|
Por Edgar Indalecio Smaniotto 16/02/2011 Quando cursava minha graduação em filosofia uma das matérias que, para nós alunos de um primeiro ano, mais despertava pesadelos era a tal da lógica. Os anos se passaram, e com eles matérias como Lógica e Filosofia da Linguagem, até que não eram aquilo tudo, mas que poderiam ter sido melhores se na época da minha graduação tivesse tido contato com uma história em quadrinhos do porte da recém lançada LOGICOMIX. LOGICOMIX: uma jornada épica em busca da verdade (WMF Martins Fontes: São Paulo, 2010), com roteiros de Apóstolos Doxiadis e Chistos H. Papadimitriou, arte de Alecos Papadatos, cores de Annie di Donna, tradução de Alexandre Boide dos Santos e Revisão Técnica de João Vergílio Gallerani Cuter (filósofo brasileiro, especialista em lógica), é uma agradável junção do rigor da lógica, com a forma única de se contar uma história dos Comics (Histórias em Quadrinhos, para os americanos), dai LogiComix. Esta é uma história em quadrinhos centrada na figura do filósofo e lógico-matemático Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell (1872 -1970). Russell viveu em uma época, segunda metade do secúlo XIX e primeira metade do secúlo XX, em que a antiga lógica, aristótelica, foi gradativamente substituida pela lógica-matemática atual, ao mesmo tempo em que a análise filosófica sofria uma virada linguística. Diversos filósofos então passaram a ver em muitos problemas filósoficos, não mais problemas de caráter metafísico e/ou antológico, mas de linguagem. A HQ começa com uma visita de Russell, um mititante pacifista, aos EUA, pouco antes deste entrar na Segunda-Guerra Mundial, já travada entre britanicos e alemães principalmente (no front ocidental). Manifestantes pacifista americanos intercalam Russell para que este faça um discurso a favor da não-entrada do Estados Unidos no conflito. Russeall, que começaria uma palestra sobre lógica, convida os manifestantes a assistirem sua palestra, pois nela surgirá uma resposta para a indagação proposta. No decorrer da palestra Russell relata toda sua vida, desde a infância ao momento em que realiza a palestra, oferendo uma ampla visão do desenvolvimento da lógica-matemática e suas aplicações. Esta é uma forma inclusive dos autores de explicar artísticamente o conceito de autorreferência, importantissímo para entender o Paradoxo de Russell, um problema lógico que permeia todo o texto. O texto traz ao conhecimento do leitor a vida e obra de diversos lógicos, matemáticos e filosófos: Aristóteles, George Boole, Georg Cantor, Gottlob Frege, Kurt Gödel, Devid Hilbert, Gottfried Leibniz, Henri Poincaré, Alan Turing, John Von Neumann, Alfred North Whitehead e Ludwig Wittgenstein, são alguns destes personagens, bem como os membros do Círculo de Viena. Entre as questões lógico-matemáticas discutidas estão: cálculo do predicado, lógica proposicional, teoria dos conjuntos, intucionismo, Paradoxo de Russell, Teorema da Incompletude, e etc., todos apresentados ao leitor numa perfeita combinação de exposição escrita com imagética, levando a uma compreensão holística das ideias lógicas presentes na obra. A perfeita completude entre texto e imagem faz desta HQ uma fascinante oportunidade para seu uso em aulas de filosofia, lógica e matemática. Abre-se então a possíbilidade de uma apresentaçãoo significativa desta “jornada épica em busca da verdade”, que muitas vezes pode parecer ao estudante um amontoado de teoremas e teorias pouco representativos para a sua vida e complicados demais. Como filosófo, professor e pesquisador de histórias em quadrinhos recomendo fortemente esta obra, não só como uma boa história, tratando de um tema pouco usual nas HQs, mas também como um possível livro-texto para ser usado em sala de aula ou complementar conhecimentos de lógica e matemática. Com mais obras como estas, onde como bem reforça o pesquisador Gazy Andraus, em diversos artigos neste jornal, podemos usar ambos os hemisférios cerebrais em nosso processo de aprendizagem, certamente a lógica e a matemática seriam bem menos assustadoras a maioria de nós (e isto não quer dizer apenas brasileiros), se assim pudermos aprender, seja na escola, ou em uma leitura casual de história em quadrinhos. |
Quem Somos |
Publicidade |
Fale Conosco
|