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Por Eduardo Manzano (com colaboração de Marcio Baraldi) 08/07/2010 “Eu criei a Velta para afrontar todas as regras estúpidas existentes! E ela continua revolucionando!” Eram quase 18 horas de uma tarde esfumaçada e típica de São Paulo, o céu ameaçava escurecer, ao som dos primeiros trovões. Assim iniciei a discagem dos números para falar com um dos nomes mais importantes do Quadrinhos Brasileiro, Emir Ribeiro: roteirista e desenhista criador de Velta, a maior Super-heroína do Brasil, e de uma galeria rica de personagens que compõem um universo todo próprio e que ganharam vida em fanzines, revistas, jornais e até em filmes! Emir Ribeiro é o exemplo máximo do “Faça você mesmo”, muito antes da expressão virar moda na boquinha dos revolucionários de boutique! Há mais de 30 anos produzindo quadrinhos no Brasil, fez carreira em diversas editoras, experiência que o levou a também trabalhar para as poderosas Marvel, DC, Image, Malibu, entre outras, mais precisamente como o onipresente arte-finalista do virtuoso Mike Deodato. Considerado Mestre do Quadrinho Nacional por veículos e jornalistas especializados, Emir, inexplicavelmente, ainda enfrenta o preconceito de algumas pessoas, o que felizmente não macula sua carreira, que é vista como exemplo por milhares de fãs e admiradores espalhados pelo Brasil e ao redor do mundo. A conversa franca e honesta se desenrolou por cerca de uma hora e meia, pois este paraibano desbravador e corajoso, fala sem medo e sem reservas! Confiram a seguir. 1 - O mercado de quadrinhos hoje cresceu horizontalmente, ou seja tem um número maior de publicações, mas, todas com públicos e tiragens menores. Essa segmentação de mercado faz com que cada estilo, cada artista, tenha seus seguidores específicos. Você encontrou seu segmento e é respeitado dentro dele. Você, enquanto quadrinhista nacional, se sente com a sensação de dever cumprido? Claro, me sinto sim. Mas ainda há muito por fazer, portanto o dever foi cumprido até a etapa mais recente. Mas, ainda há muitas etapas a serem vencidas. 2 - Você é um dos poucos artistas brasileiros que criou uma mitologia bem trabalhada e que evolui com seus personagens, inclusive sendo um dos pioneiros a usar diversas temáticas brasileiras e regionais, como cenários da Paraíba em suas HQs, por exemplo. Do que você produziu até agora, o que mais lhe dá orgulho? E o que mudaria em seu universo de personagens, se pudesse voltar no tempo? Humm... Difícil dizer! Geralmente, os trabalhos mais recentes e com novidades, são os que me dão mais orgulho, naquele momento. Quanto ao meu universo de personagens, ele segue em sua evolução. Se eu voltasse no passado não faria nada diferente do que fiz, uma vez que cada etapa que eu passei tem as características da minha idade e das minhas condições na época. 3 - Sua passagem pelas editoras Marvel, DC e Image é conhecida por todos. Em que estas passagens influenciaram seus próprios quadrinhos? Você ainda faz alguns trabalhos para editoras estrangeiras? Não. Parei de trabalhar para as editoras em 2006, quando “entornei o copo” com a prepotência dos editores gringos. No momento, mantenho os trabalhos que faço sob encomenda para leitores, que me dão pouquíssima dor de cabeça, e cuja grana serve para imprimir minhas edições independentes. Com relação às influências, creio que se limitou apenas à parte técnica, pois, trabalhando para o mercado americano aprendi a me deter mais nos detalhes dos desenhos. No mais, continuei fazendo o que já fazia antes, mesmo porque não tenho interesse algum em incorporar mais qualquer tipo de influência dos quadrinhos de super-heróis estadunidenses no meu trabalho; muito pelo contrário, quero seguir exatamente o oposto das diretrizes deles. 