Depois que a entidade mística conhecida como Edgar Smaniotto desapareceu da redação levando minha erva medicinal junto, resolvi fechar as portas e janelas e ficar bem quietinho. Fiquei tão assustado que fui até fazer uma oração pra Santo Agostini, o padroeiro dos pobres quadrinhistas brasileiros. Mas não é que quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece?!? Estava eu ali quietinho, rezando o terço bizantino que o Padre Marcelo benzeu, quando surge do nada, uma fenda interdimensional e por ela sai um grupo de astronautas cintilantes. Seriam os astronautas deuses?!? Não, eram, isso sim, os Exploradores do Desconhecido, que atravessaram as fronteira espaço-temporais, pra trazer a lista dos dez gibis preferidos de seu criador, o roteirista e professor Gian Danton. Fiquei tão extasiado com tal visão que tentei balbuciar: "Ô seu moço do disco voador, me leva com vocês pra onde vocês forem...", mas já era tarde. Num átimo os astronautas desaparecem e a tal fenda se fechou. Pensei que 2010 seria o ano em que faríamos contato, mas pelo jeito foi em 2011. Até os astronautas se atrasam!
As 10 Melhores Quadrinhos de Todos os Tempos
Por Gian Danton
1 - V de Vingança - Alan Moore e David Lloyd
V de Vingança não é o trabalho perfeito de Alan Moore, mas é o que mais gosto. É um ótimo estudo político e uma tremenda crítica aos estados totalitários. É a obra mais autoral de Moore.
2 - Watchmen - Alan Moore e Dave Gibbons
É a obra-prima do maior escritor dos quadrinhos! Alan Moore usa diversos estilos e focos narrativos numa trama extremamente complexa. Watchmen foi tema de meu TCC de graduação e de minha dissertação de mestrado. Em ambos eu analisei como essa HQ utilizou paradigmas científicos, em especial a teoria do caos e a geometria fractal. Além disso, é possível fazer análises políticas, filosóficas e místicas. Ou seja: uma obra que se torna nova a cada leitura!
3 - Cavaleiro das Trevas - Frank Miller
Essa obra de Frank Miller foi um marco para todos nós da geração anos 80! Eu já tinha parado de ler quadrinhos de super-heróis (tudo parecia muito igual) e voltei por causa de Cavaleiro das Trevas. Junto com Watchmen, Cavaleiro das Trevas foi um divisor de águas. Pena que poucos entenderam de fato o que isso representava. Ao invés de se focarem na qualidade narrativa, muitos artistas acharam que bastava fazer um herói violento, o que deu origem aos péssimos quadrinhos dos anos 1990.
4 - Sandman - Neil Gaiman e outros
Os primeiros números, em especial, me marcaram muito. Comprei em banca, na edição da Globo. O texto poético de Neil Gaiman me influenciou muito. Gaiman mostrou que um gibi, para fazer sucesso, não precisava de um super-heróis trocando sopapos. Na verdade, não precisava nem de grandes desenhistas: o que realmente era relevante era um bom roteiro, bem estruturado, sem pontas soltas, com muitos ganchos e texto de qualidade.
5 - Tenente Blueberry - Moebius e Charlier
Eu gostava tanto dessa série européia, que não esperava nem chegar em casa. Quando comprava, parava em qualquer lugar e começava a ler. Charlier me mostrou algumas das mais valiosas lições de um roteirista, especialmente quanto à forma de prender o leitor quadro a quadro, página a página.
6 - Aldebaran - Leo
O brasileiro Leo precisou ir para a Europa para mostrar o seu talento. E qualquer um que tenha lido essa HQ sabe o quanto ele é bom como narrador. O primeiro livro é particularmente fascinante, uma ficção-científica extraordinária, que ecoa os dias da ditadura militar no Brasil.
7 - A Turma da Mônica - Maurício de Sousa e outros
Os gibis do Cebolinha marcaram a minha infância. Minha mãe trabalhava em outra cidade e, quando vinha me visitar, sempre trazia vários gibis. Quando fui convidado a participar do álbum MSP+50, voltei a ler as revistas e fiquei impressionado, especialmente com a qualidade dos roteiros. Os roteiristas parecem não ter limites de criatividade, indo do surrealismo ao non-sense. Muito bom!
8 - Companheiros do Crepúsculo - Bourgeon
Um dia, quando visitava os estúdios do Franco de Rosa, ele me mostrou essa obra e me disse: “No dia em que você escrever algo tão bom quanto isso, eu tiro o chapéu para você”. Acho que até hoje não cheguei nesse nível de qualidade. Além da arte exuberante, Bourgeon tem um perfeito domínio do roteiro numa história que se passa na Idade Média e mistura realidade e fantasia.
9 – X-men - Chris Claremont e John Byrne
As histórias escritas por Claremont e desenhadas por John Byrne estão entre as melhores coisas já feitas com super-heróis. Marcou profundamente a minha adolescência a ponto de tanto eu quanto os meus amigos esperarmos ansiosamente por mais um número da revista Super Aventuras Marvel, onde eram publicadas essas histórias. Embora eu já tenha lido trabalhos melhores, poucos foram tão fascinantes. "A saga de Protheus" sacudiu o mercado e mostrou que era possível sim fazer histórias diferentes de supers. "A saga da Fênix" é um clássico e "Dias de um futuro esquecido" antecipou o Exterminador do Futuro. Não podia faltar em nenhuma lista de quem gosta de super-heróis.
10 – Ken Parker - Berardi e Milazzo
Mesmo sem o desenho maravilhoso de Milazzo, Ken Parker já seria uma obra-prima, com personagens cativantes, histórias envolventes e muito, muito humanas. Leitura obrigatória!