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Entrevista: Walter Vetillo
Por Bira Dantas
14/06/2010

"O Brasil têm muitos personagens interessantes. Mas infelizmente, graças a nossa baixa estima, eles passam em branco!"

Tive o prazer de travar contato com o trabalho de Walter Vetillo através dos roteiros que ele escrevia para o Estúdio Ely Barbosa, onde eu trabalhava como um dos desenhistas da revista dos Trapalhões, na fase da editora Bloch. Walter fazia roteiros para o gibi “Festival HB”, só com personagens da Hanna-Barbera, produzido pelo Estúdio do saudoso Mestre Ely e publicado pela então editora Rio Gráfica (atual Globo).

Seu irmão, Eduardo Vetillo, também é velho de guerra no ramo, só que desenhista. Tive o prazer de iniciar minha carreira, ainda adolescente, como assistente do Eduardo. Aliás, foi ele que me indicou para o gibi dos Trapalhões, no Estúdio do Ely, onde acabei conhecendo o trabalho de seu irmão roteirista. Pois voltando ao Walter, ele escreveu para a editora Escala Educacional os livros paradidáticos “Zumbi dos Palmares”, “Maria Quitéria”, “Cabral” e “Tiradentes”, todos ilustrados em lindas aquarelas pelo Eduardo. Publicaram juntos também, pela FTD, “A Grande Viagem”, que narra a descoberta (e invasão) do Brasil pelos portugueses.

Mas foi na Editora Cortez que ambos voltaram a produzir Quadrinhos, e em grande estilo: fizeram uma maravilhosa adaptação de “O Guarani”, de José de Alencar. Pela mesma editora adaptaram a “Ilha do Tesouro” de Robert Louis Stevenson. E acabam de lançar pela Brasiliense "Fawcett, o Mistério do Roncador". Enfim, são tantas histórias pra contar que é melhor passar logo a bola pro craque.

1 - Bom dia, mestre Walter! Posso perguntar sua idade? Onde nasceu?

Bom dia, Bira! Sou um escorpiano, nascido do dia 12/11/1942 nesta Paulicéia Desvairada, que eu amo de paixão. No mais, estou com 66 anos bem vividos.

2 - Qual é a sua formação acadêmica?

Formei-me em Economia pela USP, mas não segui a profissão, pois não era minha praia. No último ano da faculdade me lancei numa aventura e embarquei em Vitória, no Espírito Santo, num cargueiro sueco, como aprendiz de marinheiro. Fui para Dinamarca me encontrar com meu irmão, o Eduardo, que vivia lá nessa época. Essa aventura me abriu uma janela para o mundo e quando voltei, no mesmo navio, senti que teria que partir para outros caminhos na vida.

3 - Que livros marcaram sua infância, adolescência e idade adulta?

Na infância, eu e o Edu éramos muito ligados em gibis e nos almanaques do Globo Juvenil (acredite, temos ainda um datado de 1952!). Por sorte nossa, o jornaleiro do bairro, seu Nicola, era amigo de meu pai e quando não podíamos comprar os gibis, ele nos emprestava. Era uma festa, "viajamos" muito por este mundo maravilhoso dos quadrinhos! Na adolescência, gostava muito das aventuras de Nick Holmes, Tarzan, Super Homem, etc, e também da inesquecível coleção de livros juvenis “Tesouro da Juventude”, da editora W.M. Jackson, muito popular na época. Já como adulto, me marcaram o Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, O Lobo da Estepe, do Herman Hesse e também o grande poeta Fernando Pessoa.

4 - E os gibis? Quais te marcaram mais?

Além dos já referidos, lembraria uma coleção italiana sensacional de aventuras: “Xuxá” (sobre a Segunda Guerra) e o “Pequeno Xerife” (de bang- bang, que também marcou muito nossa infância).

5 - E a arte da escrita, como você entrou nela?

Quando comecei a me interessar mais por ecologia, esoterismo e auto-conhecimento, comecei a escrever artigos sobre esses assuntos e acabei virando colaborador da revista Planeta, da Editora Três. Aliás, através da revista fiz grandes amigos, como o Paulo Coelho, Raul Seixas, Rita Lee, o Ednilton Lampião, e muitos outros. Ah, e também escrevi para o jornal Primeira Mão.

6 - Muito legal! E qual foi seu primeiro trabalho publicado?

