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Por Marcio Baraldi 27/04/2011 O pioneiro Angelo Agostini bem que tentou, fez de tudo, acreditou, mas sua semente realmente não germinou! O Quadrinho Nacional que ele tanto sonhou não aconteceu, não virou realidade! Muitos depois dele tentaram implantar uma indústria de HQ legitimamente brasileira. Deram o sangue, o suor e a saúde, sacrificaram vida pessoal, investiram todo o fosfato, tempo, talento e dinheiro num projeto que mal decolou, nunca se estabilizou no ar pra valer e ameaça despencar antes de alcançar os vôos maiores que merecia e tinha tudo pra alcançar. Nos revolucionários anos 60, jovens visionários e nacionalistas como Minami, Cortez, Penteado, Colin, Seto, Sousa, e tantos outros, já tinham claro que a disputa contra o Quadrinho estrangeiro era desigual e dificílima e que sem uma legislação sólida de apoio, tal peleja seria, com certeza, perdida. Foi uma louvável geração que ao invés de reclamar e chorar nas mesas de bar, vestiu a camisa da HQ nacional, se uniu e adentrou o gramado pra ganhar o jogo. A bola já estava na frente do gol quando chegou a malditadura, que suspendeu a partida, fechou o estádio, espancou jogadores e esvaziou as arquibancadas. Foi cada um pro seu canto, tentar driblar a ditadura do seu próprio jeito, com terror, erotismo, super heróis, infantis. A maioria não foi longe e naufragou em pouco anos. Apenas UM escapou de todas as turbulências: Maurício de Sousa!!! E eu me pergunto: Mas o que esse homem tem afinal pra ter sido o único, num país de duas centenas de milhões de habitantes, a conseguir se estabelecer no mercado por 50 anos?!? Será que ele, além de artista e empresário, é também um mágico?!? Um extra-terrestre poderoso, com conhecimentos acima dos terráqueos?!? Terá feito pacto com o Satanás, se é que tal bobagem existe?!? A verdade é que até hoje, após mais de 20 anos consecutivos nesse mercado, não encontrei ainda resposta satisfatória para esta questão! Os críticos, essa raça de gênios enviada a Terra com a entediante missão de conviver com os meros mortais, há décadas repetem automaticamente os mesmos surrados clichês: "Roteiros! Não temos bons roteiros!", "Personagens! Faltam bons personagens!", "Artista brasileiro é preguiçoso!", "Não sabe vender o trabalho!", e outras pérolas que os nobres colegas já decoraram de trás pra frente. Basta lembrar que muitos deles tentaram ser quadrinhistas e não conseguiram, e hoje nos dão a inestimável ajuda de nos ensinar o que eles mesmos não aprenderam. Obrigado, senhores! Basta também um mínimo passeio pela história recente da HQB para lembrar de gibis como Pererê, Cacareco, Raio Negro, Capitão 7, Judoka, Fikom, Mirza, Satanésio, Gabola, Sacarrolha, Trapalhões, Jovem Radical, Andréia a repórter, Velta, Holly Avenger, Mico Legal, Metal Pesado, Xaxado, Senninha, Turma do Arrepio, Gordo (Ely Barbosa),Turma do Lambe-Lambe, Gabi, Menino Maluquinho, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Chiclete com Banana, Níquel Náusea, entre tantos e tantos outros. Todos com ÓTIMOS personagens, ÓTIMOS roteiros, todos feitos por ÓTIMOS profissionais trabalhadores (e não preguiçosos), todos extremamente VENDÁVEIS e COMERCIAIS! Verdadeiros quadrinhos para as massas e não para os umbigos!!! Quem não se lembra do excelente Ely Barbosa, tão bom artista quanto empresário, que teve a sacadíssima idéia de associar seus personagens ao apresentador Sílvio Santos nos anos 70 e 80? Seus personagens estavam todo domingo na TV em horário nobre, para toda a sagrada família consumir. E o cartunista-apresentador de TV Daniel Azulay, cujo programa era extremamente popular e sua estabanada figura conhecida de qualquer criança brasileira? E a toda-poderosa Xuxa, empresária bem-sucedida, por que seu gibi durou tão pouco se ela ainda é tão popular? E o que dizer do famoso e maravilhoso Departamento de Quadrinhos da Editora Abril, que nos anos 80 e 90 produziu uma enxurrada de gibis 100% nacionais como Sérgio Mallandro, Faustão, Angélica, a própria Xuxa e o simpático palhacinho Alegria, entre tantos outros? Por que TODOS esses gibis tão profissionais, criativos