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Por Henrique Magalhães 09/05/2010 Uma das figuras mais marcantes da cultura brasileira na década de 1970 foi um tipo raquítico, depauperado, imundo e faminto. Longe do glamour da crescente indústria cultural, foi uma personagem de quadrinhos quem chamou a atenção de um público seleto, mas barulhento. Falamos de Rango, de Edgar Vasques, que estreou para o leitor nacional pela L&PM Editora, cuja obra inaugural foi justamente o próprio Rango. Os 40 anos de Rango, completados em 2010, merece mais que um olhar saudosista, merece o econhecimento de sua inequívoca longevidade e de sua surpreendente contemporaneidade. Rango chocou o bom gosto da elite e da classe média nacional ao expor as entranhas purulentas da sociedade. Personagem jogado à própria sorte, retratava de forma crua os seres indignos que perambulam maltrapilhos pelos becos e sob os viadutos das grandes cidades. Sua fonte de abastecimento, quando não também sua moradia, se restringe aos lixões, os esgotos de nossa sociedade de consumo. Rango funcionou muito bem como crítica contundente das injustiças sociais, de forma explosiva em plena ditadura militar, ufanista do “Brasil grande” e do “milagre econômico”. Com humor cáustico, que de forma alguma arranca risos, Edgar construiu com Rango uma lenda, que como toda lenda, com sua aura fantasmagórica, acabou por marcar toda sua obra, tirando-lhe do foco a grandiosidade imagética do conjunto de sua produção. Mas não culpemos Rango por isso. Seu impacto, bem como sua redundância, que se aplica tão bem ainda nos dias atuais, deve-se à imutável realidade brasileira, 40 anos depois patinando nas mesmas desigualdades. Edgar é maior que Rango, que já é monumental. Junto com Rango, Edgar merece as homenagens por criar uma personagem que resiste ao tempo, que resiste às fórmulas fáceis dos humorísticos atuais, por fim, que resiste à indiferença injuriosa do mercado editorial. Enquanto houver fome, Rango! |
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