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Por Edgar Indalecio Smaniotto 24/04/2011 Necronauta é uma HQ de super-herói ou terror? Difícil de decidir? Tudo bem! Podemos dizer que é um bom hibrido entre ambas. Em um artigo publicado no Jornal Graphiq n°. 43, p. 10, “Viva o Necronauta!” o quadrinista Patati lembra que o personagem, para além de um super-herói, dialoga com duas vertentes tradicionais do quadrinho nacional, o terror e a HQ de guerra. Concordo com Patati, realmente estamos diante de um dos personagens mais originais das HQs brasileiras, justamente por conseguir ser um sincretismo tão bem acabado. O Necronauta, para simplificar, é um super-herói que pretende guiar as almas dos mortos para a grande luz, hora pilotando uma moto ou seu necrodisco, com um visual para lá de original e histórias bem construídas. A morte, ou transição para outro plano de existência, é tratada de forma madura, e espiritualizada. Necronauta é assim o mais improvável dos heróis, já que sua missão não é proteger os vivos, mas encaminhar as almas dos mortos, quando estas ainda estão em um limbo formado pelas lembranças de suas vidas, definitivamente para os céu. Com tal premissa, como já salientamos, este personagem é um dos mais originais super-heróis brasileiros, é pouco provável que não figure entre as melhores criações nacionais do gênero em qualquer analise crítica sobre quadrinhos de super-heróis, terror e mesmo quadrinhos em geral. As primeiras histórias do personagem foram reunidas em um álbum muito bem acabado pela editora HQM. NECRONAUTA: o soldado assombrado e outras histórias (Vol. 01, HQM Editora, 2009), apresenta ao todo cinco histórias em preto e branco, anteriormente publicadas no fanzine do personagem, e uma história colorida, está publicada originalmente na revista Popgun 03, da editora norte-americana Image Comics. Vamos aos comentários sobre cada história. O Soldado Assombrado, aqui o Necronauta deve guiar ao ‘descanse em paz’ a alma atormentada de um velho soldado, presa em suas lembranças de guerra. História e arte de Danilo Beyruth. Assuntos de Família, o espírito de um pai abusivo continua a atormentar o espírito de sua filha, mesmo na pós-morte, e o Necronauta vai a socorro da garota. Esta historia é escrita por Stephen Lindsay e desenhada por Danilo Beyruth. Sagarmatha, o Necronauta ajuda um alpinista a completar uma escalada que o levará ao encontro com a Deusa mãe do universo. Roteiro de Marcelo Briseno e arte de Danilo Beyruth. No fim do túnel, história sobre um suicida recorrente, que mesmo após a morte, continua tentando se suicidar. História escrita por Luiz Costa Pereira Junior e ilustrada por Danilo Beyruh. Bem-vindo a Necrópolis, com texto e arte de Danilo Beyruh busca oferecer novos elementos em torna do universo ficcional do Necronauta. Aqui temos uma visita a Necrópolis, cidade da além vida, que reúne monumentos de todas as religiões e deuses que servem como farol para guiar os mortos mais religiosos para a grande luz. Um personagem secundário extremamente interessante também é adicionado ao universo ficcional do Necronauta, o físico visionário Nikola Tesla, que devido a sua sede de conhecimento preferiu ficar no limbo, continuando suas experiências a ir para a grande luz. Tesla é apresentado aqui como uma espécie de faz tudo tecnológico para o Necronauta, que tem alguns problemas com as monstruosas obsessões (literalmente) de Tesla. Bagagem Emocional, com roteiro e arte de Danilo Beyruh, é a única história colorida do álbum, o que já lhe da um destaque todo especial, principalmente pela fantástica colorização, além do ótimo roteiro. Aqui um demônio se aproveita, de uma alma que não consegue se desligar dos seus antigos objetos materiais, uma história muito boa, a melhor do livro, seguida por Bem-vindo a Necrópolis. O livro conta com cinco, pranchas, cada uma um desenho com a descrição de um tipo diferente de morte: afogamento, enforcamento, queimado vivo, guilhotinado e execução por eletrocussão. Macabramente muito interessante! Temos também uma introdução, escrita por Marcelo Campos, da Quanta Academia de Artes e um SKETCHBOOK onde podemos acompanhar a criação visual do Necronauta. As histórias do Necronauta se destacam justamente pela forma competente com que o autor Danilo Beyruh e seus convidados tratam de temas psicológicos, éticos e religiosos no decorrer das histórias, onde temos espaço para profundas reflexões para a condição humana, mas nunca para o desrespeito com aqueles que, infelizmente, não conseguiram ter uma vida mais digna e com valores mais espiritualizados, e estão presos no limbo, sem conseguirem entender que já estão mortos. Uma excelente leitura, com muitas reflexões filosóficas, sobre a vida e a morte! |
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