exemplo, a música do compositor que foi gravada em fitas, LPs, CDs, rádios e outros meios, o personagem dos quadrinhos também teve adaptações em seriado (1966-1968) e desenhos animados.

O livro lançado pela Devir Livraria contém 207 páginas com informações necessárias para quem gosta de quadrinhos ou quer saber um pouco mais sobre o assunto.

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