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Por Rafael Spaca 17/04/2011 Hoje, aos olhos do público e da crítica, o artista brasileiro já é aceito quando transita em mais de uma área. Não há tanta celeuma quando vemos, por exemplo, o músico Seu Jorge fazendo participações no cinema ou quando o ator Wagner Moura decide montar uma banda e se apresentar como músico. O artista multifacetado é uma prática comum em outros países, principalmente nos Estados Unidos. Aqui no Brasil muitos artistas sofreram patrulhamento ao transitarem de uma área para outra. A lista é grande. Esse panorama começou a mudar no começo deste século. Rubens Francisco Lucchetti é um artista múltiplo. Num país que sempre imprime rótulos nas pessoas, principalmente nos artistas, ele conseguiu escapar disso. Para a turma do cinema, Luchhetti é o roteirista dos filmes de Ivan Cardoso e Zé do Caixão; para a turma do HQ ele é o cara das revistas X-9, Detective, Policial em Revista, Meia-Noite, Zé do Caixão, entre outras. No seu crachá poderiam constar várias funções: desenhista, teorizador e novelista policial. Fora isso, escreveu seriados e peças radiofônicas, organizou eventos culturais, fez cinema experimental com Bassano Vaccarini, roteiros para histórias em quadrinhos, fotonovelas, televisão e cinema. Ainda usa sua velha máquina para escrever seus textos e não cede à tecnologia. Começou a trabalhar aos 13 anos de idade, e aos 15, viu sua primeira história ser publicada. Ficou conhecido nacionalmente quando organizou na cidade de Ribeirão Preto um festival que homenageava Charles Chaplin, que por sua vez, tomou conhecimento e agradeceu a homenagem. Escreveu mais de mil e quinhentos livros, a maioria deles com pseudônimo. Nos quadrinhos não foi diferente, ele sempre achava que um nome estrangeiro trazia mais credibilidade para as histórias que escrevia. Ao ser perguntado qual das áreas que trabalhou mais o encantava, respondeu: “quadrinhos, é uma arte mágica!”. Lucchetti viveu o apogeu das HQs de detetive, suspense, terror e super-heróis. Entre os heróis que criou esta O Gato, com desenhos do soberbo Eugênio Colonnese. Mas foi no Terror que Lucchetti realmente se destacou e cravou definitivamente seu nome! Foi, sem duvida, uma das cabeças mais brilhantes do famoso núcleo de criação da histórica editora Continental/Taika (de Jayme Cortez e Miguel Penteado), e um dos responsáveis diretos pela criação do Terror Nacional, escrevendo centenas de histórias do gênero para as revistas da editora nos anos 60 e 70, auge do Terror no país. Foi roteirista oficial do gibi do Zé do Caixão, na década de 70, que durou vários números e eram ilustrados pela nata dos quadrinhistas da época como Rodolfo Zalla e Nico Rosso. Este último tornou-se praticamente o "artista oficial" dos arrepiantes roteiros de Lucchetti. Segundo a pesquisadora Ivani Rosa: "Na época em que Lucchetti escreveu histórias para a revista de José Mojica Marins, “Zé do Caixão”, elas traziam o terror do cotidiano, de conteúdo social. Mostravam problemas e verdades, que naquele período, possivelmente um dos mais repressivos já existentes no Brasil – não podiam ser expostos. Segundo, Lucchetti, o que ele fazia era apresentar o painel do dia-a-dia, nas histórias, como por exemplo, crianças morrendo de fome e sofrendo de enfermidades fáceis de serem curadas, enquanto corruptos e ladrões de cofres públicos tinham seus filhos estudando no exterior. As histórias apresentadas na revista revelavam o estranho mundo de Zé do Caixão no Brasil." Luchetti com seu filho e herdeiro artístico, Marco Aurélio Esse trabalho nos quadrinhos lhe deu cancha para trabalhos subseqüentes na televisão e, principalmente no cinema, onde roteirizou clássicos como "O Estranho Mundo de Zé do Caixão " (de José Mojica Marins) e "As Sete Vampiras" ( de Ivan Cardoso), entre muitos outros filmes. Por incrível que possa parecer aos olhos dos leigos, Rubens mostrou que todas as manifestações artísticas estão interrelacionadas, a arte pode ser classificável, mas o verdadeiro artista é inclassificável. Hoje, já octogenário, o tímido e reservado Lucchetti vive discretamente em Ribeirão Preto, no interior de SP, sempre avesso a entrevistas e mais afins de curtir o sossego do lar do que aparecer em programas de TV. Embora ainda tenha muita lenha pra queimar, Mestre Lucchetti já deixou um sucessor a altura de seu talento. É seu filho Marco Aurélio Lucchetti, graduado em letras, mestre e doutor em Ciência da Comunicação pela USP e pesquisador e historiador de HQs, autor de vários livros como "A Ficção Científica nos Quadrinhos" (1991) e "As Sedutoras dos Quadrinhos" (2004). Como se pode ver, Rubens Lucchetti é tao genial que transmite cultura até pelo DNA! Longa vida aos Lucchettis, uma família fundamental para os Quadrinhos e a cultura brasileira! Rafael Spaca e radialista e bloggeiro. |
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