|
Por Matheus Moura 31/03/2010
Quase um ano depois eis que surge novamente Artlectos e Pós-humanos (36 páginas, formato 14 x 20 cm, R$ 6,00). Esta quarta edição dá continuidade ao trabalho iniciado pela SM Editora (atual Júpiter II) e passado à editora Marca de Fantasia, de Henrique Magalhães, a partir do número 3. Como nas edições passadas, Edgar Franco adentra mais em seu mundo pós-humano e biotecnológico. Duas novidades distinguem essa edição: pela primeira vez na série há histórias feitas em parceria. Uma é com o premiado roteirista Gian Danton (Manticore), na HQ A Caverna, inspirada no texto homônimo de Platão (em que ele expõe a teoria de sua metafísica, com um mundo ideal alheio ao real). Na história de Edgar e Gian, a premissa é a mesma: seres humanos (os chamados resistentes, na mitologia Artlecta) presos em uma caverna se veem subjugados por imagens projetadas e forças superiores. Um deles se liberta e mesmo levando a verdade aos seus semelhantes é duramente repreendido. Na questão estética, o estilo de Edgar continua na mesma linha do que já é feito há anos. A principal diferença é na forma como o texto de A Caverna foi escrito, destoando em muito com a tradicional maneira subjetiva e poética de Edgar Franco. Não que isso soe ruim, mas destoa do conjunto. A outra novidade é a história, Dilema da Despedida, arte-finalizada por Omar Viñole (Yeshua). Apesar dos traços serem claramente de Edgar, a arte-final de Omar dá um “que” especial, inserindo sua peculiaridade estilística, com menor incidência de linhas e ausência de efeitos digitais – peculiares ao trabalho de Edgar. Fora as novidades e criação, há Ancestral Desejo, que versa sobre como os desejos primitivos são inerentes aos seres, mesmo quando já estão altamente evoluídos. Destaque para o uso de um recurso há muito deixado de lado nos Quadrinhos: a linha cinética para indicar o ponto exato onde o personagem olha. A história Híbrido Ícaro (publicada originalmente na Camiño di Rato #5), se diferencia no enquadramento das imagens, mesmo não havendo propriamente os quadros. É interessante como nessa história a principal singularidade gráfica de Edgar é explicita: a inusitada maneira de ordenar a imagem dando a ilusão de requadros. Se o leitor não ler as imagens atentamente ele acaba por se confundir na profusão de desenhos, perdendo, assim, boa parte da narrativa. Na revista há ainda outra história publicada na Camiño di Rato, desta vez na número 3, chamada de Ideal Transumano. Tanto essa quanto a Híbrido Ícaro, possuem textos apêndices que complementam e muito o sentido das próprias histórias, ampliando o contexto em que estão inseridas. Mas, para o leitor conhecê-los é somente na CdiR. Ponto alto da Artlectos #4 é também a maior história: Neomaso Prometeu, originalmente concebida como HQTrônica*, é uma História em Quadrinhos releitura do mito grego de Prometeu – o Titã condenado por Zeus a ter as vísceras eternamente devoradas por uma águia. Na concepção de Edgar, o Prometeu tecnológico é um masoquista que possui a benesse da bonança financeira para eternamente adquirir novos órgãos. Uma metáfora da condição humana que busca constante a satisfação carnal e momentânea proporcionada pelo poder aquisitivo efêmero do dinheiro. Essa história, como dito no editorial, recebeu menção honrosa no VídeoBrasil – Festival de Internacional de Arte Eletrônica (Sesc Pompéia/2001) e pela primeira vez foi publicada em suporte papel. Para fechar a edição a curta Em Louvor aos Biociberxamãs. Como o próprio autor menciona, trata de um “breve manifesto anticartesiano”, cujo o até de questionar esbarra no limite do material e portanto do questionável. Algo, assim como todas as histórias desse novo tomo, feito para pensar em duas ou mais leituras. Não deixe de reler e reler. As quatro edições, da série anual Artlectos e Pós-Humanos, podem ser adquiridas no site da editora Marca de Fantasia aqui. |
Quem Somos |
Publicidade |
Fale Conosco
|