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Por Gian Danton 01/11/2010 A tira Peanuts foi criada por Charles Schulz no início da década de década de 1950 e rapidamente tornou-se um sucesso, chegando a aparecer em mais de 2.600 jornais em todo o mundo, tendo um público leitor estimado em 355 milhões, em 75 países. Na década de 1970 o sucesso da tira levou ao surgimento do desenho animado, que era pessoalmente supervisionado por Schulz. Ao invés de descaracterizar a obra, o desenho ampliou-a para além dos limites dos quatro quadros diários. Conta-se que um psiquiatra, chegando ao seu consultório, encontrou um bilhete de seu primeiro paciente, dizendo que estava dispensando o tratamento médico, pois havia encontrado a causa de seus traumas. E ilustrava a situação com uma tira de Peanuts. A história, real ou lendária, ilustra a incrível capacidade que Schulz tinha de perceber os dramas e traumas humanos, sintetizando-os na figura de crianças. Umberto Eco disse que “a poesia dessas crianças nasce do fato de que nelas encontramos todos os problemas, todas as angústias dos adultos que estão nos bastidores”. Nessa história aparentemente ingênua, encontramos os mais variados tipos humanos e seus conflitos. Charlie Brown, o personagem principal, é o estereótipo do fracassado. Ele não consegue empinar uma pipa ou chutar uma bola. A única vez em que ganhou algo na vida, o prêmio foi um corte de cabelo. “Mas eu sou careca, e meu pai é barbeiro!” retrucou ele. Noutra ocasião, dançou com a rainha do baile, mas é incapaz de lembrar desse acontecimento. Se Charlie Brown é a bigorna, na qual batem todos os males e dissabores da vida, a menina Lucy Van Pelt, irmã de Linus, é o martelo. Sua vida é provocar traumas no pobre Minduim, mostrando a cada momento o quanto ele é incapaz. Sua tirada mais clássica é fazer Charlie Brown acreditar que finalmente será capaz de chutar a bola, para tirá-la no último momento. Interessante que, apesar disso, ninguém jamais pensa em culpá-la pela derrota do time. O culpado é sempre aquele que não conseguiu chutar a bola. Uma biografia escrita recentemente com o título de Schulz and Peanuts dá a entender que o próprio autor colocava suas neuroses nos quadrinhos, razão pela qual elas parecem tão reais. O autor descreve Schulz como um homem solitário, tímido e infeliz, dominado por figuras autoritárias, como sua primeira esposa e sua mãe, ambas representadas na personagem Lucy. Schulz se identificaria tanto com Charlie Brown, o fracassado, quanto com Schroeder, o músico. Este último seria o lado artístico, através do qual ele se libertaria da tirania da esposa. Sintomaticamente, outra cena famosa é a de Lucy tentando conseguir a atenção do pianista, que a despreza solenemente enquanto toca. Nesse sentido, Snoopy, provavelmente, representaria a liberdade criadora. Se Charlie Brown é o pé no chão, as tristezas e agruras da vida, Snoopy pode viajar o mundo e até mesmo ser um famoso piloto da I Guerra Mundial. Não por acaso, Charlie Brown é o personagem predileto dos adultos, que vêm nele seus traumas (a tirinha é a mais recortada, exibida e enviada a colegas nos EUA) e Snoopy é o personagem preferido das crianças pequenas, que ainda vislumbram na vida mais seus pontos positivos que negativos. Mesmo depois da morte do autor, as tiras de Peanuts (ou Snoopy) continuam sendo republicadas em jornais e coletâneas e encantando crianças e adultos. |
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