O mestre oriental Key tem razão, eu preciso parar com essa paranóia e curtir a vida. Imaginem só, o Carnaval passou e eu fiquei aqui trancado, deprimido embaixo do meu velho sofá, comendo Xispitos mofado, sem coragem de ir sequer até a padaria. Mas agora chega! Preciso recuperar minha auto-estima! Tomei um banho de gato, fiz a barba de três semanas, passei uma brilhantina, um bom Avanço no suvaco (smells like teen spirit...), enchi o peito e juro que vou me engalfinhar com a primeira mina que entrar por essa porta!
Pois foi só eu falar que a porta se abriu suavemente e uma sinuosa e sexy silhueta se projetou sala adentro. Era a argentina-brasileira Natália Forcat, dona do sorriso mais bonito dos Quadrinhos! Imediatamente ela colocou um tango do Astor Piazolla pra tocar, me tomou nos braços e começamos a rodopiar sala adentro num bailado inebriante. Senti seu hálito de canela excitante próximo a meus lábios. Suas coxas quentes e sua barriguinha sarada contra meu corpo. Foi então que ela parou, olhou bem fundo nos meu olhos e disse: "Aquí está mi lista de los diez más, passión!". Disse isso e me largou subitamente, virando as costas e sumindo pela porta novamente, tal qual furtiva felina. E eu fiquei ali, caído no chão, sentindo o perfume de canela selvagem daquela lista e ouvindo Piazolla sussurrando: "Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...". Sim, Piazolla, acho que desta vez enlouqueci mesmo!...
Os Dez Melhores Quadrinhos de Todos os Tempos
Por Natália Forcat
1 - Billie Holiday - Sampayo e Muñoz
Billie Holiday, maravilhoso álbum dos argentinos Sampayo e Muñoz, é um dos meus preferidos. Nele a vida da Billie Holiday é contada com sensibilidade e o traço em claro-escuro acompanha o clima de tragédia e inexorabilidade da conturbada vida da cantora.
2 – Persépolis - Marjane Satrapi
Persépolis, a auto-biografia da Marjane Satrapi, é uma obra prima de sensibilidade! O olhar feminino sobre momentos importantes da história recente do Irã nos traz uma outra perspectiva, muito particular, da mesma. O relato em primeira pessoa permite uma rápida identificação com a personagem e o traço simples traz leveza apesar do excesso de preto. Este é aquele álbum que você lê e relê várias vezes sem cansar. Eu o considero imprescindível!
3 - El Eternauta - Hector Oesterheld e Alberto Breccia
Outro clássico dos quadrinhos, El Eternauta, junta o traço insuperável do argentino Alberto Breccia (El Viejo) com a inteligência, espírito contestatório e criatividade de Oesterheld. Esta obra sofreu muitas críticas quando foi lançada (em capítulos), algumas em relação ao traço experimental explorado por Breccia, mas principalmente pelo tom revolucionário do roteiro que desagradou os censores num momento delicado da história argentina. O roteirista Héctor German Oesterheld foi seqüestrado em 1977 por grupos para-militares e seu corpo nunca foi encontrado. A obra conta a sobrevivência após a invasão da terra por extraterrestres, uma clara alusão ao imperialismo.
4 - Garagem Hermética - Moebius
Obra-prima do francês Moebius, A Garagem Hermética é hermética mesmo, em todos os sentidos. O texto foi criado por Moebius de forma improvisada (segundo ele mesmo conta em diversas entrevistas), sem um roteiro ou plano prévio. A história foi nascendo sem que precisasse se submeter a nenhuma lógica nem regra literária ou de mercado. O resultado foi incrível! É quase como um sonho... onde surgem personagens e situações inusitadas com total liberdade e permitindo diversas interpretações, portanto eu diria que é quase uma obra interativa com o leitor.
5 - Mafalda - Quino
A famosa garotinha rebelde e contestatária, preocupada com a paz no mundo, com o futuro da humanidade, que cobra da mãe uma postura mais participativa e menos “Amélia”, é um clássico do mestre Quino. O álbum Toda Mafalda é uma compilação das tiras publicadas a partir de 1960. Li as tiras na minha infância como muitas crianças argentinas, por isso eu penso que muitos dos da minha geração tem uma pequena Mafalda dentro de si que aflora de vez em quando (risos)!
6 – Asterix - Goscinny e Uderzo
Claro que não podia faltar esta série entre meus preferidos! A divertidíssima história dos gauleses irredutíveis e sua poção mágica, criados por Uderzo e Goscinny, merecem um lugar especial na prateleira!
7 - Meus Problemas com as Mulheres - Robert Crumb
Das obras completas do Robert Crumb, "Meus problemas com as mulheres" é uma das minhas preferidas. Alguns grupos chegam a acusá-lo de machista e misógino mas eu prefiro acusá-lo de “sincero”, destemido, irreverente e livre, principalmente livre. Livre ao ponto de ser capaz de expor suas fraquezas, seus medos, suas obsessões e até seus próprios preconceitos.
8 - Rê Bordosa - Angeli
O ícone das mulheres sem limites, a Rê Bordosa, do Angeli, também está entre meus álbuns preferidos. Submersa (literalmente) em situações nas quais seus desejos, vícios e falta de bom senso a levam, ela vive às voltas com pensamentos obsessivos e delirantes. Um prato cheio para quem quer se divertir e dar muitas risadas.
9 - O Homem Ideal - Ralf Koning
"O Homem Ideal", do alemão Ralf Koning é um engraçado e inteligente questionamento dos rótulos sexuais que nos aprisionam, numa sociedade que vive a ilusão de gozar de uma liberdade nunca antes experimentada. Será?
10 - Níquel Náusea - Fernando Gonsales
O Níquel Náusea é a prova viva de que dá para se divertir no esgoto e que no fundo, no fundo, não somos tão diferente dos bichos. O humor ágil, imprevisível e eficiente faz com que o trabalho do Fernando Gonsales não possa faltar entre meus favoritos.