Muito movimento no FIQ na sexta-feira

Casa cheia, sem contratempos e com tudo funcionando como deveria. Apenas no quarto dia (9) de evento pode-se dizer que o FIQ realmente ocorreu como o esperado. A primeira mesa do dia foi com João Marcos, autor mineiro das tiras Mendelévio e Telúria, e que também lançou no FIQ o novo livro dos personagens, intitulado O mundo Mendelévio e o Planeta Telúria. Ao contrário dos bate-papos noturnos dos dias anteriores, este começou às 14h30 e teve como público majoritário crianças e pré-adolescentes. Na mesa estavam o autor, João Marcos, e a contadora de histórias e arte educadora Sandra Bittencourt. A conversa foi descontraída, com ênfase nas experiências infantis do autor. É notável a capacidade de interação de João Marcos com as crianças presentes – não é à toa que ele foi convidado por Mauricio de Sousa para escrever roteiros para a Turma da Mônica e participar do MSP 50 anos, como ele bem lembrou.

João Marcos e Sandra Bittencourt

De forma amena e bem humorada o autor falou das experiências com desenho, desde quando começou a rabiscar, ainda criança, até partir para o trabalho profissional. João Marcos contou de onde vieram as inspirações para criar os personagens Mendelévio e Telúria, sendo estes baseados nele e na irmã, respectivamente, com a idéia surgida em sonho. Outra curiosidade é quanto aos nomes da dupla. Mendelévio e Telúria são compostos químicos da tabela periódica, apensar de Telúria ser a forma feminina (dada à liberdade artística) de Telúrio. Para encerrar, houve perguntas da platéia em que as crianças e até mesmo professoras tiraram dúvidas referentes à infância e processo criativo do autor. Após a conversa com João Marcos, a qual terminou por volta das 15h30, o visitante poderia escolher participar dos vários lançamentos independentes que estavam programados para ocorrer na tarde de sexta. Por uma questão ignorada, a organização marcou o horário da seção de cinema infantil – com duração média de 60 minutos – na mesma hora de outras atividades, no caso as mesas de bate-papo. Apesar de serem diferentes, às 17h estava marcada uma outra seção de animação, desta vez adulta e sem coincidir com outra atração. Os lançamentos programados para a tarde de sexta, sábado e domingo, são apenas as exposições das revistas que, na maioria das vezes, já estavam à venda. O que chama mesmo a atenção são os lançamentos de álbuns estrangeiros e a oportunidade de pegar autógrafos com artistas de outros países.

João Marcos, Waldomiro Vergueiro, Vitor Lacerda e Paulo Ramos

Às 18h30 tem início o bate-papo, considerado pelos palestrantes o mais importante do evento, com o tema Educação, Bibliotecas e Quadrinhos. Na mesa: Paulo Ramos (Blog dos Quadrinhos/USP), Waldomiro Vergueiro (ECA-USP), Vitor Amaro Lacerda (UFMG), João Marcos (Univale). Um ponto relevante tocado por Paulo Ramos foi o fato de Vitor Amaro estar presente em uma discussão do gênero, pois ele era um representante não oficial (como o próprio fez questão de frisar) do PNBE – Programa Nacional Biblioteca da Escola. O tom da mesa percorreu quanto à necessidade de se fazer entender os Quadrinhos como ferramenta educacional em sala de aula. Foi frisada ainda a urgência em se alfabetizar o professor, para que ele tenha conhecimento do que são as HQs e como usufruir do potencial delas como facilitadoras. Durante a conversa, Afonso Andrade, Curador do FIQ, fez um adendo quanto às ações realizadas no município de Belo Horizonte. Uma dessas ações é terem conseguido inserir as HQs no pacote padrão de livros doados pela prefeitura da cidade aos alunos da rede pública de ensino. Afonso ainda sugeriu a criação de uma Câmara Setorial na área de Quadrinhos para que fosse trabalhada a capacitação dos educadores. Logo em seguida, Silvio Alexandre, que participou da mesa Mercado Editorial (no dia anterior) se adiantou dizendo que o quadrinhista JAL, em São Paulo, já está com um projeto similar em estágio avançado. Paulo Ramos lembrou do episódio ocorrido este ano com o álbum Dez na Área um na Banheira e nenhum no Gol, da editora Via Lettera, em que o governo paulista adquiriu o livro e distribuiu a crianças de 9 anos. Esse episódio abriu precedentes para uma maior rigidez na seleção e aquisição de HQs pelo Governo Federal destinadas a distribuição, como bem salientou Paulo e confirmou Vitor. Ao mesmo tempo em que houve o bate-papo com os acadêmicos ocorreu, do outro lado do FIQ, uma sessão de cinema comentada da série de TV Aline, com a presença de Adão Iturrusgarai.

Ivan Freitas da Costa, Joe Prado, Eddie Berganza, Rafael Albuquerque, Ben Templesmith, Eddie Barrows e Ivan Reis

As 20hs começou o chamado Bat papo: Batman 70 anos, o qual tinha como convidados Ivan Freitas da Costa (curador da exposição do personagem no FIQ), Ivan Reis (DC Comics), Eddy Barrows (DC Comics), Joe Bennett (DC Comics - que por problemas de saúde desmarcou de última hora, sendo substituído por Ben Templesmith) e Joe Prado (agente de desenhistas para o mercado norte-americano de Quadrinhos). A conversa, como era de se esperar, girou em torno do personagem Batman e a mitologia criada ao redor dele. Até o momento do Festival foi a mesa que mais atraiu ouvintes tendo as três arquibancadas ao redor do palco lotadas. A conversa foi aberta com cada presente à mesa dizendo da própria relação pessoal com o Batman. Com exceção de Templesmith todos de uma forma ou de outra trabalhavam com o personagem. É até mesmo por isso que, em praticamente toda a conversa, ele tenha ficado meio perdido. Porém o melhor momento foi dele, ao tratar com sarcasmo uma pergunta direcionada a todos e que havia sido levada a sério até então. A referida questão foi quanto ao que eles achavam de Batman, Alfred, Robin e Coringa. Diferente de até então, essa sexta-feira teve saldo positivo mostrado que o evento ainda teria muito o que oferecer, sendo ainda só o começo. Saiba como foi o primeiro dia (aqui), o segundo dia (aqui) e o terceiro dia (aqui) do evento.

(fotos: Matheus Moura)