Eu sei que é estranho começar um artigo emitindo uma opinião pessoal, mas eu ainda não sei o que pensar sobre o novo D&D. Esperar seria a palavra mais correta mas não existe mais essa questão pois o que a Wizards of the Coast nos mostra é que ela é dinâmica. Quando a TSR era a empresa que cuidava do D&D tudo era muito estável, estável até demais... confortável eu me atreveria a dizer. Como era gostoso passar minhas tardes derrubando portas de masmorras matando e trucidando milhares de goblins e orcs sem me preocupar com nada além de saber qual a THACO (termo antigo, caros jogadores, significava o número necessário que deveria ser tirado para se acertar alguém, traduzido do literalmente do inglês) que eu deveria acertar e os dados de danos. Eu tive a felicidade de jogar o D&D clássico, traduzido e lançado no Brasil pela GROW em uma caixa com regras simples para personagens de até cinco níveis.
Quando resolvi jogar AD&D as coisas não foram tão terríveis, uma diferença entre classe e raça, algumas raças e classes a mais, regras de perícias, tudo para tornar o jogo mais emocionante e complexo. Foram muitas tardes jogando com meu elfo mago ladrão e explorando masmorras mais complexas, desvendando guildas e resolvendo problemas cada vez mais elaborados. Até consegui adaptar meu personagem clássico de D&D para AD&D sem muita dor de cabeça... algo que se tornou impossível hoje em dia. Pouca gente sabe, mas essa numeração que D&D segue vem do AD&D. O Advanced foi colocado no nome apenas por uma questão de direitos autorais entre os autores originais e a TSR. Foi muita esperteza da Wizards reassumir o nome D&D, fazendo um acordo com Gary Gygax e Dave Arneson e assim lançando o que foi o boom do mercado mundial de RPG, o D&D 3.0. A principio eu fiquei preocupado, a mudança parecia boa e não tinha porque sentir medo desse novo sistema. Vários jogadores veteranos migraram para o novo sistema sem problemas, mas alguns como eu demoraram para se adaptar ao novo.
Qual a relevância desse meu comentário? Bem, estamos revivendo a mesma síndrome hoje em dia, mas o que é muito preocupante é que um numero muito maior de jogadores não se adaptaram a essa nova versão do jogo. Quando da mudança do do AD&D 2.0 para o D&D 3.0 ainda era possível fazer a migração da ficha de personagens, o que ajudou e muito que os jogadores aceitassem o novo sistema, que na verdade não trouxe nada novo, apenas pegou o que existia e juntou num novo conceito, rolar para tirar 20. O que mudou de fato foram algumas regras que travavam o antigo sistema e tornavam o mesmo lento. Assim o sistema se tornou mais dinâmico, racional e, diga-se de passagem, teve uma melhora impressionante no visual. Então eu sofri para aprender a jogar esse novo D&D com mais perícias e classes e ataques de oportunidade mas consegui, dominei o sistema, até é claro a Wizards me surpreender com o D&D 3.5.
No começo eu cismei que eles queriam mesmo era ganhar mais dinheiro. Afinal de contas não fazia cinco anos que eles haviam lançado o 3.0 e eles faziam isso comigo? Bom, para ser sincero nunca me preocupei muito com as poucas mudanças que existiram... quando existia duvida algum jogador mais antenado que eu me corrigia e pronto! Uma verdade precisa ser dita, apesar do pouco tempo que passou essa versão conquistou muitos e muitos adeptos, me atrevo a dizer que com certeza deve ser a versão de D&D com maior público de jogadores atualmente.
Mas e o D&D 4.0? Pois é, difícil arriscar um palpite. Ele tem despertado paixão em alguns, ódio nos outros e indiferença em uma parcela igual de jogadores. O que todos esses jogadores concordam é que a Wizards buscou transformar o sistema em algo muito parecido a um jogo massivo online. Jogadores acostumados com World of Warcraft e Line Age não encontrarão dificuldades em lidar com a (perdão pela comparação) engine desse novo sistema. O interessante é saber se o jogo atrai esses jogadores adeptos de MMO. Porque os jogadores antigos de D&D, aqueles antológicos jogadores com personagens em níveis épicos e fichas rasgadas, manchadas de refrigerante de milhares de noites não dormidas em nome de um hobby parecem nada satisfeitos com essa versão voltada a uma releitura dos jogos de tabuleiro com miniaturas e regras vindas do mundo virtual. Releitura, aliás, parece a palavra mais apropriada para se terminar esse artigo, lembrando que o primeiro D&D é descendente dos jogos de estratégia, quem sou eu para julgar um jogo que busca inspiração nos seus ancestrais? Basta-me jogar para conhecer melhor o sistema, o que eu aconselho a muita gente antes que saiam julgando o livro pela capa.