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Por Gazy Andraus 03/08/2010 Com base na metáfora espiritual da queda de Adão e Eva, ou como se exemplifica a partir da intromissão extraterrestre do monólito retangular, interferindo na psique dos primitivos, como visto no filme 2001, eis que surgem alguns exemplos nas histórias em quadrinhos do Surfista Prateado e do Poderoso Thor - este na versão do autor Stan Lee - , e de Super-Homem. Ao “descer” na queda paradisíaca, devido ao ingresso na mente do conhecimento racional e egóico, nós que éramos deuses (ou parte da divindade) nos tornamos apenas potenciáveis. Assim, os mitos e histórias que criamos são mecanismos que a mente forjou para resgatar e reaproximarmo-nos da origem, do paraíso perdido, quando a mente do homem era igual a de um animal, ou seja, sem livre-arbítrio, mas imerso na natura, portanto sem a consciência destacada. Nas histórias em quadrinhos há três heróis que foram criados (um, recriado), que são Surfista Prateado, Thor e Super-Homem, simbolizando a saga humana-divina. Thor e a metáfora do arrogante O deus nórdico Thor era arrogante, e, na versão de Stan Lee para as histórias em quadrinhos, seu pai Odin retirou sua memória e o colocou como um médico manco no planeta Terra, a fim de aprender a humildade. Pensando ter descoberto por acaso o martelo Mjolnir, o então médico Donald Blake divide seus afazeres entre a profissão e o super-heroísmo. Muito tempo depois, quando seu "carma" já estaria equilibrado e ele já se mostrava bem humilde e fraterno para com os outros humanos, Odin lhe redesperta a memória e o faz saber que ele não é um mero mortal que se torna um Deus, e sim um deus real que se tornara mortal, temporariamente. A meu ver, uma metáfora da espécie humana! Isso se coaduna com a frase "Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual...somos seres espirituais passando por uma experiência humana..." de Teilhard de Chardin. Nós “descemos”, e nos esquecemos de nossa origem...agora devemos nos relembrar! Surfista Prateado: o grito cósmico Norrin Radd morava num planeta em paz (no “paraíso”), mas veio o gigante Galactus, semi-deus devorador de mundos vivos. Para evitar a extinção de sua raça, propõe ser batedor de Galactus, e este aceita, transformando-o num ser de Prata (símbolo de pureza), com energia cósmica e uma prancha de mesmo material. Sua meta é encontrar planetas vivos, mas desabitados de vida inteligente. Fracassa em sua missão até encontrar a Terra. Galactus, prestes a devorar o nosso planeta, é impedido pelo Surfista e os 4 Fantásticos (que igualmente metaforizam os quatro elementos: o Coisa seria a terra; Sr. Fantástico, feito de borracha, portanto látex, moldável em qualquer lugar, representa a água; Moça-Invisível, o ar e Tocha-Humana, o fogo). Como castigo, Galactus abandona seu ex-arauto e batedor preso à atmosfera do planeta. Assim, mesmo com um poder inominável e uma vontade de retornar a seu lar pacato (paraíso perdido, novamente), o Surfista se torna o mais melancólico dos habitantes da Terra (o mais filosófico e existencial também), pois suas tentativas de sair deste planeta sempre fracassam. Ainda assim, tenta auxiliar os humanos, que geralmente o vêem como uma ameaça, sendo quase sempre incompreendido e temido. Semelhança em alguns pontos, portanto, ao que ocorreu a Jesus Cristo, em sua saga rumo ao martírio e à ressurreição. Super-Homem: potencial crístico realizável Por fim, o Super-Homem exemplifica a metáfora usada por Leonardo Boff acerca da águia e da galinha em seu livro homônimo. Clark Kent é um jornalista, utilizando pouco suas qualidades, que são ultra-humanas (incluindo a possibilidade de voar). Ele assim se porta, pois veio de outro planeta (a "queda" de novo), e não pode ser reconhecido, pois tem superinimigos que poderiam fazer mal a seus amigos humanos. Sua missão é a de se doar e ajudar a todos. Mas sua mente é limitada, pois fica preso aqui, e seu auxílio é baseado no sistema neo-liberal. Portanto, ele ainda é uma "galinha", como todo ser humano que não aprendeu a usar seu potencial cósmico (e que nem sabe que tem). Mas quando ele atua, deixa de ser momentaneamente galinha para se alçar como águia: porém, estas incursões são “escondidas”, e se dividem com outros momentos em que ele se “disfarça” de Clark Kent, ou seja, de