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Por Marcio Baraldi 12/03/2010 “O povo brasileiro valoriza mais a cultura estrangeira do que a própria!”
“O Nordestino é antes de tudo um forte!” diz o ditado popular. E ele serve como uma luva para o quadrinhista baiano Antonio Cedraz! Afinal Cedraz está há 40 anos fazendo Quadrinho infantil no Brasil, sem parar um dia sequer, o que convenhamos, é uma proeza hercúlea. Criador da simpática Turma do Xaxado, Cedraz transpôs para seus Quadrinhos toda a rica e colorida cultura nordestina brasileira. Nesta entrevista exclusiva Cedraz falou de tudo um pouco: animação, Mauricio de Sousa, cultura nordestina, meio-ambiente e claro, mercado do Quadrinho Nacional. Peguem uma água de coco, tirem os sapatos e ajeitem-se na rede da varanda que Mestre Cedraz vai falar. Axé!!! Quantos anos de carreira já, Cedraz? Você lembra qual foi seu primeiro desenho remunerado? Onde você começou sua carreira? Mais de 40. Meu primeiro desenho remunerado foi na revista do Akim (famoso personagem da editora Bonelli, uma espécie de Tarzan italiano), da editora Noblet, na década de 70, onde eu fazia histórias curtas para completar a edição. Foi no Akim que publiquei e descobri verdadeiramente que eu queria fazer Quadrinhos para o público infantil. Você construiu uma carreira sólida sem nunca ter saído da Bahia. Você, em nenhum momento, pensou em ir para São Paulo ou pro Rio? A gente sempre pensa em sair da terrinha para conquistar outras praças, mas sempre volta atrás. Sou muito caipira para enfrentar “cidades grandes” (risos).
Você e o único quadrinhista infantil que deu uma caracterização bem regional pro seus personagens, no seu caso o nordestino. Porque você optou por essa regionalização forte ao invés de personagens mais urbanos e globalizados como a Turma da Mônica? No início o Xaxado era para ser um personagem coadjuvante da turma do Pipoca, que é um personagem urbano, e foi através de um convite para fazer uma tira para um suplemento do jornal A Tarde, aqui de Salvador, que saía duas vezes por semana, que tive a idéia de usar esse personagem. Logo a tira fez sucesso e migrou para a jornal diário. Além disso, o Xaxado resgata um pouco de minha infância no interior. Você acha que as crianças do Brasil inteiro se identificam com essa cultura nordestina das HQs do Xaxado? Acho sim, o Brasil é nordestino! O nordestino está em todo canto. Foi o nordestino quem construiu Sao Paulo e Rio de Janeiro. Há um tempo atrás fui a Goiânia, para uma feira de livros e conheci tantos nordestinos que tive a impressão que estava em casa (risos). Por falar em Turma da Mônica, você tem muita influência do Mauricio de Sousa, né? O que você acha dele como artista e como pessoa? Na sua opinião, porque nenhum outro quadrinhista infantil chegou tão longe como o Mauricio? O que ele tem afinal que os outros não tem?
