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Quem Quer Ser um Milionário?, o grande vencedor do Oscar 2009 |
A 81ª cerimônia do Oscar, no Kodak Theater, foi apresentada por Hugh Jackman, o "Wolverine" dos X-Men e começou com atraso de meia hora do horário planejado (22h de Brasília). Quem Quer Ser um Milionário?, dirigido pelo britânico Danny Boyle, foi o grande vencedor da noite com oito Oscars (filme, diretor, trilha sonora original, canção original, fotografia, montagem, roteiro adaptado e som) dos 10 a que havia sido indicado, não deixando rastro sobre rastro para as 13 indicações de O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher, filme que levou apenas três estatuetas, óbvias mas não cruciais.
Como devemos ler isso? O filme de Danny Boyle tem outros comprometimentos do que simplesmente ser mais um filme premiado. Há coisas de altíssimo calibre em jogo, que o público em geral nem faz idéia assim que compra o bilhete no cinema pra ver um filme. Há uma Europa segregacionista, muito xenófoba, atualmente (o filme pode ser lido como um alento, um apoio, uma crítica) e há as razões comerciais que percorrem as mentes dos grandes estúdios – principalmente as corporações americanas – e os fazem se aproximar do enorme mercado consumidor cinematográfico que é a Índia. Não é à toa que a novela da Globo também enfoca esse tema. Ou alguém imagina que é coincidência? O Brasil é o "primo pobre" daquilo que se denomina BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), e em geral é um dos preteridos dentro dos temas de um Fórum de Davos, na Suíça. Ah, sim, o tema aqui é Cinema. Voltemos a ele.
Numa noite cheia dos mistérios, pois a Imprensa não tinha mais acesso, como nos anos anteriores, a quem iria apresentar que Oscar, algumas coisas eram previsíveis – a principal dela era o Oscar póstumo de Heath Ledger, o ator falecido que mais ganhou prêmio mundo afora, por Batman – O Cavaleiro das Trevas. Restava saber quem iria levar a estatueta, em nome dele. E houve, sim, uma bela premiação, merecidíssima – Kate Winslet (em O Leitor) vencendo Meryl Streep (em Dúvida). Vamos, então, aos premiados:
MELHOR FILME
Quem Quer Ser um Milionário? (produtor: Christian Colson)
Comentário: Um papa-tudo, simplesmente um tsunami cinematográfico vindo das favelas de Mombai.
MELHOR ATOR
Sean Penn for Milk – A Voz da Igualdade
Comentário: Convenhamos, é um ator maior. Sean Penn deu vida ao ativista americano Harvey Milk, que personificou nos anos 70 a luta dos gays pelos direitos civis. O diretor, Gus Van Sant, que é gay assumido, diz que realizou o filme não para advogar em causa própria, mas por causa do roteiro de Dustin Lance Black.
MELHOR ATRIZ
Kate Winslet por O Leitor
Comentário: Justiça seja feita. Kate já tinha sido indicada seis vezes ao Oscar, a primeira delas por Razão e Sensibilidade. Meryl Streep é uma gigante, não pairam dúvidas, mas diante de suas 15 indicações, justiça seja mesmo feita. Winslet só poderia perder para Streep. Mas este é o ano desta inglesa, que também está em Foi Apenas Um Sonho (dirigido pelo marido dela, Sam Mendes, o mesmo de Beleza Americana). E, marketeira, já anunciou que não aparece nua em mais nenhum outro filme. Tá bom.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Heath Ledger por Batman – O Cavaleiro das Trevas
Comentário: Esse é o tão previsível Oscar póstumo de Heath Ledger, que morreu aos 28 anos, em Nova York. Também pudera, não é a toda hora que um filme está prestes a bater a bilheteria mundial de Titanic. O Cavaleiro das Trevas já fez mais de US$ 1 bilhão (exatos US$ US$ 1.001.082,160 até sexta-feira, dia 20/02) por todo o planeta. A dúvida maior e crucial em todas as bolsas de apostas, acreditem, era mesmo quem iria subir ao palco do Kodak Theater e receber a estatueta caso Ledger vencesse. E o Oscar foi para o pai, a mãe e a irmã do ator. Matilda, a filha de Ledger com Michele Williams (atriz que ele conheceu nas filmagens de O Segredo de Brokeback Mountain), terá o Oscar do pai quando completar 18 anos. Mas isso são detalhes póstumos e nada cinematográficos.
