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Por Marcio Baraldi 30/01/2010 “Os fanzines têm importância fundamental na contracultura!”
O teu personagem Fécum já completou trinta anos. Mas você ainda é novo, então você era criança quando criou o Fécum? Como nasceu o personagem, afinal? Na verdade eu tinha 12 anos de idade quando criei o Fécum! Foi em dezembro de 1979 e eu queria retratar os maconheiros do bairro, uns caras cabeludos, esguios, que viviam pelas sombras e esquinas. Então, um dia eu fiz uma caricatura desses cabeludos numa banca de jornal, arranhando na tinta com minha chave. Nascia ali o Fécum!!! Pior que meus colegas gostaram do personagem e passaram a desenhar também e virou moda lá no bairro! Aí passei a desenhar ele com pincel atômico em muros, portões, bancas, etc, virou uma praga pela cidade (risos)! Aí em 1982 comecei a fazer umas tiras dele e publicar no jornalzinho do Colégio Hélio Alonso, onde eu estudava. Mas ainda era tudo descompromissado. Eu vivia deixando ele engavetado, fazia algo e guardava na gaveta. Só mesmo a partir de 2002 passei a publicá-lo em vários fanzines pelo país, além de fazer meus próprios fanzines também. O Fécum é um roqueiro cabeludo que fuma erva o dia inteiro. Por acaso ele é auto-biográfico (risos)? Mas, agora a pergunta que não quer calar... afinal, o que quer dizer Fécum?!? Da onde você tirou esse nome (risos)?!?
Você gosta do Capitão Presença, do Arnaldo Branco? Já imaginou um crossover entre o Fécum e o Capitão? Quem faria mais fumaça (risos)??? Conheci o pessoal que faz o Capitão Presença, até mandei uns argumentos para eles. Na época sugeri entregar o zine na entrada das sessões do filme com os personagens do Angeli, Sexo, Orégano e Rock'n'Roll, teria tudo a ver. Um encontro com os dois seria bem legal... Quanto a saber quem puxa mais fumo, acho que é Preza, pois o Fécum acorda muito tarde (risos)!... Você é do Rio de Janeiro. Por que a galera do Rio sempre teve esse humor escrachado, depravado, descompromissado? Você acredita que o clima praiano desenvolve o bom humor das pessoas? Acho que a praia ajuda mesmo. Mas o carioca sempre teve aquela fama de malandro, do gingado, de estar sempre dando um jeitinho, bem Zé Carioca mesmo. Nos anos 80 tinham os filmes Garota Dourada e Menino do Rio, as surf-wear Píer e Bolt, a K&K, o chinelo Katina Surf, o bairro da Lapa, a Praça Mauá, tudo tinha esse clima meio malandro, descontraído. Acho que herdamos um pouco a tradição da malandragem e o fato de vermos as coisas meio que com mais escracho. Vemos os palavrões, o sexo,a sacanagem, de forma natural... Você gosta dos humoristas clássicos do Rio de Janeiro? Se identifica com eles? Me diga o que você acha de cada um destes: Stanislaw Ponte Preta, Jaguar, Barao de Itararé, Millôr, Nani, Casseta & Planeta. Interessante, tem uns caras que eu me amarro e muitos nem são daqui do Rio, sabe? Desses que você citou não curto muito o Ponte Preta, mas reconheço sua importância. Jaguar é um cara meio impaciente, mas isso é algo particular dele. Quanto ao trabalho dele eu gosto, é ácido e cínico, um humor muito crítico. O Barão tem um estilo bacana, meio diferentinho, mas legal. Mas não é dos que mais gosto. Millôr eu acho legal, inteligente e fino. Classudo mesmo! Nani eu acho um barato, já vi muitos cartuns dele nos jornais, todos impagáveis!!! Já a Casseta & Planeta eu não gosto. Mas deixa eu citar aqui, dois caras que me amarro de montão: Ofeliano e Ota! Esses são nota DEZ!!! Você fala de marola nos seus Quadrinhos. E ao mesmo tempo conhece de perto o problema do tráfico de drogas e da violência nos morros cariocas. Na sua opinião, como resolver esse problema todo? A legalização de todas as drogas seria a solução, ou parte dela? Aqui no Rio falta muita disposição das autoridades para combater o crime de verdade, usando inteligência e estratégia! Cercar, asfixiar e invadir! Mas infelizmente tem muitos interesses envolvidos e a coisa vai sempre ser assim. A liberação da maconha diminuiria pouco o lucro do tráfico e o enfraqueceria pouco também, pois eles vivem mais da cocaína, e tem boa fatia no comércio de armas também. Teria que haver um esforço conjunto, envolvendo a educação da população, mas também um efetivo interesse das Polícias em sufocar os focos onde estão os marginais. Na sua opinião, porque drogas terríveis como o cigarro e o álcool sempre foram legalizados e a maconha, que é tão popular, ainda não foi? Quem ganha o que com a não legalização da maconha e da cocaína? Em parte, parece que o pessoal gosta mais da maconha assim, proibida, parece que tem mais prazer no proibido. A maconha tem até uso medicinal. Acho que o lance é saber quem a venderia e como. Se por um lado tem gente faturando com a erva, por outro, faturariam também com a