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Dick Tracy
Por Gian Danton
03/05/2010

Dick Tracy, de Chester Gould, deu um toque urbano à Era de Ouro. Apesar dos roteiros muitas vezes realistas, inclusive com mortes, Dick Tracy representava um sentimento de fuga do Norte americano de um dos seus problemas mais graves: a forte criminalidade, comandada pelos gangsters que assolavam os EUA.
O personagem de Chester Gould não foi o primeiro policial dos quadrinhos. Antes dele já havia algumas tentativas, como Alex the cop, mas nenhuma obteve tanto sucesso. E nenhuma ficou tão impregnada na mente dos leitores.

Chester Gould nasceu em Pawnee, no Oklahoma, a 20 de Novembro de 1900. Desde criança publicava ilustrações no jornal local, mas sua carreira como desenhista só iria deslanchar quando ele se mudou para Chigaco, em 1919, onde estudou na Universidade de Northwestern. Antes de Dick Tracy ele chegou a desenhar uma série chamada The Girlfriends, de pouco sucesso. Ele percebeu que precisava de um novo tema para se destacar entre seus pares.

Nessa época Chicago era dominada por gangsteres. All Capone era o herói local e Gould ficou incomodado com a forma como os bandidos eram retratados. Na sua opinião, as pessoas precisavam de um outro modelo, uma pessoa decente e moralmente intocável. Ele criou, então, um detetive de queixo quadrado e chamou-o de Plainclothes Tracy. O editor gostou da ideia, mas sugeriu que o nome fosse mudado para Dick Tracy.
A história foi publicada em 04 de outubro de 1931, no Chicago Daily, mas logo estaria espalhada por muitos jornais nos EUA e no mundo. Dick Tracy vivia num mundo em que a separação entre o bem e o mal era absoluta. Se ele representava o bom mocinho, os vilões eram o cúmulo da maldade. Aliás, segundo muitos autores, o sucesso da série se deve justamente aos ótimos vilões criados por Gould.

Tais vilões eram geralmente deformados, uma forma de mostrar, visualmente, sua moralidade distorcida (um recurso muito comum nos quadrinhos). Alguns desses vilões, mesmo aparecendo em apenas um episódio, tornaram-se queridos dos fãs. Flattop, foi um exemplo. Quarenta anos depois dele ter morrido nas tiras, os fãs ainda mandavam cartas ao autor lembrando de suas proezas.

O destino dos vilões era sempre cruel, embora raramente eles fossem mortos por Tracy. A maioria morria em situações provocadas por eles mesmos, como se sua falta de moralidade definisse seu destino. Assim, The Brow, ao tentar fugir de Tracy, pula por uma janela e acaba sendo espetado por um mastro de bandeira. Boris Arson e seus homens são dizimados por tigres que eles mesmo guardavam em seu esconderijo. 88 Key, tentando esconder-se num buraco durante uma tempestade de gelo, acaba por se sufocar e morrer congelado. Se os vilões morriam por suas próprias ações, Tracy sobrevivia a tudo.

O pesquisador de quadrinhos Herb Galewitz, analisando a obra de Gould, descobriu que o detetive havia sofrido 27 ferimentos com arma de fogo, apenas nos seus primeiros 30 anos de vida. Se não bastasse isso, ainda quebrou costelas, teve cegueira temporária e até chegou a ser internado numa clínica, precisando de aparelhos para continuar respirando. Apesar disso, ele sempre voltava para combater o crime.
Gould antecipou o telefone celular, comodamente instalado no pulso de Dick Tracy, e a importância do sistema de telecomunicações para as viagens espaciais, o que fez com que a revista National Geographic o chamasse de visionário.

A importância de Dick Tracy se deve não só pela obra em si, mas também pela forma como influenciou outros personagens e artistas. Seus vilões serviram como base para os vilões estranhos de Batman, como o Coringa ou o Charada. Além disso, seu desenho simples, estilizado, com poucos traços, influenciou toda uma geração de artistas, entre eles o brasileiro Flávio Colin.

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