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Em 1977, eu com 13 anos, fiz um estágio rápido no Estúdio Mauricio de Sousa, onde conheci o grande e saudoso Jayme Cortez. Essas caricas foram baseadas em fotos do livro, que ganhei em 1977 do próprio autor: Orlando Pizzi, Jorge Scudelari, José Lanzelotti (que vi de relance, um dia de 1979, no estúdio do Ely Barbosa), Gutenberg, Sérgio Lima (tive a honra de conhecer este espetacular desenhista de Humor, Terror e Romance, que desenhou a Maga Patalógica na Abril e os Trapalhões pro Ely), Lyrio Aragão, Manoel Ferreira, Messias de Melo e Luiz Saydenberg. O livro comentado por Zaé Júnior, aqui. E está à venda aqui.
Sobre os Mestres:
Álvaro de Moya relembrou muita coisa da chamada Era de Ouro do Quadrinho Brasileiro. Leia aqui. Conhecer ao vivo estes mestres faz uma diferença danada pra quem está começando na arte dos Quadrinhos. Assim, certo dia em 1979, o Estúdio Ely Barbosa publicou anúncio procurando desenhistas com ou sem experiência, lá produzia-se Quadrinhos Hanna-Barbera para a Rio Gráfica Editora.
Fui lá e fiz um estágio de dois meses, onde pude acompanhar as várias fases de produção de um Gibi e conhecer profissionais da velha guarda como João Baptista Queiroz (Cacareco, Oscarito e Grande Otelo, Carequinha e Fred), Eduardo Vetillo (desenhou Urtigão pra Abril, Chet pra Editora Vecchi) e Sérgio Lima. Lá, travei contato com Cleiton Caffeu (que depois eu iria reencontrar no estúdio de animação do Briquet), Arthur Garcia (que foi chargista do jornal trotskista Convergência Socialista), Mingo, Genival, Kimura (que havia passado pela Abril), Pontes, Wanderley, Waldemar, Carlão, Joel (criador do logotipo eskimó da Brastemp), Cidão, Alexandre Silva, Thomas, Thereza (esposa do Ely), Eliete, Mareliz e Otávio (filhos do Ely), João, Bonini, Watson Portela, José Lanzelotti, Vila, Orlando Costa.
Ainda na época da produção de Quadrinhos Hanna-Barbera, o Ely me indicou para ser assistente de um de seus grandes desenhistas: Eduardo Vetillo. O estúdio do Eduardo ficava na Lapa, era um galpão de fundos de uma casa na rua Pontaporã, metade do Ismael dos Santos (que produzia material para a TV Cultura e dava aula, onde passaram conhecidos meus como o Spacca e o Riba), metade do Eduardo, que dividia a sala com o Walter Caldeira (pintor impressionante) que na época produzia capas de livros e reproduzia, em guache, cenas históricas brasileiras criadas por Ivan Wasth Rodrigues.
Orlando Pizzi:
Influenciado pelo traço das animações dos anos 30 e 40, dono de um traço humorístico/infantil soberbo, ele usava e abusava de cenários hachurados com bico-de-pena e nanquim. Tinha um ótimo senso estético na composição de cenas. Usava com maestria o preto e branco, trabalhando muito bem com silhuetas.
Aqui, Seleções Humoristicas (Revista quinzenal, dirigida por Laio Martins Filho). Capas em cores com ilustrações de Orlando Pizzi e Kapiau aqui.
Jorge Scudelari:
Desenho extremamente flexível, arte-final impecável, caracterização meticulosa da anatomia animal, seria um dos grandes nomes da animação senão tivesse optado por quadrinizar e ilustrar contos de fadas.
José Lanzelotti:
Raimundo, o Cangaceiro resumiu o trabalho heróico deste grande desenhista paulistano: documentação histórica, conhecimento da história, domínio do bico-de-pena, aquarela e guache. Lanzelotti viajou o Brasil inteiro retratando o nosso povo, isso está imortalizado na coleção da Editora3 Brasil, histórias, costumes e lendas. Seu traço marcou a HQ brasileira. Também criou excelentes personagens secundários como Cary, Pedrito e Pequeno Cantador. Foi chamado de “Debret Nacional do Século XX”. Acesse o fotolog do artista aqui.
Gutemberg:
Os desenhos dramáticos deste piracibano, com forte uso do sombreado e da aguada, valorizaram inúmeras HQs de terror ou de época. Apesar disso, ficava extremamente à vontade no desenho mais caricatural e de humor.
Sérgio Lima:
Desenhista extremamente talentoso dominava muito bem expressões faciais e perspectivas, criando cenas de intensa dramaticidade. Fez carreira nos Quadrinhos de Terror, mas também produziu várias HQs românticas, quase fotonovelas em Quadrinhos. Desenhou vários roteiros de Gedeone Malagola e personagens Disney para Abril, em especial as HQs com a Maga Patalógica. Fez os Trapalhões na fase da Bloch. Morava em Santos com a mãe. Saiba mais aqui.
Lyrio Aragão:
Grande criador de tipos para Quadrinhos, possuía grande controle na arte-final a pincel. Usava modelos para desenhar e assim, atingia um alto grau de realismo em seus Quadrinhos. O que não impedia que criasse desenhos estilizados para tiras de jornais para o estúdio de Mauricio de Sousa.
Manoel Ferreira:
Desenhista com estilo pesado, recheado de sombreados, arte-final com pinceladas vigorosas e muitas manchas de nanquim. Desde o esboço, já trazia uma marcação forte de luz e sombra, criando forte impacto visual.
Messias de Mello:
Pai do famoso animador Daniel Messias, Messias de Mello tinha um desenho exuberante e um lindo estilo de arte-final com pincel seco, com o qual imortalizou Os Três Mosqueteiros, O Máscara de Ferro, Robinson Crusoe, Os Miseráveis, O Conde de Monte Cristo. Como cartunista, num estilo mais humorístico criou para a Gazeta Esportiva mascotes como o Santo do São Paulo, o Periquito do Palmeiras, a Macaca da Ponte Preta, o Menino Travesso do Juventus, o Mosqueteiro do Corinthians. Visite o site de Messias de Melo aqui.
Luiz Saydenberg:
Desenho dinâmico, bem movimentado, personagens bem posicionados, com poses bem naturais: detalhes que só um bom observador, com o uso do modelo vivo e fotografias, é capaz de reproduzir. Seu traço era bem talhado para o Terror e Suspense, temas de sucesso nas HQs de sua época. Saiba mais aqui.
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