e competentes faliram?!? Será que o Quadrinho nacional sofre de alguma maldição?!? Alguma macumba?!? Por que o Quadrinho estrangeiro persiste em nossas bancas e o nosso próprio não? O que há afinal com o povo brasileiro, que não respeita e valoriza a própria cultura e prefere se identificar com algo alheio e distante de sua realidade? A verdade é que, depois de algumas décadas onde vislumbrou-se reais possibilidades de possuirmos um mercado real de HQ Nacional, chegamos aos anos 2000 num cenário de extrema aridez e terra arrasada. As grandes editoras fecharam seus departamentos de criação nacional, as pequenas e ousadas como Circo, Grafipar, Press e outras, literalmente fecharam suas portas. Foi a década em que o Quadrinho nacional foi expulso das bancas e levado à força às livrarias, sob baixíssimas tiragens, que não lembram nem de longe os bons números de outrora. Os ideais coletivistas, politizados e revolucionários das gerações passadas deram lugar ao individualismo, a alienação e ao analfabetismo político. A função provocativa e desafiadora deu lugar ao politicamente correto. O questionamento deu lugar a acomodação. A raiva deu lugar ao cinismo. O Quadrinho Nacional hoje é um punhado de revistas independentes de 500 exemplares vendidos tal qual artesanato indígena em pequenos eventos. Aquela multidão de crianças que atravessavam sua infância inteira devorando gibis foi substituída por um punhado de nerds adolescentes ou marmanjos. Claro que personagens e roteiros ótimos ainda continuam surgindo, mas agora relegados as baixas tiragens e ao semi-ostracismo. Os mais "espertos" se apressam a escrever (e pensar) em inglês para tentar uma boquinha na Marvel, DC ou outra tranqueira americana que o valha. Não os culpo. O Brasil faz com tais artistas o mesmo que faz com seus atletas e cientistas, perdem-nos para outros países já que não é capaz de lhes oferecer sequer condições de trabalhar dignamente para o engrandecimento de sua própria nação. Os sites e blogs especializados dedicam um mínimo de atenção a produção nacional, privilegiando os enlatados americanos/estrangeiros e seus intermináveis blockbusters. Não os culpo também. Sabemos que debater a cor da cueca do Homem Aranha ou a milésima morte do Superman dá mais ibope que o agonizante quadrinho brasileiro. Os acadêmicos permanecem prostrados em seus observatórios observando a vaca ir pro brejo e debatendo infinitamente. Sequer os culpo também. Eles não têm forças para salvar essa vaca. Pelo andar da carruagem, em breve estarão ensinando a seus alunos apenas o passado da HQB, já que seu presente e futuro parecem estar condenados. Os prêmios tradicionais de Quadrinhos há muito se acomodaram no fisiologismo, na mesmice e no cinismo, cometendo injustiças históricas e afastando-se de suas bem intencionadas origens. Também não os culparei. Eles apenas refletem o vexaminoso mercadinho da HQ brasileira, onde impera a falsidade ,o egocentrismo e a pobreza de espírito. E a principal personagem desta história, a categoria dos quadrinhistas?!? Esta, então, depois da malograda batalha dos anos 60, nunca mais se reorganizou expressivamente, não gerou lideranças, não fundou um Sindicato atuante, não elegeu deputados oriundos ou comprometidos com a categoria, não reconstruiu o movimento, não retomou suas bandeiras e batalhas. Segue cega e tonta até hoje, sem qualquer rumo ou direcionamento, mais desmobilizada que nunca. Resta então, quem? O Maurício de Sousa, que tem sido o único e último bastião do Quadrinho Nacional! Mas com todo respeito, ninguém vive para sempre, nem o Maurício. Será que o dia do desencarne do mestre (que oxalá esteja ainda muito distante), será também a última pá de cal sobre o Quadrinho Brasileiro? Se em 50 anos simplesmente NINGUÉM conseguiu sequer emparelhar com ele, quem o substituirá?!? É uma tragédia para o Quadrinho Brasileiro não ter conseguido, nessas décadas todas, criar outros bastiões sólidos, outros motores de propulsão. Acostumamos a voar baixo a vida toda com um único motor e, tolos, acreditamos que ele não parará jamais. Até despencarmos. |
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