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Por Matheus Moura 13/10/2009
O domingo (11) no FIQ começou com uma manhã de temperatura amena e baixo movimento. As Oficinas infantis de desenho tiveram continuação aglomerando um bom número de crianças. A primeira palestra estava marcada para as 14h, no mesmo horário do lançamento de Shenzhen, de Guy Delisle. A conversa que abriu o dia foi com Ivan Brandon, tendo como tema central o roteiro. O autor norte-americano comentou de seu processo criativo, forma de trabalho e inspirações. Para o autor (que escreveu Vikings), a vida cotidiana é a melhor fonte de boas idéias. É de que lhe ocorre ao redor que se baseia na hora de escrever uma história. Ele disse que, justamente por isso consegue sair do comum na hora de escrever, fazendo dele um autor reconhecidamente fora dos padrões da indústria. Ivan comentou ainda preferir trabalhar com HQ que fogem dos tradicionais super-herois. E que, talvez, seja por esse diferencial que agora as editoras o contratam para escrever histórias fora do lugar comum. Quanto a técnicas de roteiro, Ivan disse usar tanto roteiros abertos quanto fechados, dependendo mais do desenhista a quem está sendo direcionando o texto. “Se fora alguém que confio, como Albuquerque, mando um texto aberto”, explicou Ivan. Cada bate-papo desse início de tarde teve em média 30 minutos.
Terminado o primeiro, logo em seguida subiu ao palco, Will Conrad (desenhista regular do Pantera-Negra). O artísta, como os outros, comentou do processo criativo e início de carreira. Diz Will que o que lhe motivou a continuar no ramo das HQs foi ter se encontrado com Will Eisner em 1997, na então chamada Bienal de Quadrinhos (antigo FIQ). Lá Eisner lhe disse que estava no caminho certo e fez vários elogios. A partir de então ele passou a de dedicar mais aos quadrinhos. Questionado quanto a opinião dele a respeito da afirmativa de que os desenhistas brasileiros ditam tendências nos EUA. Will concordou e deu o exemplo de Deodato, que reformulou a Mulher-Maravilha na década de 1990. Will ainda disse que a nova fase do Pantera-Negra, a qual desenha, estará ligado a importantes eventos da editora para 2010, provavelmente com início nos EUA em fevereiro. Após Will, foi a vez de Eddy Barrows falar um pouco de si mesmo. Eddy contou que teve duas fazes na carreira. A primeira, quando ainda era inexperiente e desistiu de desenhar. A segunda é após ter voltado às pranchetas. “Eu sou o resultado dessa segunda tentativa”, disse. Eddy ressalta ainda para os ouvintes que o estilo da narrativa é fundamental. Ele, por exemplo, tenta sempre impactar o leitor e ressalta: “o próprio artista deve fazer sua auto-avaliação” – para ele, isso deve ser feito com um olhar semelhante ao do leitor. Rafael Albuquerque, autor de Powertrio, dá seqüência às conversas. Após dar uma breve passada na carreira, comenta da produção da série Powertrio, fala da nova revista prevista para final de 2010, início de 2011, Edu em Apuros – que saiu com uma prévia na revista Cabaret. Além de falar da não existência de um mercado nacional e as dificuldades de se publicar material independente no país.
