A farsa da Anistia Brasileira: Edson Dias (o Éton, entrevistado aqui), ex-chargista da FNT e do Sindicato dos Bancários SP, demitido dos Correios, preso, torturado e demitido, ainda não recebeu seus direitos. Foi pra Brasília em caravana de 20 ônibus de injustiçados pelo Ministério da justiça e da Comissão de Anistia, que não mudou um milímetro da injustiça com os anistiados! Aos militares, indenizações milionárias. E salário mínimo para aqueles que são considerados "zé ninguém". Mas agora, nem salário mínimo, nem nada. Agora estão dando só diploma! E a grande imprensa não se interessa pelo assunto.
Seria cômico se trágico não fosse
Segundo Éton: "Ser militante de esquerda não nos torna soldados, desertores, nem ladrões. Isso é um preconceito, construído ao longo do tempo! E não interessa à grande imprensa nem tripudiar sobre o fiasco de nossa Anistia! Fui até a Comissão de Anistia que julga os processos, examinar o meu. Qual o meu espanto! Apareceram uns homens de verde oliva dizendo: 'devolva as armas!' Eu disse: que armas? Não tenho arma nenhuma! O que quer dizer isso? Estão me confundindo! 'Você não é o Edson Dias?' Eu disse: Sou! Responderam: 'Pois é, tem uma ordem de captura para Edson Dias, e você tem que devolver as armas que levou em 1947 do quartel. Aliás saiu fardado e desertou levando tudo!'".
Homônimo
De fato, lendo o processo, descobriram que tinha mesmo esta ordem de captura, em seu nome. Mas esqueceram de ler a data de nascimento de ambos! Quando tudo se acalmou, Éton disse: "Como eu poderia ter roubado um quartel e desertado se eu não tinha nascido?". Pois é assim na Comissão de Anistia: eles não leem nada, vão empurrando as coisas com a barriga. Deram um milhão e meio de idenização para o Ziraldo. E ele, Edson Dias, jornalista, chargista-militante, preso e torturado, confundido com um desertor e ainda querem que ele devolva os fuzis roubados! E travam o seu processo já há dez anos sem razão!
O preço do anonimato
Dá pra entender, a facilidade de julgar o Ziraldo, até porque o Pasquim, quem não conhece? Ficou imortalizado pelo Erasmo Carlos, que cantava: Mas eu vou me embora, vou ler meu Pasquim, se ela chega e não me vê, sai correndo atrás de mim! Nenhuma canção falou das publicações por onde Éton passou: Jornal Hora do Povo, Gazeta de Pinheiros, Folha Bancária, Queixada, Tribuna Operária. Segundo ele: “Não é tão fácil conhecer o Bira, Vargas, Oscar, Éton e todos ilustradores da imprensa sindical. Henfil, fala na revista Fradim, da dificuldade de trabalhos dos cartunistas brasileiros, pois o Nilson (cartunista mineiro), já reclamava disso. Não nego, eu mesmo o fato do Ziraldo e seu trabalho ter se constituído em um baluarte na luta contra a ditadura, reconheço como justo o pagamento e indenização a este grande profissional da imprensa e parabenizo a Comissão por este reconhecimento”.
A vida é mais fácil para as “Figurinhas Carimbadas”, que frequentam e monopolizam as redações da grande imprensa. Pra falar com algum antigo amigo, Éton teria que garimpar espaço nas agendas deles, afinal, a vida destes “primos ricos” é sempre cheia. São muitas comemorações, lançamentos de livros quase mensais, são tantos coquetéis, exposições, prêmios que instituem a eles mesmos. O chargista desabafa: “É certo que nós, da imprensa sindical e nanica, vamos continuar nos porões da democracia, assim como frequentamos os porões da ditadura. Os primos ricos ilustravam a imprensa marrom enquanto nós estávamos levando bala no front”.
Éton conclui: “A verdadeira e combativa imprensa, ao contrário da imprensa marrom e colaboracionista que serviu o regime. Caracterizamo-nos como militantes sem dor e medo, profissionais íntegros que construíram a imprensa sindical, não se vendendo e expressando os anseios populares”. Éton não deve ser ignorado e despercebido quando se escrever a história da imprensa que resistiu neste país. Ele fez parte dela, assim como centenas de outros chargistas anônimos de norte a sul, servindo a causas de Sem-Terra, Índios, Estudantes, Metalúrgicos, Bancários, Químicos, Eletricitários, Condutores, Empregadas Domésticas, Operários da Construção Civil, Lavradores, Sapateiros. Gente que faz a riqueza e desenvolvimento deste país!
Éton, de dentro da fábrica, já escrevia para Henfil, discutindo as questões do Humor nacional e a repercussão de seu Fradim dentro da fábrica. Henfil se emociona com a carta de Éton (leia nos links abaixo), que pediu para não ser identificado e foi chamado por Henfil como Osvaldo. Parabéns, Éton, pela sua combatividade, sua arte genuína, seu humor contra a Injustiça, sempre!
Carta de Éton para Henfil 1
Carta de Éton para Henfil 2
Carta de Éton para Henfil 3
Carta de Éton para Henfil 4
Carta de Éton para Henfil 5
Carta de Éton para Henfil 6
Carta de Éton para Henfil 7