4 - Alguns tipos vivem dizendo que você adotou o “estilo Image” de desenhar, com mulheres gostosonas, pernonas grandes, e com muita pose e exibicionismo. O que tem a dizer sobre isso? Que tais pessoas são desinformadas e não sabem a asneira que estão falando! É só ir nos arquivos antigos dos jornais de João Pessoa, aqui na Paraíba, nos quais publiquei meus quadrinhos desde a década de 70 do século passado e confirmar: EU SEMPRE tive esse estilo! E sempre gostei de desenhar mulheres grandonas com pouca roupa! Portanto, comparando com a tal Image (surgida nos anos 90), eu comecei PRIMEIRO! A história e os arquivos antigos estão aí para provar. 5 - Aliás, você tem acompanhado os filmes-adaptações de super-heróis no cinema? O que acha deles? Não assisto mais esse tipo de filme há quase 20 anos, pois não me interessa em absolutamente nada! Algumas pessoas ainda pensam que continuo a curtir esse gênero, e chegaram a me emprestar alguns desses filmes. Para não ser mal educado, aceitei, e confesso que até tentei assistir; mas, em três deles, não tive paciência para chegar nem no meio do filme. Vi até o fim apenas um deles, mas torcendo para que terminasse logo. Não vou a cinemas, nem a locadoras a procura de tais filmes, porque não me despertam mais interesse algum. Desse mal, estou definitivamente curado (risos)! 6 - Segundo alguns críticos de quadrinhos, os desenhistas que trabalham para as editoras americanas não fazem realmente arte, apenas , a exemplo dos maneiristas da pintura, reproduzem um estilo estereotipado e repetitivo, o qual não deixa brechas para desenvolver um estilo próprio. Você concorda com isso? Concordo plenamente! Mas, os desenhistas não tem culpa, os editores americanos mandam que assim seja! A ordem é que é preciso acompanhar quem está na moda, copiar esse padrão da moda, até surgir a próxima moda! Não existe o direito a se ter um estilo próprio! Portanto, isso deixou de ser arte e passou a ser puro comércio e mercadoria. A verdadeira arte está no quadrinho autoral, em que o artista tem 100% de liberdade para criar e não se submete aos ditames do “mercado” e nem a chiliques de editor arrogante! 7 – Você acompanha o material da Marvel e DC atuais? Qual sua opinião sobre elas hoje em dia? Não tenho a menor idéia do que está saindo atualmente, pois parei de comprar essas revistas há muito e muitos anos! Tal como os filmes de super-heróis estadunidenses, meu interesse também caiu para zero com relação às revistas. Podem matar e ressuscitar os heróis a vontade que nenhum tipo de apelação que utilizarem me fará voltar a comprá-los (risos)! 8 – Você sempre recebeu elogios de profissionais inquestionáveis do Quadrinho Nacional, como Watson Portela, Shimamoto, Sebastião Seabra e Mozart Couto (só para citar alguns grandes), mas ao mesmo tempo você sofre uma série de críticas e ataques via Orkut e Blogs na internet, por parte de leitores de HQ americanas, que não gostam de Super-Heróis Brasileiros. Na sua opinião, porque isso acontece? Isso não é crítica, mas sim, puro vandalismo virtual, coisa de gente desocupada e sem nada de positivo na cabeça! A única explicação para essa tentativa de rebaixar autores nacionais só encontra um tipo de explicação: as mentes infantis desses “críticos” me vêem como uma espécie de ameaça aos seus queridos quadrinhos de super-heróis norte-americanos. Ou seja, é uma idéia distorcida e fantasiosa que se forma na psiquê doentia e infantilizada dessa gente. Portanto, não é coisa a ser levada em consideração e muito menos a se dar qualquer atenção. Além dos conceitos deturpados, esses “críticos” não lêem as histórias, preferindo emitir “opiniões” baseadas na aparência, no “ouvir dizer”, ou em antipatias pessoais. Portanto, repito, não devem ser levados a sério. Prefiro levar a sério os grandes mestres brasileiros. 