Na mesa das 16h30, composta de Fábio Moon, Gabriel Bá, Rafael Grampá e as presenças especiais de Becky Cloonan (ITA) e Vasilis Lolos (GRE). Cada um se apresentou e Grampá deu início às respostas ao público. Diz o autor que Mesmo Delivery agora será publicado pela DarkHorse, uma vez que originalmente a história chegou ao mercado americano como publicação independente, bancada por ele mesmo. Nessa nova versão, haverá extras com skechts e afins. Ponto alto da discussão foi quanto à exposição do mercado independente, tanto nos EUA quanto na Grécia. No primeiro, diz Becky, há uma ebulição muito grande desse mercado, havendo até mesmo feiras e festivais específicos somente de independentes. Diz ela que quando um festival desses cresce demais, surgem outros menores, pois os autores foram absorvidos pela indústria. Ela citou o exemplo da MOCA, em Los Angeles, que atualmente teve até estande da DC. Por outro lado, na Grécia as coisas parecem ser piores que no Brasil. De acordo com Vasilis existem muito poucos quadrinhistas e o mercado é extremamente enxuto. As grandes editoras do país passaram a publicar Quadrinhos e mesmo assim só estrangeiros. Ele disse que os artistas interessados em Quadrinhos devem sair do país para poderem se desenvolver. Como foi o caso dele. Os Gêmeos Bá e Moon comentaram de suas carreiras e as dificuldades enfrentadas, além de falaram do novo lançamento, Pixu, em parceria com Becky e Vasilis. A revista possui uma história de terror, que se passe em um prédio e envolve quatro apartamentos. O nome Pixu foi dado por não significar nada e fazer referência a justamente essa estranheza do desconhecido. Às 18h foi a vez da mesa Quadrinhos na China, com Xiao Pan (FRA/CHI) e Benjamin (CHI). Quem mais falou foi Xian Pan (Patrick Abry), que na verdade é francês tendo adotado um nome chinês. Xian é o editor-chefe da editora chinesa - uma das poucas não estatais – que leva também o nome de Xian Pan. Ele agencia vários artistas chineses para o mercado internacional, sendo Benjamin (Bin Zhang) um desses artistas. A Editora Xian Pan é a única no mundo que distribui material de artistas chineses. Na mesa foi discutido o problemas de censura na China, havendo uma série de restrições. Xian comentou que no país ainda é forte o entendimento de que HQs são feitas para o pública infanto-juvenil e isso é um dos pontos que atrapalham muito o desenvolvimento da linguagem por lá. Pelo que Xian disse, devido a todos os problemas enfrentados ele não edita nada novo na China, vivendo de royalties estrangeiros e reimpressões.
Questionaram Benjamin (que é considerado como da primeira geração de quadrinhistas do país) se, por ele conhecer outros lugares, não lhe dá vontade de sair da China. Para o desenhista, a inspiração em desenhar vem da terra natal. Ele acredita que ainda não é o momento de sair da país. Quanto ao Benjamin, ele comentou ter se inspirado no personagem do filme A Primeira vez de Um Homem. A última mesa do dia foi com os italianos Gabriella Giandelli (quadrinhista) e Claudio Curcio (organizador do Napole Comic Con). Para situar os presentes, Cláudio fez um panorama do cenário de Quadrinhos italiano. Destaque para a retraída no mercado do país durante a década de 1980 (algo similar ao que ocorreu no Brasil em 1990). Para Cláudio o grande impulsionador para a retomada do mercado foi o surgimento das lojas especializadas em 1990 e a invasão manga no país. Já Gabriella contou sua trajetória, que teve início em 1984 com o primeiro trabalho profissional. Ela disse que nunca teve um trabalho recusado e considera o início de carreira um momento peculiar, de grande produção. Em 1985 passou a colaborar para a revista Frigidaire, uma revista mix com quadrinhos e textos culturais diversos. Quanto a condição de mulher e quadrinhistas, ela comentou nunca ter tido problemas com isso, mas que a incomoda o fato dela ser convidada a dar palestras e expôs seus trabalho somente por ser mulher. Atualmente Gabriella não trabalha mais na Itália, pois seu estilo de desenho é muito diferente do que o mercado local busca. Ele agora publica nos EUA pela Fantagraphics, mas mesmo assim não consegue viver apenas de HQs, a obrigando a dividir a renda com ilustrações. Quanto ao cenário editorial da Itália, Cláudio comentou que ele é praticamente dominado pela Bonelli. Os artistas que trabalham com a editora conseguem sim viver bem e fez até mesmo uma comparação de ganhos. Se um quadrinhista qualquer publica fora da Bonelli, ele acaba recebendo algo entorno de 1 mil Euros por álbum/revista fechada. Já os que trabalham para Bonelli recebem algo por volta de 150 Euros por páginas.O saldo do penúltimo dia de evento foi positivo. Além das palestras houve ainda vários lançamentos e sessões de autógrafos. Alguns cosplayer voltaram a aparecer, apesar de não ser característicos em eventos desse tipo. Saiba como foi o primeiro dia (aqui), o segundo dia (aqui), o terceiro dia (aqui), o quarto dia (aqui) e o quinto dia (aqui) do evento. |
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