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A espanhola Penélope Cruz, Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante |
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Penélope Cruz por Vicky Cristina Barcelona
Comentário: O primeiro Oscar anunciado da noite realmente parecia uma barbada. Ninguém chamou mais a atenção nos filmes de 2008 e mesmo entre as concorrentes deste ano do que Penélope Cruz, entre as candidatas ao Oscar de Melhor Coadjuvante feminina! Woody Allen, assim como a Espanha, também está de parabéns. (Aqui, no site Bigorna.net, acertamos esta aposta!) É o primeiro Oscar concedido a uma atriz espanhola. Antes disso, Penélope competiu à estatueta, como Melhor Atriz, no filme Volver.
MELHOR DIREÇÃO
Danny Boyle por Quem Quer Ser um Milionário?
Comentário: O destino já estava traçado. O diretor de Trainspotting (de 1996) acaba de ser reconhecido definitivamente pela Academia de Hollywood.
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Milk – A Voz da Igualdade (roteiro original: Dustin Lance Black)
Comentário: O filme de Gus Van Sant, que já estreou no Brasil, traz a história do ativismo gay nos EUA, mais precisamente na Califórnia. Mostra que a Academia está sendo política com todos os setores. Este é o roteiro que Van Sant tanto quis levar para as telas.
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Quem Quer Ser um Milionário? (adaptação por Simon Beaufoy)
Comentário: É o roteiro que venceu o Globo de Ouro, na mesma categoria. Mostra que filmes americanos, ao menos neste ano de crise econômica interna dos EUA, preferem mais sonhar com o dinheiro de Bollywood. Mais um Oscar político da Academia, no ano em que a Índia deve mostrar mais as garras na OMC e também na distribuição cinematográfica. Muita gente para público e bilheteria, portanto muito dinheiro. Por essas e por outras é que foi anunciado que a Globo está entrando no mercado televisivo do Timor-Leste com Sinhá Moça, vendendo uma produção suntuosa de telenovela feita em alta definição, de época, direção de fotografia cinematográfica absolutamente primorosa. Ou seja, nada é por acaso. A Ásia é a menina dos olhos, nos próximos anos.
MELHOR DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA
Quem Quer Ser um Milionário? (dir. de fotografia: Anthony "Dod" Mantle)
Comentário: A caprichada direção de fotografia de Mantle conseguiu superar a de Benjamin Button (Claudio Miranda) e de O Cavaleiro das Trevas (Wally Pfister). Um dos Oscars importantes do filme de Danny Boyle. Anthony Mantle, o diretor de fotografia, foi quem filmou, em alta definição, a dupla de filmes de Lars Von Trier, Dogville e Manderlay. O rapaz tem méritos.
MELHOR MONTAGEM
Quem Quer Ser um Milionário? (montador: Chris Dickens)
Comentário: A montagem de Chris Denkins foi eleita a melhor, superando as de Benjamin Button (Kirk Baxter e Angus Wall) e de Batman – O Cavaleiro das Trevas (Lee Smith). O filme indiano está com tudo.
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE / DESENHO DE PRODUÇÃO
O Curioso Caso de Benjamin Button (Donald Graham Burt e Victor J. Zolfo)
Comentário: Realmente é um trabalho primoroso de direção de arte, o de Benjamin Button. Foi o primeiro Oscar dos 13 anunciados para o filme de David Fincher. A recriação de mais de oitenta anos de História, passando pela Segunda Guerra, a mudança dos detalhes, todos os detalhes fizeram valer o prêmio.
MELHOR FIGURINO
A Duquesa (figurinos de Michael O'Connor)
Comentário: Outro trabalho primoroso. Fizemos esta previsão aqui, no site Bigorna.net. O figurino de A Duquesa é deslumbrante. O'Connor já produziu figurinos para filmes como A Casa dos Espíritos, Killing Me Softly (Mata-me de Prazer), Oscar e Lucinda, Emma, Harry Potter e a Câmara Secreta e Quills (Os Contos Proibidos do Marquês de Sade). Belíssimos filmes, em termos de figurino, diga-se de passagem.
MELHOR MAQUIAGEM
O Curioso Caso de Benjamin Button (equipe de Greg Cannom)
Comentário: Outra de nossas apostas aqui, no Bigorna.net. A maquiagem criada pela equipe de Greg Cannom, em sentido reverso, em cima do rosto e do corpo de Brad Pitt, é muito interessante de assistir, à medida que o filme desenrola. Mais até do que as demais maquiagens (contando-se a de Cate Blanchett). Merecido. Eram horas de maquiagem sobre o rosto de Brad Pitt para compor o imensamente humano Benjamin Button. Greg Cannom tem a experiência de quem fez A Paixão de Cristo (de Mel Gibson), Vida e Morte de Peter Sellers (da HBO Films) e a trilogia Piratas do Caribe.
