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Impossível... mas verdade!
Por Dark Marcos
16/11/2010

Alguns personagens de quadrinhos podem ser famosos nos dias de hoje, mas muitos desses surgiram de forma totalmente despretensiosa. Coincidência ou não, isso se tornou quase que uma regra na indústria dos quadrinhos: quanto mais obscuro o personagem, mais sua chance de sucesso. Claro que, dessa forma, não é possível prever qual vai ser o próximo estouro na mídia dos quadrinhos. Mesmo porque, como conseqüência, muitos personagens que surgem de forma planejada também afundam, graças aos seus coadjuvantes que se destacam acima do esperado. Até mesmo o cinema tem um efeito parecido, já que alguns personagens coadjuvantes muitas vezes se destacam mais do que o personagem principal.

Seguindo esse raciocínio, o que dizer da Era de Prata dos quadrinhos, quando surgiu uma profusão de personagens, levando a criatividade dos autores ao limite? Estamos falando de uma época em que personagens assumidamente coadjuvantes (que nem eram exatamente super-heróis convencionais) tinham suas próprias revistas mensais, a exemplo de Lois Lane e Jimmy Olsen, coadjuvantes das aventuras do Superman. O “caldo” criativo era tamanho que nem precisava ser um personagem secundário de um título conhecido. Bastava ser... uma idéia. Uma boa idéia. Que pudesse ser desenvolvida conforme caísse no gosto do público que, afinal, era o verdadeiro responsável pelo sucesso a ser editado.

Nem sempre as histórias destinadas à determinada revista ocupavam o número de páginas necessárias a seu fechamento. Eram até mesmo divididas de forma desigual, onde sobravam poucas páginas para se iniciar uma nova história. Mesmo que sobrasse uma mera meia página a ser aproveitada, isso era oportunidade perfeita para se fechar a edição com uma última história ou fato, dando também a chance de mostrar a arte e o enredo criados por autores que não pertenciam exatamente aquele título.

Uma dessas idéias surgiu para tapar buraco nas edições mensais da revista Detective Comics, com a série Impossible... But True! (Impossível... Mas Verdade!). Era uma espécie de “tira” onde eram mostrados fatos curiosos (e fictícios) do “mundo real”, bem na linha da série Acredite Se Quiser, que ficou famosa pelo programa televisivo de mesmo nome, porém, curiosamente, também surgiu na forma de ilustrações em jornais americanos.

“Impossível... Mas Verdade” foi criada pelo porto-riquenho Ruben Moreira (apesar de controvérsias a respeito dos primeiros autores) em 1949, mas seu desenvolvimento para adentrar o Universo DC deu-se na Era de Prata.

A “série televisiva” (dentro dos quadrinhos) era apresentada por Roy Raymond, ex-aventureiro que aposentou sua vida de encontros com situações e fatos estranhos para apresentá-las ao mundo através de seu programa. Essa série começou a ganhar certa popularidade e os autores decidiram dar uma direção inusitada para que continuasse. Raymond começou a ser mais cético diante das toneladas de bizarrices que apareciam em seu programa e começa a investigar a veracidade das mesmas. Com isso, era comum desbaratar alguma fraude que geralmente revelava alguma intenção criminosa por trás dos “mistérios” espalhados pelo mundo.

Com essa nova abordagem, a série de quadrinhos começou a focar mais seu protagonista, mudando seu nome para Roy Raymond, o Detetive da TV. Ainda apresentava seu programa, mas, de certa forma, era o maior crítico das curiosidades ali apresentadas. Não era tão popular a ponto de ganhar uma revista própria, mesmo porque o charme da série estava em continuar sendo secundária ou “tapa buraco” de outras edições. Praticamente um coadjuvante editorial que estava dando certo... do jeito que era publicado até então.

Mesmo depois do fim da série, o personagem foi incorporado e é lembrado como um dos maiores detetives do Universo DC, respeitado inclusive pelo Batman. Seu neto, aproveitando-se dos conhecimentos de seu avô, se tornaria o personagem Coruja, mas já não era tão carismático quanto o Detetive da TV. Um personagem que se encontrava praticamente na contracapa das revistas e, mesmo com a possibilidade de nem ser visto por alguns leitores, provou que uma simples idéia, colocada quase que ao acaso para completar uma edição, pode ter um sucesso que é considerado impossível... mas que se tornou verdade.

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