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Eugênio Colonnese
Por Roberto Guedes e Marcio Baraldi
29/06/2010

O Mestre das HQs nacionais e mundiais, Eugênio Colonnese, faleceu dia 8 de agosto de 2008, às 5h da manhã, em São Bernardo, no ABC paulista. Como noticiado aqui, Colonnese sofreu um AVC em junho. Levado às pressas para o Hospital Itacolomy em São Bernardo, o derrame conseguiu ser contido e o artista já apresentava melhoras e expectativas de ser liberado para sua casa. Nesta ocasião, Colonnese, que estava lúcido e bem-humorado, chegou a receber visitas e telefonemas de vários amigos e colegas de profissão. Entretanto, uma série de outros problemas de saúde começaram a se manisfestar, colocando Colonnese numa situação grave e delicada.

Primeiro sua perna direita sofreu uma trombose, gangrenou e precisou ser amputada. Na seqüência foi vítima de infecções pulmonares, o que o deixou extremamente fraco e debilitado. A solução para o artista não sofrer foi induzi-lo ao coma e alimentá-lo via tubos, esperando uma melhora de seu organismo. Colonnese ficou nessa situação, inconsciente, quase dois meses. Mas infelizmente seu organismo, deteriorado pelo uso maciço de cigarro por seis décadas, já estava comprometido demais e não conseguiu se recuperar. Colonnese faleceu dormindo e não sofreu. Ele faria 79 anos dia 3 de setembro.

Através de uma carta de apresentação do desenhista português Jayme Cortez ao lendário Adolfo Aizen, presidente da Editora Brasil-América (a saudosa EBAL); o ítalo-brasileiro Eugênio Colonnese conseguiu publicar sua primeira história em quadrinhos, aqui no Brasil. Tratava-se da adaptação de Navio Negreiro – um poema de Castro Alves. Essa histórica quadrinização foi publicada em julho de 1957 na revista Álbum Gigante, de grande popularidade, na época.

Na ocasião, Colonnese vivia na Argentina, onde havia publicado seus primeiros trabalhos (como o personagem Ernie Pike), e colaborado com a revista El Tony. Fazia parte de uma geração grandiosa de quadrinhistas, figurando ao lado de Alberto Breccia, José Luis Salinas, o chileno Arturo del Castillo e o italiano Hugo Pratt. E mesmo com toda essa efervescência de estilos e qualidade artística, o traço acadêmico de Colonnese se destacou, chamando a atenção dos ingleses. Logo ele estaria produzindo material de guerra para a revista Tide War, da conhecida Fleetway Publications. Sua arte clássica, aliada ao minucioso trabalho de pesquisa realizado com vestuário, armas etc., fez com que fosse premiado com o With Compliments – um importante prêmio inglês.

Mas Colonnese ainda estava impressionado com o Brasil, terra natal de sua mãe, e com a idéia fixa que aqui havia todo um mercado a ser devidamente “desbravado”. Com a criação do Código de Ética nos EUA, que cerceava a criatividade e, conseqüentemente, a qualidade dos quadrinhos ianques, uma procura maior por autores e obras nacionais tornou-se patente. Sendo assim, em 1964, Colonnese já estava definitivamente estabelecido em nosso país. E logo, sua presença foi sentida. Com experiência e profissionalismo internacional, faria “escola”, a partir de então. Começou colaborando com a Editormex, onde produziu quadrinhos de romance, muito em voga naquele período. Mas a sua já notória fama o levaria a colaborar para as mais diferentes editoras do país: Outubro, GEP, Jotaesse, Graúna, Prelúdio e Saber, entre outras mais.

Em 1967, na ocasião do lançamento dos Super-Heróis Marvel no Brasil, aqui batizados de “Heróis Shell”, devido ao patrocínio dessa rede de postos de gasolina na 4ª capa das revistas da EBAL, e também nos intervalos dos desenhos na TV Bandeirantes; um verdadeiro “levante” de heróis brasileiros tomou de assalto as bancas do país. De súbito, todo mundo passou a criar super-heróis! Colonnese, sempre atento, não poderia ficar de fora, e produziu uma gama variada de heróis mascarados, seguindo o molde norte-americano. De sua mente fértil, saíram: Superargo, Gato, Pele de Cobra e Mylar “o Homem-Mistério” – talvez, o mais famoso deles. Ainda produziria o X-Man (nada a ver com os mutantes de Stan Lee e Jack Kirby), para o Suplemento de Quadrinhos, de Álvaro de Moya. Uma verdadeira raridade!

Como as revistas de terror ainda eram muito populares no Brasil, o editor da Jotaesse, José Sidekerskis, sugeriu que o desenhista criasse um novo título de vampiros. Assim, ainda em 1967, nasceu Mirza “a Mulher-Vampiro”. A idéia provou ser muito boa, pois, dois anos depois, o editor norte-americano James Warren lançaria Vampirella, a sansuessuga alienígena de biquíni vermelho. Mas a primazia de uma bad girl vampira pertence mesmo a Sidekerkis e Colonnese (e de tabela, ao roteirista Luis Meri).

Na década seguinte, Colonnese acabou se afastando dos quadrinhos, e foi trabalhar com ilustração de livros didáticos, após seu amigo de longa data Rodolfo Zalla, o convencer que, assim, poderia ganhar muito mais dinheiro que nos quadrinhos. Embora suas HQs tivessem uma boa saída, o serviço era dobrado e o pagamento não fazia jus ao nível da produção. Trabalhou então, como diretor de arte na Editora Saraiva e, posteriormente na Editora Ática. Nos anos oitenta, voltaria a produzir quadrinhos, paralelo às suas funções na Ática, atendendo a vários pedidos dos amigos, fãs e claro, do próprio coração.

A partir deste novo milênio, a Opera Graphica passou a editar vários álbuns com trabalhos do desenhista (Espírito da Guerra, Mirza: A Vampira e Morto do Pântano, entre outros); enquanto Colonnese continua em plena atividade, transmitindo seu conhecimento e experiência aos alunos da ESA (Escola de Artes de Santo André). Uma carreira irrepreensível!Descanse em paz, Mestre! E obrigado por tudo que fez pelo Quadrinho Brasileiro!

Mais sobre Colonnese no Bigorna pode ser lido aqui.

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