Além dos referidos acima, algumas revistas da época em que escrevia para o estúdio do grande Ely Barbosa, como o "Scooby Doo". Já o meu primeiro livro foi um em quadrinhos que fizemos, eu e o Edu, sobre a viagem de Cabral ao Brasil: “A Grande Viagem”, publicado pela FTD.

7 - O que o levou a escrever roteiros para HQs?

Além de gostar muito de HQs como contei no início, foi o fato da convivência com o Eduardo e com o estúdio do Ely Barbosa, que era um campo fértil nesta matéria.

8 - Como era o seu método de trabalho ao escrever para o estúdio do Ely Barbosa? Você trocava "figurinhas" com seu irmão ou ele só via o roteiro na hora de desenhar? Ele dava palpites no roteiro?

Eu sempre trocava idéias com o Eduardo e sua grande experiência no ramo me ajudava muito. E o fato de trabalharmos juntos, facilitava muito o trabalho em "dobradinha".

9 - E qual foi a história que você escreveu que te marcou mais?

Na época do Ely, foram os roteiros que fiz para o Scooby Doo e o Bionicão. Recentemente, foi o exaustivo trabalho de quadrinizar uma obra como O Guarani, de José de Alencar, principalmente por que visava o público infanto-juvenil e teve que ser bem pensada e trabalhada. Mas acho que o resultado final valeu o trabalho!

10 - Parece que o mundo acordou um pouco tarde para discutir a agressão ao meio ambiente e a busca inconsequente por lucros. Como você se sente tendo feito isso há 30 anos atrás?

Você colocou muito bem e a pergunta é bastante oportuna. Fui um dos pioneiros a dar vários alertas sobre a ecologia e as agressões à Mãe Terra, quando escrevia na revista Planeta, para um jornal de Brasília e para o Primeira Mão. E imagine só, na época os jornalistas me chamavam de poeta. Diziam: " O Vetillo está preocupado com os passarinhos, as flores, etc, etc". Anos depois, quando caiu a ficha, os mesmos jornalistas me procuravam pra dizer: "Walter, o que é 'efeito estufa'? O que é  'camada de Ozônio'? Como podemos conseguir o equilíbrio de nosso planetinha?" Sinto-me realizado por ser um dos pioneiros, graças ao meu mestre na época, o grande Lutzemberg, que foi um grande pioneiro e batalhador. Infelizmente, como você colocou, a busca inconsequente de lucros, as multinacionais, os interesses mesquinhos das grandes potências mundiais, fizeram o resto e deu no que deu! Mas nunca é tarde e precisamos continuar a luta, considerando que felizmente muitos acordaram.

11 - Que roteiro de personagem conhecido você gostaria de fazer?

O Brasil têm muitos personagens interessantes mas, infelizmente, com a baixa estima que nos caracteriza, eles passam em brancas nuvens. Precisamos mudar isso, pesquisar, e tenho certeza que encontraremos. Uma prova é o livro que lançamos para a Escala Educacional, na linha "Saga de Heróis" e uma delas é a Maria Quitéria, heroína do movimento pró-independência da Bahia, que se alistou no Batalhão dos Periquitos e era quase desconhecida, e o livro está vendendo bem.

12 - O que você tem achado da atual leva de adaptações de literatura para os Quadrinhos? É positivo para a indústria dos Quadrinhos no Brasil ou tem algum "porém"?

Acho extremamente positivo, pois o jovem leitor vai se sentir muito mais atraído pela magia dos Quadrinhos do que por volumosos livros só de texto. Prova disso, foi o lançamento do "O Guarani" em quadrinhos que fizemos para a Editora Cortez. Os livros do José de Alencar são muito indicados pelos professores, e nesta forma lúdica dos Quadrinhos, eles ficam muito mais palatáveis para os jovens leitores.

13 - E você prefere adaptar obras de outros ou criar suas próprias obras?

Os dois são sempre grandes desafios! Mas eu acho que mesmo adaptando obras, nunca podemos deixar morrer nossa veia criativa.

14 - Pra encerrar, quais são seus projetos para 2010?

São muitos! Quero continuar nesta linha de resgatar figuras importantes do Brasil para os Quadrinhos ou em forma de livros e também começar a coçar minha imaginação e lançar um livro de minha autoria.


Confira também o lançamento do livro “Fawcett: O mistério do Roncador”, dos irmãos Vetillo, no meu fotolog aqui.

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