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Por Caio Luiz 06/12/2010 "Descendo a Louisiana, perto da cidade de Houma
Curiosidades a parte, a dupla que deu origem à “Coisa do Pântano” – tradução literal do nome original, Swamp Thing – não sabia que a pequena história de oito páginas, feita para a edição # 92 da revista House of Secrets de 1971, se transformaria no que viria a ser um marco da transição de quadrinhos como mera forma de entretenimento infantil para uma variação de arte apreciada também por adultos. Em si, o breve conto narrava a morte e ressurreição do cientista Alex Olsen, assassinado pelo melhor amigo que queria roubar-lhe a esposa enquanto trabalhavam em um projeto. Enterrado no pântano, Olsen ressurge como algo enorme, de cor verde escura, triste, introspectivo (e já com o emblemático telhado triangular de raízes sob o nariz) que queria a amada de volta. O ambiente retratado no começo do século passado, aliado as referências ao icônico monstro Frankenstein, proporcionaram o tema que guiaria as publicações futuras: a constante busca pela restauração da forma humana envolta no clima de horror gótico.
Começou por recriar a origem do personagem. Removeu o aspecto de homem coberto de musgo para introduzir um ser todo constituído de lama, fungos, ervas e ramos que se organizavam de modo a imitar um corpo humano. Com o apoio dos excelentes artistas que desenhavam a serie, como Alfredo Alcala, Alan Veitch e Stephen Bissete, Moore deixou a aparência de cada quadro sempre úmida, repleta de bichos peçonhentos e vegetações rústicas, tornando o odor dos gases pantanosos quase perceptíveis. A sintonia do grupo criativo foi a responsável por arcos de histórias memoráveis e muito bem arquitetadas, como o julgamento de Abby Cabble e a invasão de plantas em Gotham City. Moore retratou o Monstro do Pântano como um ser conectado ao solo, à água e ao pântano em tempo integral e que possui inteligência diferente da nossa. Uma força da natureza capaz de se regenerar e dialogar com a Mãe Terra a ponto de usá-la como bem entendesse.
Chegou a levá-lo ao inferno em busca da namorada Abby, para um resgate épico, numa alusão à Divina Comédia de Dante Alighieri. Ignorou o tratamento maniqueísta tão comum ao universo das histórias em quadrinhos e foi polêmico ao apresentar a forma inusitada e curiosa como o Monstro fazia sexo. Em uma história magnífica, com a arte de Stephen Bissete e John Totleben, Abby Cable come um dos tubérculos que brotam da pele vegetal da criatura e com as propriedades alucinógenas da estranha batata tem uma experiência sexual digna das descrições dos efeitos de drogas ancestrais do livro A Erva do Diabo, de Carlos Castañeda. Quando inicia o arco de história Gótico Americano, Moore mergulha na essência primordial do título e resolve conduzir o protagonista pelas entranhas dos Estados Unidos ao introduzir o cicerone macabro dessa jornada, ninguém menos que o mago britânico sem escrúpulos, John Constantine, que guia Alec Holland misteriosamente por cidades onde enfrenta criaturas clássicas do terror, como o lobisomem, vampiros, zumbis, fantasmas, porém utilizando-os como ponto de partida para criticar a intolerância social, o machismo, o racismo e a cultura armamentista presentes no âmago da sociedade estadunidense. É genialidade ao cubo com toques dos contos sombrios e influência explícita do autor H. P. Lovecraft!
Depois de várias experiências com o personagem, como transportá-lo para vários planos de existência e planetas diferentes, além de transformá-lo em uma espécie de divindade, Moore considerou que as possibilidades estavam esgotadas e decidiu que era hora de partir. O nível de qualidade dos enredos e arte fizeram com que o título fosse considerado histórias para maiores de idade e se tornasse um dos precursores da Vertigo, selo de quadrinhos adultos da DC. Para substituir Moore foi chamado outro maluco, Rick Veitch, que escreveu mais 24 edições e abandonou o título na edição 88, quando a DC censurou uma história em que o grandalhão esverdeado se encontrava com Jesus Cristo em pessoa. Doug Wheeler, Jamie Delano, a novelista Nancy Collins, Mark Millar, Brian K. Vaughan e Neil Gaiman foram outros autores que escreveram o título nos anos seguintes. Se eu fosse você, colecionador ou não, leitor assíduo ou esporádico, iria aos sebos para garimpar tudo que puder deste divisor de águas das HQs que é o Monstro do Pântano. Mas não vai ser fácil. Pois como boa parte dos gibis publicados no Brasil, a cronologia está espalhada em volumes diferentes, alguns muito raros, da editora Ebal e da Abril, nas revistas dos Novos Titãs, Superamigos, Super Powers e Monstro do Pantâno em formatinho e formato americano. Sem trocadilhos, as raízes e frutos do Monstro Do Pântano estão espalhadas por centenas de gibis pelo Brasil! |
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