Quantos personagens você tem hoje? Dê uma geral nos principais. Os personagens principais são seis,mas tem muito mais! Na verdade todo indivíduo tipico do Nordeste vira personagem da Turma do Xaxado. Eis os principais: o esperto Xaxado é neto de um famoso cangaceiro que vivia no bando de Lampião; o preguiçoso Zé Pequeno adora ficar deitado na rede, vendo a vida passar; a estudiosa Marieta é a defensora da língua portuguesa; o egoísta Arturzinho é filho de um rico fazendeiro e faz questão de deixar bem claro que nasceu “em berço esplêndido”; o sonhador Capiba é um aspirante a cantador nordestino, e a consciente Marinês é a protetora e amiga número 1 da natureza. Em quantos jornais a Turma do Xaxado é publicada atualmente? Já saímos diariamente em três: A Tarde de Salvador (durante 12 anos), O SUL de Porto Alegre e Diário do Nordeste, em Fortaleza. Tem também vários suplementos semanais e jornais do interior. Publico atualmente em algumas revistas, a exemplo da Revista Brasil, em Portugal. Você acha que o Brasil precisava ter uns "Syndicates" como nos EUA, para distribuir as tiras dos autores nacionais? Como você distribui suas tiras? Acho que precisa sim!!! Nós temos a Intercontinental Press que faz um bom trabalho mas trabalha mais com o material estrangeiro. Eu faço contato pela Internet e pelo correio. A Intercontinental Press também me representa. Você acha que os projetos de Lei do Quadrinho nacional, dos deputados Simplício Mário e Vicentinho (ambos PT) sao viáveis? Você acha que uma lei pode resolver os problemas do Quadrinho Brasileiro? Uma lei vai ajudar bastante pois a mentalidade dos editores é de que só o que presta é o que se publica no estrangeiro. Uma lei que obrigue esses editores oportunistas a terem uma cota para publicar Quadrinhos brasileiro vai fortalecer o mercado e descobrir talentos. Talvez disso surja o verdadeiro Quadrinho brasileiro! Aliás, na sua opinião, quais são os maiores problemas do Quadrinho Nacional? O maior problema esta no proprio povo brasileiro, que valoriza mais a cultura estrangeira do que a própria cultura brasileira! Está na mentalidade do brasileiro de que, se foi publicado no exterior é bom. Tenho visto muitas porcarias sendo publicada com estardalhaço aqui no Brasil. É uma pena!...
Como está a cena de quadrinhistas na Bahia? Cite quais são os nomes atuais mais importantes. A cena do Quadrinho baiano é parecida com o resto do Brasil, ou seja, tem poucas oportunidades. Atualmente só um jornal publica Quadrinho baiano e mesmo assim uma única tira. Depois que deixei de desenhar a tira diária do Xaxado o espaço foi ocupado por uma tira estrangeira. Tem bons cartunistas aqui como o Hector Salas, o Luiz Augusto e outros. Tem também o Flávio Luiz que foi morar em São Paulo em busca de oportunidades. As geleiras estão derretendo, o sol do verão esta insuportável, as chuvas, terremotos e furacões estão destruindo cidades inteiras. O que está acontecendo com a Terra? Você que é um autor voltado para as crianças, que planeta essa molecada herdará? Esta é difícil de responder! Uns culpam a ganância do homem pela devastação do planeta. Outros dizem que no mundo sempre haverá mudanças e que elas são inevitáveis. Eu pessoalmente não sei... Mas como autor infantil tenho que fazer a minha parte, educando as criancas, ensinando-as a preservar e cuidar da vida e da natureza. A Marinês, por exemplo, foi uma personagem criada com o pensamento voltado para a preservação do planeta. A Turma do Xaxado ainda não virou desenho animado por quê? Nem pra Internet você não vai fazer? Bem, como você sabe, o investimento para se fazer desenho animado é muito grande. No ano passado inscrevi o Xaxado no programa AnimaTV, fui pré-selecionados mas não aprovado. Este ano vou novamente fazer a inscrição e lutar por esse espaço na TV! Se você tivesse um milhão de reais para investir na sua obra, o que você faria? ÔBA!!! Aí sim, montaria uma produtora para fazer desenho animado, lançar a revista e fazer uns anunciozinhos para divulgar. Faria também uma editora para publicar revistas em Quadrinhos de artistas brasileiro, como fizeram os editores dos anos 60 e 70. OK! Se o gênio Shazam te concedesse três desejos, quais seriam eles? Saúde, Saúde e Saúde!!! O resto a gente corre atrás e consegue. Visite o site de Cedraz aqui. O Bigorna.net agradece a Antonio Cedraz pela entrevista, concedida no dia 8 de março de 2010 |
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