humano, de “galinha” em potencial não realizado, ou em vias de se realizar. Ele simboliza, então, o ser humano que tem o potencial, mas o usa muito pouco, limitadamente. Para Boff, todo homem e mulher é como a partícula atômica: pode se portar como matéria ou como onda. Como matéria, está localizada num espaço-tempo. Como onda, esparge-se em quanta. São probabilidades de existir. Para o físico indiano Amit Goswami, a alma humana é onda, e o corpo físico em que ela está representada provisoriamente, é um momentum físico por ela escolhido para realizar sua evolução. Quando o corpo morre, a alma se porta exclusivamente como a onda novamente, e pode navegar até outro momento em que poderá ser escolhido um novo corpo físico. Assim, como estes super-heróis criados e metaforizados, todos nós agimos como galinha, mas escondemos (como superseres) uma identidade que devemos (re-) descobrir: a de que somos águia, quânticos, podendo voar (ascender em outros níveis), embora nem pensemos nisso por nos acharmos “galinha”: o potencial do homem hilo-holotrópico de Stanislav Grof!. Grof crê que a psique humana tem dois chaveamentos; o da consciência desperta normal, equivalente ao hilotropismo (significando aquilo que se move em direção à matéria), e o chaveamento do holotropismo (que significa mover-se ao todo, ao universo). A Física Quântica difere-se da clássica: na clássica, a luz é algo que se esparge em todo o lugar de uma vez, e toda ação tem uma reação contrária. As coisas funcionam como uma máquina mecânica, como peças de engrenagem. Através de experimentos com reflexão e refração de luz, descobriu-se que as partículas microatômicas se apresentam em duas possibilidades mensuráveis: como corpúsculos físicos mesmo, e também como freqüências de luz (nesse caso, em pequenos pacotes, os quanta, que dão a ilusão do todo da luz). Mas para se definir qual se apresenta, a escolha do pesquisador conta. Ou seja, a probabilidade e a tendência a se existir está para o desejo e a influência que o cientista vai escolher para a medição: pense que numa floresta está uma árvore que tomba, e não tem nenhum ser humano lá. A árvore faz ou não som, ao colidir no solo? Na verdade, embora ela faça o som, sem a consciência do homem como testemunha, o fato não se torna passível de reflexão. O enigma da micropartícula ser um paradoxo causou um grande problema aos cientistas, pois se tornou não respondível racionalmente: como pode uma coisa ser a outra ao mesmo tempo? E mais, descobriu-se que as coisas se influenciam, indepentemente de estarem próximas: é como se a distância não fizesse efeito. E a ciência fractal completou o jogo com seu efeito-borboleta: se um lepidóptero bate asas aqui perto, variáveis de detalhes podem corroborar para a pequena lufada de suas asas levarem a criar um tufão no Japão (isto seria o equivalente às influências que as pessoas têm sobre as outras: se eu começo uma pequena briga, talvez seja o causador de uma guerra, depois, sem saber disso. Por outro lado, se eu mantiver a amizade, a paz estaria assegurada). Enfim, a física quântica desbancou a lógica cartesiana clássica, ao propor que as coisas em realidade são átomos e elétrons (e outras micropartículas) em interação total em grandes espaços vazios. Os átomos de uma cadeira têm espaços entre si: o que os sustenta naquela configuração? O mesmo que sustenta a água e a luz: freqüências de vibração e interatividades atômicas, mas aparentemente conduzidas por uma inteligência que as permeia. Assim, a matéria não é mais o que se pensava. Ela tem vãos, vazios. E agora, para finalizar, o corte final: a mente não é fruto do cérebro. O cérebro é a "materialização" da mente, como a pedra seria a contra-parte da luz: tudo é luz, mas estágios diferentes de velocidade vibracional: a pedra é luz “coagulada”. Agora, o homem interfere na vida (lembre-se do pesquisador que precisa escolher se elege a onda ou a partícula). Nossa mente está alcançando uma consciência maior, cósmica, e já pode saber que interfere, e portanto precisa se abrir para algo novo: a doação de si mesmo, o sacrifício final, a entrega de seu livre-arbítrio, o poder crístico aflorando. É daqui que vêm nossas angústias e tudo o mais, retratadas nos personagens exemplificados das histórias em quadrinhos! |
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