legalização. Acho que há um receio de alguma empresa tomar a frente pelo seu comércio legal e ser mal interpretada. Por mim liberava. Isso deixaria meu personagem menos marginal (risos)!... Sei que você é um grande admirador do Getúlio Vargas. Se você fosse presidente do Brasil, o que faria por estas questões: violência e tráfico de drogas, meio ambiente e devastação ambiental e educação? É verdade, sou mesmo. Bem, agir contra a violência seria o mais fácil. Apoio das Forças Armadas, cerco eficaz aos pontos de risco, onde o tráfico se esconde, cadastramento de moradores, invasão pacífica e educação e conscientização dos moradores, sobre o Estado e suas Leis! O Meio Ambiente sempre foi bandeira de campanha dos políticos,mas na prática sempre recebeu pouca atenção. Só mesmo incentivos fiscais e multas pesadas podem ajudar a melhorar este campo. E a devastação ambiental é outro assunto que, com disposição, pode ser resolvido! Aeronáutica, Exército e a Polícia Federal podem deter o desmatamento!!! Mas, com certeza, também temos interesses escusos envolvidos nessa destruição toda. A Educação teve uma queda assustadora de uns anos para cá. Não basta oferecer ajuda de custo. Tem que, em primeiro lugar, conscientizar e fazer campanhas para levar as crianças de volta à escola! E que sejam melhor tratadas, com uma refeição decente, um bom nível de ensino, pratica de esportes. Com o sucateamento atual da Educação, até o civismo da nação está se esvaindo. Você, como advogado, conhece bem a Lei do Quadrinho Nacional? Considera que ela é realmente viável? O que falta para ela ser posta em prática e dar certo? Você é roteirista. Quais são os quadrinhistas que já ilustraram as tiras do Fécum pra você?
Com quantos anos você fez seu primeiro fanzine? Você acha que os fanzines foram um grande canal de contracultura no mundo? Acha que agora a Internet, sobretudo os blogs gratuitos, se tornaram esse novo canal de discussão e propagação de uma cultura alternativa? Não temos como fugir disso. A Internet é uma mídia imediata, sem custo, de alcance total e com fotos coloridas, links, espaço para opiniões. E o futuro chegando! Sou fã do papel, mas a coisa está num pleno momento de mudança e adaptação. Sim, sou MUITO fã!!!! Eu assistia o Capitão Aza desde 1972. Quando eu era crianca ele foi na minha escola, tirei foto com ele, até está no meu orkut. E só deixei de assistir quando ele saiu da Tupi, em 1979, por não receber salários a quase um ano. Em 1997, eu e um amigo conseguimos ir na pousada que o Wilson Vianna tinha em Penedo e dissemos a ele que queriamos criar um fã-clube dele. Ele autorizou o fá-clube e passamos a fazer várias sessões de exibição dos programas dele pela cidade, uma vez que colecionávamos essas séries e desenhos antigos. Ele ia em muitas destas sessões, tirava foto com os fãs, dava palestras, era um barato! Hoje está lá na sede do fã-clube o capacete oficial dele, roupão, medalhas e uns troféus, doados pela mãe de seu filho, que infelizmente faleceu num acidente de moto. Tem um livro muito legal sobre o Capitão Aza, escrito por Dora Mendonça, uma jornalista que era fã dele e temos ainda, na sede do clube, alguns exemplares para venda. Quem quiser comprar o livro entre em contato comigo pelo e-mail sergiocriss@bol.com.br. Um que comprou comigo, foi o grande Roberto Guedes, que teve a sorte de ter dedicatória e autógrafo do Wilson Vianna e registrado em foto!!! Saudades do Capitão Aza... Então, como fã do Capitão, você colecionava aqueles gibis da Bloch, que tinham uma parceria com o Capitão, o “Clube do Bloquinho”? E você se liga em gibis de Super-Heróis ainda? Ou voce prefere Freak Brothers, Crumb, esses undergrounds marofeiros (risos)? Uma curiosidade: por acaso você chegou a ir na sede da EBAL? Conheceu o Adolfo Aizen pessoalmente? Ou você não se ligou nos gibis da EBAL? Quais os planos para comemorar os 30 anos do Fécum e o que você planeja para o personagem para os próximos anos? O fanzine comemorativo de 30 anos vai sair agora, no início deste 2010 e também vou lançar um CD com as músicas preferidas do Fécum. E pretendo continuar editando meus dois fanzines, a Folha do Fécum (nome sugestivo, não? risos) e o Fanzine do Fécum, contando com a ajuda de meus amigos e eu mesmo dando umas rabiscadas. Mas tudo sem comprometimento com prazos. Faço por lazer mesmo e não lucro nada com isso. Sei que você, além de roteirista, também é poeta. Deixe um poema bombástico seu pra finalizar a entrevista. Caramba, assim, no sopetão (risos)??? Estou sem escrever nada há anos, mas aí vai... “Ante o verme que anseia a decomposição Não julgo o verme voraz que espreita O Bigorna.net agradece a Sergio Júnior pela entrevista, realizada no dia 27 de janeiro de 2010 |
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