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Por Rod Gonzales (colaborou Marcio Baraldi) 01/09/2010 "Tudo é possível na vida! Só depende de você! Há dois anos atrás falecia Eugênio Colonnese, mestre internacional e um dos mais prolíficos e criativos quadrinhistas de sua geração. Colonnese, apesar de ter nascido na Itália e morado um tempo na Argentina, construiu sua vida e carreira pra valer mesmo no Brasil, onde chegou no início da década de 1960. Aqui , rapidamente se tornou um artista conhecido e cortejado por todos os colegas de profissão e editores. Não era para menos, pois como bem diz seu nome, Eugênio era realmente um gênio! Hiperativo, com um traço belíssimo e inconfundível, Colonnese atirava para todos os lados e acertava todas! Montou com Rodolfo Zalla , seu grande irmão de alma e oficio, um estúdio com o qual introduziram as HQs dos gêneros Terror e Super-Heróis no Brasil. Produziram centenas ou milhares de paginas de ambos os gêneros para inúmeras editoras nacionais que, na época, investiam pesado nesse tipo de Quadrinho. Os gibis de ambos os gêneros viviam um "boom" no Brasil na época, o público consumia vorazmente quadrinhos do tipo, todos americanos. Coube a Colonnese e Zalla, e a mais alguns pioneiros, produzir a contrapartida nacional de tais quadrinhos. Assim surgiram dezenas de títulos que vendiam bem e faziam a alegria da molecada de então. Foi sem dúvida, um período glorioso para a HQ e a cultura brasileira! Colonnese faleceu aos 78 anos e deixou um legado de milhares de obras, entre Quadrinhos e ilustrações, todas de alto nível técnico, e uma vaga impossível de ser preenchida por outro. Seus personagens mais famosos foram: a provocante vampira Mirza, o escrachado Morto do Pântano e o super-herói Mylar. Para matar a saudade do bom e eterno Mestre, o Bigorna publica aqui a última entrevista que ele concedeu em novembro de 2007, uma honra que o destino me reservou, pois sinceramente eu jamais poderia imaginar que seria a mim que Colonesse daria a última entrevista de sua vida. Para realizá-la encontrei-me com o mestre Colonnese na escola de desenho ESA, em Santo André, no ABC paulista, onde ele ministrava aulas. Ele me foi apresentado por William Cabral e Thiago Stanzani, alunos dele. Colonnese era muito querido pelos seus alunos, era um verdadeiro cavalheiro, sempre muito simpático e afável. Uma grande perda mesmo. Com vocês, o homem, o artista, o gênio: Colonnese!
Olha, eu soube disso aí quando o álbum já estava publicado. De fato o texto do Franco de Rosa era para mim, mas o Watson ficou tão entusiasmado com a história, que acabou fazendo ele mesmo. 2 - Nunca mais o sr. desenhou seus super-heróis? Não. Depois daquele tempo (anos 60 e 70) não mais. Depois, me afastei das histórias em quadrinhos e fiquei como diretor na editora Saraiva, cuidando de livros didáticos, e em seguida, como editor de arte na editora Ática. Fiquei afastado dos quadrinhos por uns 20 anos. 3 - O que levou o sr. a desenhar HQs de super-heróis? Na época, era o que as editoras queriam. Geralmente, aqui no Brasil o desenhista tem que fazer o que as editoras pedem. 4 - Como era o cenário dos quadrinhos no Brasil nas décadas de 60 e 70? Uma beleza! Se trabalhava de Sol a Sol, ou melhor, de lua a lua (risos). 5 - Nunca mais teve uma época boa como essa para os Quadrinhos Nacionais? Não posso dizer porque eu fiquei afastado dos Quadrinhos nas décadas de 80 e 90, e só voltei depois que saí da Ática, em 1999. Ai comecei a trabalhar de novo com quadrinhos para as editoras Ópera Graphica, Escala, Minuano e atualmente estou em atividade em todas elas. 6 - O que o sr. acha que precisa para o mercado de quadrinhos brasileiros voltar a sua era de ouro ? Na sua opinião, o que pode ser feito? Bom, primeiro teria que ter uma lei favorecendo o desenhista brasileiro! Pelo menos uma percentagem de quadrinhos publicados no Brasil teriam que ser brasileiros! Alguns anos atrás existia um projeto de colocar 50% de material nacional e 50% de material estrangeiro. Aí, na época aconteceram várias reuniões com a editora Abril e muitos desenhistas interferiram, eles queriam mais. Então, a editora Abril acabou encerrando a discussão e não deu nada. 7 - Então a solução para o Quadrinho Nacional é uma lei mesmo? A proposta das editoras era assim: eles queriam dar no primeiro ano 10 % de cota de quadrinhos nacionais publicados. Isso perto do que temos atualmente já era um ótimo negocio, aí no ano seguinte a cota subiria para 20%, até chegar nos 50% em 5 anos. Se essa proposta fosse mesmo implantada iria favorecer toda a classe dos quadrinhistas, desde os novatos até todos os talentos consagrados que temos aqui. Mas a turma foi muito afobada para o pote, e aí cortou tudo e não virou nada! 8 - Mas então o sr. é a favor de uma lei de proteção para os artistas brasileiros? Claro, vai ajudar muito a 9ª Arte!!! Nós temos ótimos desenhistas aqui desenhando para o exterior. Eu mesmo desenhei para as Filipinas, Inglaterra, Holanda, Itália, pois a arte não tem fronteiras. Só falta ter um mercado forte aqui dentro também, mas não é num estalar de dedos que se conseguem as coisas. 