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Arthur Okabayashi, um novo talento
Por Bira Dantas
02/08/2010

Muitos artistas começam a estudar arte cedo. Foi assim com os italianos Leonardo da Vinci e Michelangelo (aluno de Ghirlandaio). Assim também com os brasileiros Antonio Lisboa (o Aleijadinho), Anita Malfati, Portinari e muitos outros. Antigamente, agora e certamente, no futuro. Tenho visto vários exemplos de jovens profissionais que despontam cedo no mercado como João Montanaro (aos 12 cartunista da MAD e aos 13 anos, chargista da Folha de São Paulo) ou a Fabiane Bento (vulgo “Chiquinha”) que publicou a primeira vez no fanzine “Achumfri” aos 12 anos.

O fenômeno que gera esta precocidade, ainda não foi explicado pela Ciência, mas é o responsável pela inserção de ainda jovens futuros/grandes artistas. Foi assim com João Spacca, um dos maiores caricaturistas e quadrinhistas brasileiros que eu já vi. Ele começou a trabalhar em publicidade, aos 15 anos de idade, na agência Young & Rubicam do Brasil, fazendo storyboards de filmes. Outro que começou cedo foi o Marcio Baraldi, que publica há 27 anos, mas copiava desde criancinha os heróis criados por Stan Lee e a turma da Marvel.

Eu até escrevi sobre esse tenro momento da formação do artista aqui no Bigorna, enfocando a importância de se fazer cursos de Desenho, no sentido de se aprender o caminho com quem já conhece o caminho das pedras. Eu mesmo comecei cedo (15 anos, estágio no Mauricio de Sousa, 17 no Ely Barbosa e já me tornei assistente do Eduardo Vetillo). Com 20, fiz Editoração de Quadrinhos (ECA-USP) ministrado por Gual e Jal. Depois de adulto, fiz um curso de Design (Arquitech) e Pintura (Estúdio Paulo Branco). Hoje dou aula de Charge, Cartum e Caricatura na Pandora.

Mas esta introdução só serve para mostrar meu espanto ao ver os desenhos do Arthur Okabayashi.
Ele é amigo do Thom, que é amigo da minha filha Thaís (que com apenas 10 anos, também desenha bem, e cuida do tratamento digital e cor das minhas tiras do Tatu-Man). Eu fiquei surpreso com seus traços. Ainda em folhas pautadas, talvez arrancadas de cadernos de História ou Português. Ainda sem assinatura ou a preocupação em datá-los. O desenho estilo ficção-científica do Arthur, com robôs bem detalhados, cenários futuristas e bonecos bem-humorados, mostra uma maturidade de traço que extrapola os 12 anos de seu autor. Tem hora que me lembra Moebius (Incal), hora que lembra Tim Burton (O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra) e hora que lembra Bill Waterson (Calvin e Haroldo). De qualquer forma, me lembra que eu também já fui assim: um jovem desenhista cheio de idéias e com o sonho de virar um desenhista profissional.

Com um breve bate-papo com o Arthur (que o Thom já tinha me apresentado em carne-e-osso), descobri algumas coisas interessantes que gostaria de dividir com o leitor desta coluna. Ele sempre tem vontade de desenhar depois de ler livros como “A História sem fim” de Michael Ende ou “Aventuras de Alice no país das Maravilhas” e “Através do Espelho” de Lewis Carroll, com ilustrações magníficas a bico-de-pena, de John Tenniel.

“Quando era criança, assistia muito desenho animado de super-herói: Homem-aranha, X-men, Batman, mas eu adorava A Vaca e o Frango. Teve um momento que eu olhei pro Frango e resolvi criar um personagem de Quadrinhos: O “Punho de Galo”! Arthur tem uma família que investe na sua carreira artística. O pai (Pedro) é professor e ilustrador (assina POK). Foi ele quem apresentou os primeiros gibis para o filho. Tem coleções de Angeli, Laerte e talvez Alex Raymond (Flash Gordon). Certamente foi com o pai que ele aprendeu a magia das primeiras curvas e retas que, ao se juntarem, formam figuras incríveis. A mãe, Adriana, sempre investiu na sua carreira, cuidou da edição e impressão do primeiro gibi (Punho de Galo), que foi devidamente lançado num churrasco de família. Além disso, cada vez que o Arthur mostra um desenho ou personagem novo, ela como uma boa mãe-coruja, responde: “Está lindo!”

Ela foi responsável também pela sua breve passagem no curso de desenho da Escola Clack, em S. João da Boa Vista, interior de São Paulo. A participação familiar não para aí: a avó, Carmen, foi quem mostrou uma página em Quadrinhos do também precoce João Montanaro, na Folhinha e falou do recente Concurso da Folha (charge, cartum, quadrinhos e ilustração) mostrando o recorte de jornal. “Mas não tive tempo de fazer nada pra mandar”, lamenta o futuro artista.

Arthur gosta muito do Tim Burton e tem o Angeli entre seus cartunistas preferidos. Quando era pequeno, sonhava ser cartunista. Hoje, ele está dividido entre o desenho e o texto: “Gostaria também de ser escritor, tenho me dedicado a isso.” Talvez ele possa ser os dois. Ou muito mais. Os Quadrinhos têm se definido como uma forma de se falar do mundo, como o Cinema, a Literatura, o Teatro, a Dança, a Pintura.

Certamente quanto mais a gente lê, mais a gente aprende. Quanto mais aprende, mais quer aprender e melhor pensa sobre as coisas deste mundo. Ou de outros. E quanto mais a gente faz todas essas coisas, melhores ficam nossos Quadrinhos, pois mais teremos pra falar das coisas que a gente vê, ouve ou sonha. Por isso, parabenizo o Arthur e torço para que ele tenha este sonho bem concretizado, e em breve!
Disse o mestre Ziraldo: “um menino feliz vira um cara legal”. O cartunista e criador do “Menino Maluquinho” completou a programação de palestras da Expo-Literária dizendo “ler é mais importante que estudar”. Eu assino embaixo, pois lendo a gente estuda. E muito.

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