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Por Gazy Andraus 27/07/2010 Em quaisquer expressões artísticas é possível perceber um padrão universal, uma arquetipização cósmica, que se difere apenas nas roupagens. Algumas correntes antropológicas defendem uma mitologização básica comum, como percebeu Claude Lévi-Strauss e também Joseph Campbell. Este último, inclusive, ignorou a pequenez do rigor acadêmico cristalizado, e preferiu não mutilar seu senso interno, buscando ampliar suas pesquisas conforme seu coração pedia: quando optou por fazer seu doutorado, acabou não cursando-o, pois aquele que teria sido seu futuro orientador lhe pedira para restringir o campo de pesquisa e ação. Campbell mandou tudo às favas e criou um percurso que hoje, paradoxalmente, é trilhado por acadêmicos doutores! Ele também verificou que os mitos de vários períodos históricos, bem como de vários povos distintos, carregam, em seu íntimo, uma similaridade básica. Será que a origem do homem é realmente cósmica, divina, e parte de um período esquecido, ao qual o ser humano quer voltar, mesmo que não tenha consciência de como fazê-lo? Pois tenho uma teoria, baseada nestas mencionadas, e que pode ser ilustrada pelo início do filme 2001, uma odisséia no espaço, em conjunção à bíblia. Creio que, similarmente à gênese do homem bíblico, e sua posterior separação do “Paraíso”, há um liame que une tal fato ao monólito, cuja intromissão terrestre altera o curso de consciência dos primitivos hominidas do referido filme. Adão e Eva foram expulsos porque provaram do fruto proibido: metaforicamente este fruto seria o princípio do logos, da razão, descrito por Huberto Rohden. Ao criarem consciência de seu próprio ego, o casal começou a trilhar um caminho exclusivo do resto dos seres animais e vegetais, em que não mais respondiam automaticamente à energia cósmica (Deus). Este sentimento fez com que o “livre-arbítrio” abrisse uma nova via no caminho e no fazer do casal. Porém, enquanto agora haveria ação e pensamento próprios do homem, seu tormento por se sentir “órfão” também eclodiu, fazendo-o querer retornar, mesmo sem saber disso, e sem saber como. O “como” se materializou no fazer do ser humano em todas as instâncias, e mais ainda na elaboração da arte, das expressões em geral, e na comunicação. Mas esta comunicação tinha que ser gregária, perpetrada sempre a todos, como forma de difundir o sentimento interno que ainda habitava alguma região da mente do homem, de maneira que ele pudesse compartilhá-la. Tal sentimento interno deriva do conhecimento cósmico, o qual jazia no homem de forma não percebida. E daí por diante, passa a ser mitologizada, nas mais diversas formas e vestes, mas com um liame em comum! No filme 2001 a mesma “queda” que ocorreu na bíblia, se dá: os hominídeos convivem de forma natural, até que surge um gigantesco monólito, cuja forma retangular simboliza o princípio da racionalidade, do eu-ego, do pensar de forma destacada. Assim, a partir desse contato, os primitivos têm sua mente alterada, passando de um estágio mais inconsciente a outro com livre-arbítrio (como exemplo, eles criam a “ferramenta” com a utilização do osso como arma). Adão e Eva, com o erguer da consciência destacada, fizeram despertar igualmente o ego-razão, separando a mente intuitiva daquela que prioriza sua própria vivência imediata, fazendo eclodir seus desejos, assim como aconteceu com os hominídeos de 2001. O resultante disso tudo, são as próprias metáforas apresentadas na bíblia e na realização do livro e filme de Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick. São também resultado desta mudança consciencial, as primeiras manifestações de se comunicar, com sons grunhidos, e expressões do corpo, bem como através de tintas e desenhos. Mas é também através do que o homem vê pelos olhos – limitados pelo alcance físico da própria visão -, que lhes vêm as histórias em quadrinhos, a câmera dos cinemas e a das fotografias (fig. 1). E todas as epopéias humanas contadas em desenhos, pinturas, esculturas, literaturas, filmes e obviamente, os quadrinhos (fig. 2) resultam dessa vontade de retornar...bem como o próprio desenvolvimento da ciência, fruto do pensar-ego-razão também o é! Assim, as histórias em quadrinhos se apresentam como das primeiras manifestações de arte e comunicação (as “narrativas” das cavernas), e como parte do arcabouço mitologizador da humanidade, como forma de se propagar histórias, imaginários, imagens e movimento. Esta arte seqüencial, como quaisquer formas de arte e expressão, comunicam e repetem metaforicamente os mitos, cuja base original reside n´algum lugar de nossas mentes intuitivas, que buscam o retorno para o seio da natureza-divinizada. E no desenrolar desse contexto, elas, as HQ, trazem também desenhos, cada quais com estilos pessoais, embebidos de autoralidade na base do ego-razão de cada pessoa que as executam...mas também com base no auscultamento da mente-intuição, que reside universal a todos nós. Este, por exemplo, é o caso de algumas criações no universo quadrinhístico, como os super-seres da mitologia norte-americana, simbolizando e metaforizando o alcance da alma de cada um de nós, meros mortais no aspecto físico, mas imortais no psíquico-mental cósmico. Mas isso será outro artigo!
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