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Fuga da DC Comics
Por Dark Marcos
06/12/2010

Um lado sombrio da indústria dos quadrinhos (e não apenas da Era de Prata) era o regime ditatorial imposto pelos editores das grandes empresas. Os quadrinhos, até então, já haviam passado por altos e baixos fazendo-se necessária uma administração meticulosa para que uma publicação desse lucro e garantisse sua longevidade. Vendo-se por esse ponto de vista, a “mão de ferro” de um editor nem sempre era vista como imposição, mas como liderança sábia de um mercado que sofria alterações mês a mês. Já a questão de ser “sábia” dependia muito da visão de quem estava, literalmente, por dentro do negócio.

O desenhista Jim Mooney é um dos artistas que mais claramente demonstra a todos o que era trabalhar em uma grande editora. Sua arte característica, marcada por personagens com olhos sempre estáticos, é uma das mais facilmente reconhecidas até hoje. Não chegava a ser uma “estrela” dos quadrinhos, mas seu trabalho é respeitado por grandes profissionais nesse “degrau” da profissão.

Quando a editora (ou universo) Marvel surgiu, no começo da década de 60, surgia junto uma grande oposição contra a então líder do mercado, a editora DC Comics. Com isso, também, terminava o monopólio artístico imposto, sendo que a Marvel era uma espécie de porta de saída do esquemão utilizado.

Mooney, nessa época, ficou famoso como o desenhista da Supermoça, com histórias publicadas como complemento da revista Action Comics (título dedicado ao Super-Homem). Famoso quando visto pelos olhos dos fãs, mas não era exatamente uma situação tão divertida como se possa imaginar.

O artista foi chamado diversas vezes pelo então editor Mort Weisinger, que lhe questionava sobre o porque das mudanças em seu estilo dentro das histórias da heroína. A resposta era muito óbvia e evidente: queria mostrar um pouco de inovação, queria mostrar do que era capaz em seu próprio estilo. Weisinger não viu a “boa intenção” como algo positivo e colocou Mooney em seu devido lugar. Ou seja, que ele desenhasse a Supermoça com o estilo imposto pela editora e não mudasse, em hipótese alguma, esse procedimento.

Muitos artistas da editora trabalhavam sob esse regime. Questionasse se até mesmo grandes estrelas, como o desenhista do Super-Homem, Curt Swan, não fossem vítimas de si mesmo. Isso porque o traço de Swan era tido como o definitivo e, portanto, o que deveria ser seguido pelos demais. Mas isso tirava a liberdade do próprio Swan caso quisesse evoluir seu desenho.

Quando a Marvel surgiu, Mooney viu a oportunidade perfeita em sair desse sistema. Isso e o fato de ter se tornado amigo pessoal de Stan Lee (que conhecera anos antes), o levaram a ingressar na Marvel como arte-finalista dos desenhistas “revolucionários” da editora.

Apesar de ser reconhecido na arte das histórias do Homem-Aranha, Mooney mostrava seu estilo através de retoques de artistas como John Romita e Sal Buscema. Ele estava agora entre artistas inovadores. Porém, tão inovadores, que sua arte foi ficando datada. Ironicamente, isso era notado justamente por um estilo próprio (inovador, mas próprio) que a Marvel trazia. Novamente, vítima do sistemão.

A DC, diante da concorrência avassaladora da Marvel, teve que rever seus conceitos. Ou atualizar seus padrões. E assim como muitos artistas, editoras viam suas estruturas serem engolidas por uma exigência de mercado que nem sempre vinha de fora, mas do gosto pessoal de algum editor.

Da mesma forma, artistas que não eram do “primeiro escalão”, se sobrevivessem, eram reconhecidos pelo estilo próprio que tanto lutaram para defender nesse cenário selvagem. E Jim Mooney conseguiu se manter inteiro, com seu estilo que chamou a atenção e encheu os olhos daqueles que reconhecem sua arte. Olhos atentos e tão vidrados quanto os personagens que desenhava.

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