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Resenha: Ato 5
Por Matheus Moura
18/11/2009

André Diniz é um desenhista com alma de roteirista. Já faz um tempo que ele anda publicando mais textos do que desenhos. Um exemplo recente é o livro 7 Vidas, editado pela Conrad Editora. Antes disso teve os livros de HQs educacionais que saíram pela editora Escala Educacional. No FIQ, Diniz lançou o mais novo trabalho: Ato 5, desenhado por outro grande autor brasileiro: José Aguiar. Apesar de ambos os autores já serem (re)conhecidos no cenário nacional tanto pelo público quanto pelo mercado, a revista Ato 5 foi publicada de forma independente. Faz até mesmo parte do 4º Mundo e da editora Nona Arte, de André. De acordo com Aguiar, isso se deve ao número de páginas. “Nenhuma editora quer publicar uma revista de 32 páginas. Todas querem álbuns com mais de 60 páginas. Assim, decidimos partir para o meio independente,” contou o desenhista durante o FIQ.

A trama de Ato 5 gira entorno de um grupo de teatro, o qual, durante a Ditadura Militar, usava as artes cênicas para expressar a insatisfação com o regime. Isso causou perseguições e intrigas internas, como realmente ocorreu em outros exemplos reais da época. A história da revista, então, segue pela ótica de dois principais personagens do grupo de teatro: Juan e Lorena. Amigos íntimos e inseparáveis eles acabam se envolvendo num caso amoroso. Mas isso não é o principal da trama. O tema de destaque são as relações humanas. Como duas, ou mais, pessoas convivem num ambiente tão dispare como os anos de chumbo ainda mais no meio de um grupo de teatro subversivo. Em diálogo com a época e com a realidade do ator, Diniz dividiu a história em dois Atos. O primeiro narra a visão de Juan, o segundo, de Lorena. O título da revista é uma referência direta aos próprios atos de uma peça, e, invariavelmente, ao AI-5, ou Ato Inconstitucional 5. Como fica explícito na capa pelo soldado em segundo plano, a ditadura é somente o pano de fundo. Em primeiro plano e, como tema principal, está o teatro e seus atores.

Tecnicamente, o roteiro de Diniz se mostra cada vez mais maduro, assim como os traços de Aguiar. Cada um dos autores, ao próprio modo, mostra que apesar da revista ser independente não há amadores ali. Os diálogos são convincentes, a história é bem amarrada, as soluções gráficas são ideais para transmitirem cada atmosfera de cena. Os traços estilizados de Aguiar conseguem passar de forma única a dramaticidade de cada quadro ou páginas. No final das contas, o ponto negativo da revista é a curta duração. Mas, como um bom escritor, Diniz soube quando parar. Alongar mais do que há ali seria apenas para enrolar o leitor e acabaria por não dar o efeito saudável que a publicação causa. Recomendadíssimo, não só pelos belos desenhos e excelente roteiro, mas por reavivar um período negro de nossa história e mostrar que mesmo em tempo difíceis as pessoas continuam sendo humanas.

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