9 - Nos anos 60 e 70, muitos heróis nacionais eram quase meras cópias dos estadunidenses, devido a exigências de editores da época. Mas, hoje temos centenas de heróis brasileiros consistentes, nos mais variados estilos. Na sua opinião, como deve ser um Super-Herói brasileiro, afinal? Acho que o super-herói brasileiro deve ser absolutamente diferente do estereótipo norte-americano. Acho que poderíamos mudar todos os componentes que caracterizaram o gênero. Na minha opinião, hoje em dia, um herói não precisa de fantasias, capas, nomes pomposos, pose de punho cerrado e cara de mau... Assim como nem precisa de poderes, para ser sincero!... 10 – Então é por isso que você tem direcionado seu trabalho para cada vez mais longe do estilo Super-Heróis, e tem feito aventuras mais realistas e com conteúdo detetivesco... Exato! Acho bem mais interessante do que uma luta boba e sem fim entre dois personagens para que um ou outro determine quem é o mais forte dos dois. A parte dramática e os conflitos pessoais me interessam mais, pois, são elementos que se vê na vida real. Meu trabalho está direcionado nesse sentido, agora. Meus personagens podem até ter poderes, pois na época em que foram criados foram assim dotados, mas, os usam cada vez menos. 11 - Que tipo de quadrinhos você lê hoje em dia ? Conforme lhe disse antes, estou lendo pouquíssimo ou quase nada de quadrinhos! Ando acompanhando os lançamentos da Júpiter II. 12 - Sua postura tem sido a de cada vez mais lançar material por conta própria, ou seja, ser totalmente independente. Mas, caso surgisse uma oportunidade, você lançaria algo por uma editora “grande”? Poderia lançar, dependendo de quem estivesse à frente do projeto, na tal editora. Não me atreveria a negociar com desconhecidos. Mas, duvido muito que alguma delas me contate, mesmo porque todas tem ciência de que não irão lidar com alguém que abaixa a cabeça e diz amém a qualquer proposta indecente. 13 - As más línguas da internet vivem dizendo que você se considera injustiçado e perseguido pelas editoras. Isso é verdade, afinal? As tais más línguas adoram distorcer minhas palavras e espalhar notícias falsas para causar mal estar. Quem quiser saber o que eu realmente penso e faço basta ler minhas entrevistas em locais sérios. Acredito não em injustiça comigo, mas, com toda a HQ Nacional, pois são raros os editores dispostos a investir e formar público novo nesse segmento. A “preferência” é sempre por utilizar material importado, que teoricamente dá retorno financeiro mais rápido, além de ser coberto por uma fortíssima malha publicitária. 14 - A que você atribui essa predileção pelo material importado, em detrimento do Quadrinho Nacional de qualidade? Isso é produto de uma sequência de erros acumulados por décadas! O editor não investe no material nacional e não cria público para este, que se mantém constantemente alimentado com o produto importado. Já o produtor de Quadrinhos Nacionais peca mortalmente por consumir esse produto importado e fazer divulgação inocente do mesmo. O leitor comum, vendo que o produtor local é ávido consumidor do seu próprio concorrente (os quadrinhos importados/traduzidos), percebe que o quadrinhista brasileiro não tem moral alguma para pedir que sejam consumidos seus próprios produtos, já que ele próprio não consome os dos seus colegas nacionais. É bom frisar que não falo especificamente de ninguém, mas sim, de boa parte dos quadrinhistas nacionais, que adota essa postura. O resultado é o que vemos: a classe quadrinhística Brasileira é desvalorizada por si própria! E claro que editor algum vai investir em derrotados natos, assim como os leitores manobrados pela máquina publicitária das grandes indústrias, vão preferir sempre quem tem mais força e apelo mercadológico, que são os enlatados estrangeiros. 15 - Então, você acha que no fim das contas os editores não tem tanta culpa assim? Tanto o editor quanto o quadrinhista nacional têm suas respectivas parcelas de culpa. Mas, quem começou todo esse círculo vicioso nefasto, foi o editor. Não é nenhuma surpresa, pois, no geral, os donos da editora, que são empresários a quem só interessa o lucro rápido, escolherão para a editoria aquele que cumpra a função de trazer um bom dinheiro para a editora (e no menor tempo possível) sem se importar muito com o produto lançado. 