9 - Como surgiu a concepção do personagem Mylar? A editora me pediu um super-herói nacional, cujas histórias se passassem no Brasil e tal. Aí eu fiz um extraterrestre que morava em Fernando de Noronha (risos). E ele fez bastante sucesso na época, mas a editora não quis me devolver os originais e o advogado deles falou: "Daqui não sai"! Como eu tinha registrado o nome do personagem, então acabou! Eu não quis mais fazer o personagem e eles não podiam usar o nome também. 10 - O sr. já recebeu alguma proposta para voltar a desenhar os seus super-heróis? Eu tenho um roteiro do Mylar feito pelo Roberto Guedes. Mas uma coisa é ter o roteiro, outra é a ordem do editor. Eu só trabalho quando a editora me pede. 11 - Um amigo meu, o Samuel Bono, me pediu para perguntar para o sr. se ele poderia fazer uma HQ com o Mylar. Não teria problema, desde que ele coloque o crédito direitinho. Mas só se for para zine ou internet, porque se for comercializado aí já é mais complicado. 12 - Existem HQs do sr., inéditas? Sim. Tem a Lady Shadow, a Bruuna que já saiu na Holanda, "Desenhando Mulheres" - volume 2 e o Mister No, para a editora italiana Bonelli. 13 - E da Mirza? Existem inéditas? Também tem. Mas não sei quando sai. Eu entrego as histórias e a editora é que faz a programação. Mas, só saem uma ou duas por ano. 14 - Ao lado da Mirza, a Velta (personagem do Emir Ribeiro) é considerada uma das grandes musas da HQ nacional, e muitos pedem um encontro entre as duas. Ficaram sabendo que eu viria visitar o senhor e os fãs das duas me pediram para o senhor presenteá-los com esse encontro. Existe essa possibilidade? Só se a editora pedir. 15 - Qual o maior problema que impede o quadrinho brasileiro de chegar às bancas? É a situação econômica! O quadrinho estrangeiro vem a preço muito baixo, e já vem com merchandising, mídia. A televisão impulsiona bastante as vendas! 16 - Alguns personagens seus como Mirza, Morto do Pântano e o Gato foram plagiados por editoras estadunidenses. Já pensou em processá-los? Não. Aqui no Brasil não tem como processar nada. Se fosse lá nos EUA, eles mandavam confiscar toda a edição do plagiador. Aqui, nada disso funciona. 17 - Vi umas HQs pornôs com seu traço inconfundível, mas assinadas por um tal de P. Hall. Por acaso vocês são a mesma pessoa (risos)? Perfeito (risos)! 18 - Shadow Lady é criação do senhor? Não. O Franco de Rosa disse que teve um sonho com uma mulher de máscara, e passou as descrições da figura para eu desenhar. Assim nasceu a Shadow Lady! 19 - Qual o tipo de quadrinho que lhe dá mais prazer de desenhar? Todos! Menos faroeste, que dá muito trabalho. Detesto mangá, mas eu fiz um e a editora gostou. Então, fiz outro. Assinei como Banzai (risos)! 20 - Ainda é amigo de Rodolfo Zalla? Lógico! Estamos sempre nos encontrando em festivais e trocamos idéias. 21 - O sr. é um dos artistas mais cultuados do Brasil. Deixe uma mensagem para seus admiradores. O que eu gostaria de deixar registrado, e eu falo isso sempre para os meus alunos, é que quem tem um talento que Deus lhe deu, não o jogue fora! Outra coisa que sempre tive comigo é que ninguém é melhor que ninguém!Se eu cheguei aonde eu estou hoje, qualquer um pode chegar e até superar. Então eu falo para meus alunos escreverem sempre a frase "O verdadeiro vencedor nunca desiste!". Isso serve para um desenhista ou um vendedor de batatas! No começo da minha carreira, eu fazia faculdade de Engenharia em Buenos Aires, mas não tinha nada a ver comigo. Meus livros de trigonometria eram todos desenhados pelos cantos (risos). Eu gostava mesmo era de desenho! Então larguei tudo com 18 anos e tive a sorte que meu pai me apoiou, me sustentou e comprou todo o material de desenho pra mim. Devo isso a meu pai! E vou encerrar deixando mais uma frase pra juventude: "tudo é possível na vida. só depende de você!". Veja mais sobre Eugênio Colonnese na seção Os Imortais aqui.
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