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Por Edgar Indalecio Smaniotto 02/05/2011 Watchmen é talvez a maior obra de HQ de Super-Herói de todos os tempos, tornando-se também um dos melhores, se não o melhor filme de super-herói até o momento. A história em quadrinhos tem roteiro do mago britânico Alan Moore e desenhos do genial artista Dave Gibbons, juntos eles dão vida a uma obra genial, em que roteiro e arte se estruturam e se completam magistralmente. No universo imaginado por Alan Moore os heróis surgiram na virada dos anos 40 para os 50, e foram forçados a abandonarem suas atividades com a aprovação de uma lei, em 1977, que tornou suas atividades ilegais. Além de Rorschach, que se recusou a parar suas atividades como vigilante, apenas o Comediante e o Dr. Manhattan continuaram na ativa, mas os dois últimos como agentes do governo americano. O Dr. Manhattan é na verdade o único destes heróis a ser realmente um super-herói, possuindo poderes de dar inveja até ao Super-Homem, ele pode fazer qualquer coisa desde se teleportar, até enxergar eventos futuros, além de ficar gigante e deteriorar a matéria com o pensamento. Na verdade Manhattan é praticamente um Deus, como bem salienta o final do filme. Neste universo alternativo, a presença do Dr. Manhattan provoca mudanças substanciais na história, graças a ele a guerra do Vietnã é vencida em semanas, e Richard Nixon ainda é o presidente dos Estados Unidos. Além disso, sendo o Dr. Manhattan um cientista, antes do acidente que o tornou um super-herói e agora tem uma inteligência ilimitada, ele desenvolve pesquisas que permitiram diversos avanços tecnológicos. Entretanto estamos na época da Guerra Fria e, com o Dr. Manhattan do lado dos Estados Unidos, a balança de poder pende para este país, deixando a União Soviética acuada. Os soviéticos então constroem enormes quantidades de armas atômicas, para contrabalançar o poder do Dr. Manhattan. O mundo está à beira da 3ª Guerra Mundial. É neste contesto que o Comediante é morto, dando encadeamento a uma série de acontecimentos que levará a volta de antigos heróis e a descoberta de uma intrincada conspiração. No filme o diretor Zack Snyder da vida a esta inigualável obra de arte, e para minha surpresa sua adaptação é extraordinária, além das qualidades já próprias de um roteiro perfeito, alinhado a imagens soberbas, também temos uma trilha sonora maravilhosa. Um verdadeiro êxtase estético, metafísico e epistêmico. Mas, apesar de tudo isso, e talvez por isso mesmo, o filme foi um fracasso de bilheteria. Mas por quê? É muito simples responder! A verdade é que grande parte dos espectadores estão acostumados a ir ao cinema para assistirem filmes sem narrativa alguma, apenas seqüências de explosões. E quando se fala em super-heróis a coisa piora, pois o que se deseja é uma narrativa para adolescente, tipo os filmes do Homem-aranha ou Quarteto Fantástico. Além disso, muitos estão acostumados a verem cinema como assistem televisão: comendo, conversando e fazendo barulho (com papel de bala e etc.) Assim, assistir e se deleitar com uma obra de arte cinematográfica, se torna quase impossível em uma cultura que não mais se educada para a atenção, mas para a dispersão, onde o prazer só pode estar no banal, no fútil, e no entretenimento barato, ingênuo e nunca em um trabalho estético aprimorado. Em resenha para a revista Veja (edição 2102 de 04 de março de 2009), que tradicionalmente sempre se coloca contra qualquer obra que se pareça com arte genuína, à crítica Isabela Boscov ataca Watchmen justamente pelas suas qualidades, ela diz que estamos diante de “uma criatura ... saciada pela própria beleza” com uma “estupenda concepção visual e de linguagem” e também elogia a trilha sonora, para então dizer que o defeito do filme é “não alcançar as pessoas convocadas a apreciá-la”, pois induz a prateia a “apatia”. Em nenhum momento Boscov parece notar que os supostos pontos fracos do filme são na verdade seus pontos fortes, e que se um certo publico parece estar apático, é mais por sua incapacidade, que vem sendo culturalmente construída, de desfrutar de uma obra de arte tão bela. Vale apena assistir muitas e muitas vezes. Mas com atenção que uma obra de arte merece, e não como simples passatempo. Afinal Watchmen esta distante, seja como filme ou como HQ, daquilo que se faz corriqueiramente em termos de super-heróis. |
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