16 - E qual a sua opinião sobre esses editores? Fica difícil generalizar, pois cada um tem sua estratégia e motivações próprias. Mas, é fato público e notório que, na maior parte, mesmo biológica e aparentemente adultos, os escalados para a editoria quase sempre são pessoas bitoladas com visão fixa em um único modo de trabalhar. Com a cabeça ainda em estágio infanto-juvenil, presos a um estado crônico de extremo deslumbramento com as pantomimas dos super-heróis estadunidenses. São curtidores doentios destes quadrinhos americanos! Para lhe dar uma idéia do avançado grau de infantilização e do ridículo dessa gente, circulou um papo na internet que, numa certa rodinha de conversa, um empolgado e alegre editor teria dito em alto e bom som que “gostaria de ter nascido americano e viver nos EUA”. Veja: um sujeito velho, barbado, aparentemente esclarecido, dizer semelhante “pérola” só mostra o grau de pobreza mental de quem é posto para editar revistas no Brasil. Se ao menos fosse um adolescente desmiolado de 15 anos de idade, haveria um atenuante, mas, isso sendo dito por alguém com mais de 30 anos, já dá para se deduzir o que virá de um cérebro em semelhante situação... 17 - Certamente este suposto editor não daria espaço para quadrinhos nacionais em alguma publicação dele. Claro que não! Ou pode até dar, para passar uma falsa imagem de bom moço, eclético ou democrático. Mas, no fundo, ele quer apenas divulgar o tipo de quadrinho americano pelo qual é viciado. Assim, o artista brasileiro não publica, não ganha experiência e nem evolui, ficando restrito aos fotologues da internet. E sinceramente, na minha opinião, se não houver trabalhos do artista numa revista impressa, efetivamente, ele não publicou ainda. Penso que para os quadrinhos é imprescindível serem publicados na mídia impressa! 18 - Então, você crê que não há saída através das editoras tradicionais? Para mim, não! O estrago causado já foi grande demais para ser reparado. Não há mais nada a esperar delas e tomei consciência disso há mais de dez anos, quando decidi que não entraria mais em contato com nenhuma delas! Ademais, meus leitores não estão entre o público consumidor dessas editoras. Por isso, também há muito desisti de tentar encontrar público novo, ainda mais dentro de fãs do material importado “de sempre”. Quem faz a diferença agora são os lançamentos independentes, feitos fora dessa mídia viciada! 19 - Fale-nos um pouco de suas últimas passagens por grandes revistas como Metal Pesado e o material lançado pela editora Escala. No caso da Metal Pesado, na época (final dos anos 90), foi o Leon Azulay quem fez contato comigo, e foi muito correto em toda a negociação. Quanto à Escala, lembro que demorou um pouco para pagar, mas pagou sem maiores problemas. No caso da Escala, o trabalho foi intermediado pelo velho amigo Franco de Rosa. Na editora, foi praticamente a primeira publicação da Velta a nível de massa, com grande tiragem. Tratava-se da coleção “Graphic Talents”, a qual apresentava um artista e um estilo diferente a cada número. Os que vendessem melhor, teriam – teoricamente - título próprio. Mas, talvez tenha sido essa pluralidade de estilos a causa da derrocada da coleção, pois, a cada número, o expositor colocava-a num canto diferente, e a procura do público se dificultava. Seria preciso um olho bem treinado para achá-la nas bancas. Mas, mesmo assim, as notícias que recebi de amigos, leitores e correspondentes foi de que a revista estava sumindo das bancas com facilidade. Sinal que estava vendendo muito bem. Seja como for, a Editora nunca me deu números das vendas e parou não só com a “Graphic Talents”, como com qualquer futuro lançamento dos personagens apresentados nela. As más línguas de sempre - essa gente que adora puxar saco de quadrinhista estrangeiro e esculhambar com os nacionais - espalharam boatos de que a