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YESHUAH : conhecendo o cristo gnóstico
Por Edgar Indalecio Smaniotto
13/03/2011

YESHUAH: assim em cima, assim embaixo (Devir Livraria, 2009), de Laudo Ferreira retoma a história de Jesus, o Cristo, figura histórica onipresente em nossa sociedade de matriz cristã, o que de forma alguma significa que a grande maioria das pessoas realmente conhece “as histórias de Yeshuah”.

Em geral a grande maioria das religiões cristãs baseia seus ensinamentos nos chamados evangelhos canônicos e nas cartas emitidas pelos apóstolos, presentes em qualquer bíblia que chegue às mãos dos leitores. Entretanto, estas não são as únicas fontes existentes para conhecimento da vida e ensinamentos de Yeshuah, tendo existindo na verdade, e isto o que temos conhecimento hoje, pouco mais de uma centena de evangelhos, elem de outros documentos encontrados com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto (1947) e da Biblioteca de Nag Hammadi (1945).

Nos quatro primeiro séculos de cristianismo havia dezenas de comunidades religiosas que se denominavam seguidoras dos ensinamentos de Jesus, o Cristo, inclusive diversas destas eram gnósticas. Os gnósticos eram essencialmente místicos, que pregavam a sabedoria e o conhecimento através da união mística entre o homem e o absoluto (conhecer a ti mesmo, para conhecer Deus e o próprio universo). 

É em todos estes escritos, e em uma grande variedade de estudiosos modernos, desde acadêmicos como Padre Méier a místicos modernos, com H. Spencer Lewis (Imperator da Ordem Rosacruz AMORC), que Laudo recorre para recontar a história de Yeshuah. Mas tudo isto esta lá, bem explicado pela estudiosa Júlia Bárány Yaari.
 
Neste primeiro volume da trilogia de Yeshuah, Jesus, o Cristo é a figura central para o qual toda a história se converte, mas a heroína da história é sua mãe, Miriam, ou Maria, como conhecemos. Laudo consegue a cada quadro (desenho e escrita) de seu texto, trazer ao leitor toda a dor e dramaticidade da vida de uma jovem mulher, que vivendo em uma sociedade patriarcal e tradicional, descobre-se grávida, antes de estar casada. É na figura humana de Miriam, que muitas vezes contesta a dádiva duvidosa que lhe foi dada, que a história contada por Laudo se desenrola.

Laudo resgata assim a centralidade da figura feminina como a portadora da luz, aquela que trás a luz ao mundo. E é justamente com um nascimento que a HQ se inicia, e seu termino se da com uma iluminação mística, revelando na própria estrutura do texto o processo de iluminação gnóstica. Mas cabe ao leitor sua própria interpretação!

Apensar da HQ não ser colorida (e isto não é demérito), como fã de Tex e Mágico Vento, aprecio a arte em preto e branco, consegue-se perceber que Laudo busca dar feições mais condizentes com o fenótipo próprios de povos semíticos aos seus personagens (não são poucas as vezes que desenhistas emprestam a Jesus, por exemplo, um fenótipo europeu).

E por falar em desenhos, as expressões retratadas nas faces dos personagens em momentos de intensa angústia ou pressão sentimental, são soberbas, nesta HQ em que texto e arte estão tão refinadamente concatenados.  Por vezes vemos algumas tripas, genitálias e sangue, mas sempre perfeitamente atreladas à história.

Tanto a nível de roteiro, como artístico, YESHUAH, é uma das melhores HQs que li nos últimos anos, comparando com obras de todas as paragens, e não só brasileiras. Já é um clássico! Devo fazer em breve uma análise da segunda parte desta trilogia, O Círculo Interno e o Círculo Externo, lançada em 2010. Por enquanto fico na angustiante espera pelo tão aguardado capítulo final desta saga.

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