Velta teria vendido mal. Eu quis tirar isso a prova! Liguei para o setor onde estoca encalhe das revistas da Escala e comprei 100 exemplares para vender a leitores e amigos que não haviam conseguido nas bancas. Aproveitei para manifestar um suposto interesse em comprar mais 5 mil exemplares para vendê-los junto com um determinado jornal aqui do meu Estado. E para minha surpresa, a funcionário que me atendeu disse que dispunha de apenas 900 (novecentos) exemplares de encalhe, e que se eu quisesse os 5 mil, teriam de REIMPRIMIR!!! Ou seja, a Velta VENDEU MUITO BEM em qualquer hipótese! Vejam: se na hipótese mais pessimista foram impressos apenas 5 mil exemplares, então foram vendidos 4.100 (Quatro mil e cem) - um excelente percentual de vendas para uma revista nacional. Mas, houve quem me dissesse que as tiragens eram de 15 mil, e se assim foi, vendeu 14.100 (Quatorze mil e cem). Sendo assim, porque então a Velta não continuou pela Escala ?!? Este é mais um dos mistérios dos Quadrinhos no Brasil... 20 - E sua atual parceria com a editora independente Júpiter II ? O José Salles (dono da Júpiter II) é amigo meu há quase 30 anos e era inevitável que saísse algo meu pela editora alternativa dele. Vez por outra conversamos e trocamos idéias sobre projetos a serem publicados e o mais recente deles é a mini-série em duas edições do encontro entre Velta e Mirza (do saudoso Eugênio Colonnese). 21 – Legal!!!E quais são seus próximos lançamentos independentes? O mais imediato é o especial comemorativo dos 35 anos de Itabira, personagem que começou a aliar aventura com transmissão de conhecimentos didáticos sobre a história do meu estado. Depois, deverá sair uma outra edição – esta colorida – com todas as capas das revistas esgotadas e publicadas entre 1978 e 1993. E por fim, no final do ano deverá sair o especial dos 40 anos de criação da bizarra Doroti, a vilã que mais deu trabalho à Velta. Para 2011, está programado o especial dos 35 anos da ruiva cibernética Nova. 22 - O Nordeste há tempos tem sido celeiro dos mais interessantes fanzines do Brasil, bem como de grandes desenhistas de quadrinhos. Você foi um dos que pavimentou a estrada para todas as novas gerações... E me diverti bastante, assim como também publiquei muito nos jornais locais! O começo de tudo foi um tempo fantástico, em que se abria espaço aos montes para quadrinhistas locais. Só não aproveitou quem não quis! Muita gente boa apareceu naquela época, só que a maioria migrou para outras áreas, visto que quadrinho dificilmente sustenta a família de artistas do Brasil. 23 – E a Lei dos 50% de quadrinhos nacionais ? Você considera uma boa idéia ou uma barca furada? Humm... Sinceramente, acho que não funcionaria em um país onde as leis não são obedecidas, e sempre há um “jeitinho” de burlá-las. Com certeza, seria uma boa idéia, se os tempos fossem outros. Hoje, não vale nem a pena ser discutida, pois não acredito que seria cumprida mesmo. Infelizmente... 24 - Sem medo de ferir egos sensíveis, quais os melhores artistas do Quadrinho Nacional e quais os melhores quadrinhos atualmente em sua opinião? Não é segredo para ninguém que sou fã do traço maravilhoso do Mozart Couto, e ainda mantenho essa opinião, atualmente! Mas, gosto de muito outros, também, como Watson, Seabra, Colonnese, Zalla, Deodato, etc. É uma pena que poucos sejam publicados. Com relação aos quadrinhos atuais, estou lendo muito pouco, por pura falta de tempo, excesso de responsabilidades e de tarefas. Não saberia dizer quem está se sobressaindo atualmente. 25 – Você acha que ganhou prêmios suficientes por todos esses 35 anos de carreira? Ou merecia ter ganho muitos mais? O que você acha dos três prêmios do Mercado de HQ Nacional (Angelo Agostini, HQ Mix e Bigorna)? Falando matematicamente, em se tratando dos meus mais de 35 anos de trabalho na área, de fato, acho que recebi poucos prêmios. Entretanto, nunca fiz muita questão em receber troféus, mas valorizo todos os que recebi. 26 – Você acredita que autores do Norte e Nordeste brasileiro são meio esquecidos pelo Sul Maravilha, inclusive na hora das premiações? Os artistas do Sul estão mais próximos dos locais onde estão concentradas as grandes empresas de divulgação. Portanto, usando esse parâmetro, a facilidade deles aparecerem é bem maior. 27 – Você é um autor que sempre trabalhou de forma independente, autofinanciando e autoeditando seus próprios livros. E mesmo assim, consegue lançar muito mais obras que muito autor dependente de outras editoras ou de terceiros. Será que no fundo, ser independente não é a melhor coisa para um artista que exige ser dono de sua própria obra (como você) ? Você se arrepende em algum momento de sua trajetória independente? Na atual – e mendicante – situação do quadrinho brasileiro, ser independente é muito melhor, pois permite uma liberdade total de produção, sem estar na espera de um dia de bom humor de algum editor, ou que este não censure ou mande modificar as HQ’s que o artista produz. Em se tratando do que ocorre no nosso praticamente inexistente mercado de quadrinhos locais, não me arrependo de haver escolhido a independência. 28 - Muita gente acusa os super-heróis brasileiros de meros plágios dos americanos, mas, a Velta é uma personagem bastante original, sem dúvida! Ela surgiu muitos anos antes da Mulher-Hulk, por exemplo. Você acha que a crítica brasileira já percebeu toda a originalidade da Velta e já entendeu o artista Emir Ribeiro? Ou acha que, a exemplo do Flávio Colin (outro autor original e pouco compreendido ), só vão lhe dar valor depois de morto? Eu torço pra que isso não aconteça comigo, mas sei que infelizmente a realidade é bem outra. Para falar a verdade, não creio que exista “crítica” de quadrinhos no Brasil. Existem muitas pessoas METIDAS a criticar; mas, no fundo, apenas externam uma opinião baseada em suas preferências pessoais. Ou seja, quem não se enquadrar nas suas preferências, será malhado impiedosamente. Não espero que essa gente entenda a Velta, assim como nem me interesso que me entendam também. Não adianta esperar mais das pessoas além daquelas reações limitadas que elas têm e sempre terão. Mesmo tendo criado a Velta com 14 anos de idade, fortemente influenciado pelas histórias norte-americanas de super-heróis, já naquela época, fiz questão de me contrapor ao estabelecido e à censura da ditadura militar. O tal “Comics Code”, que está entranhado ainda hoje na cabeça dos editores e da maior parte dos leitores, dizia que os heróis tinham de ser pudicos, recatados e fazer o bem gratuitamente e sem olhar a quem. Então, fiz a Velta cobrando grana para atuar, sendo muito exibicionista e fazendo uso de roupas sempre curtas e sensuais, numa afronta à censura idiota e o tal código de regras morais. Também com o intuito de sair do comum, coloquei uma mulher como protagonista, quando a maior parte das HQs da época eram estreladas por homens musculosos, que sempre salvavam suas namoradas e mocinhas dos vilões. Com a Velta, isso se inverteu: era ela quem salvava os homens e com uma personalidade forte e independente num corpanzil voluptuoso. Enfim, eu criei a Velta há 37 anos para afrontar todas as regras estúpidas existentes e ainda hoje ela cumpre esse papel, deixando os metidos a críticos raivosos e querendo deprecia-la a qualquer custo. Ou seja, em pleno século XXI, ela continua revolucionando, tal como eu sempre quis! 29 - Se o gênio Alakazam lhe concedesse três desejos, o que você pediria? Acho que eu só pediria ao gênio um desejo: que todas as pessoas do mundo passassem a agir com mais honestidade, racionalidade e lógica. Apenas com isso, esse mundo já seria um lugar bem melhor de se viver! 30 - Para encerrar, quem é Emir Ribeiro, afinal? Apenas um sujeito que sempre quis fazer o que é certo e que gosta muito de produzir e criar para seu público consumidor. |
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