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
Quem Quer Ser um Milionário? (música de A.R. Rahman)
Comentário: A.R. Rahman já havia trabalhado inclusive para Shekhar Kapur, diretor de Elizabeth – A Era de Ouro, de 2007. É um autor prolífico demais, capaz de produzir de cinco a seis trilhas por ano. Esse número mostra, por si, a importância da indústria cinematográfica de Bollywood, ou melhor, Bombaim.
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Quem Quer Ser um Milionário? (canção: Jai Ho, composta por A.R. Rahman e Sampooran Singh Gulzar)
MELHOR (CRIAÇÃO DE) SOM
Quem Quer Ser um Milionário? (sonoplastia de Ian Tapp, Richard Pryke e Resul Pookutty)
Comentário: Interessante esse filme ganhar em cima do som de um Batman – O Cavaleiro das Trevas.
MELHOR EDIÇÃO DE SOM
Batman – O Cavaleiro das Trevas (editor: Richard King)
Comentário: Richard King é tarimbado. Fez edição de som para filmes como Twister, O Exorcista (na versão editada pelo diretor William Friedkin) e O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford.
MELHORES EFEITOS VISUAIS
O Curioso Caso de Benjamin Button (equipe de Eric Barba, Steve Preeg, Burt Dalton e Craig Barron)Comentário: Um bom Oscar para o filme de David Fincher, justo, mas cá entre nós, não pareceu mesmo ser um bom indício. É um chamado "Oscar técnico". Não tem jeito, a lavada dos principais Oscars foi mesmo indiana.
MELHOR FILME EM ANIMAÇÃO
WALL·E (dir.: Andrew Stanton)
Comentário: Nada de novo no front, nas bolsas de apostas, já era esperada a vitória do robozinho romântico perante o cão e o urso panda kung fu, mas convenhamos que pesou mais o lobby da Disney/Pixar. Melhor para Andrew Stanton, o mesmo mago por trás de Procurando Nemo.
MELHOR FILME ESTRANGEIRO (LINGUA NÃO INGLESA)
Okuribito / Departures (dir.: Yojiro Takita, do Japão)
Comentário: A história de um violoncelista que se vê sem um emprego, uma vez que a orquestra de que fazia parte foi dissolvida. Ele decide partir para sua cidade natal com a esposa e arranja um emprego no mínimo diferente – ser preparador de defuntos ("Nokanshi") para o enterro e a conseqüente entrada no outro mundo
MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA METRAGEM
Man on Wire (dir.: James Marsh e Simon Chinn)
Comentário: O filme do equilibrista que passou de uma torre à outra, do World Trade Center, tem mais cara de uma lembrança dos dias anteriores ao ataque do Al Qaeda. Melhor lembrar desses dias do que o que aconteceu depois. Produção de 2008. Soaria como homenagem?
MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM
Smile Pinki (dir.: Megan Mylan)
Comentário: A Pinki do título é uma garotinha de cinco anos de idade, da cidade de Mirzapur, na Índia, nascida numa família extremamente pobre. Pinki tem um problema labial que a faz ficar solitária e à parte das outras crianças, até que um médico que anda de vila em vila a descobre para levá-la a um hospital e preparar uma operação corretiva. Assim Pinki poderá sorrir. É um conto de fadas muito atual e tocante.
MELHOR CURTA COM AÇÃO AO VIVO
Spielzeugland (dir.: Jochen Alexander Freydank)
Comentário: Spielzeugland tem 13 minutos, fala sobre um menino alemão que imagina que o seu vizinho, um garotinho judeu, esteja indo em direção a Toyland, uma terra de brinquedos durante os anos da II Guerra Mundial. A mentira e a culpa na cabeça de uma criança. Havia vencido 14 prêmios anteriormente. Algo meio na linha do politicamente correto O Menino do Pijama Listrado (livro e filme). A Europa revendo o Holocausto, numa época de bafafá no Vaticano exatamente por causa deste assunto. Não podemos esquecer as atuais questões raciais no continente europeu.
MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
La Maison en petits cubes (dir.: Kunio Kato)
Comentário: O filme, dirigido pelo jovem Kunio Kato e lançado no mercado americano em 2008, já foi exibido no Anima Mundi, aqui no Brasil. O curta, de 12 minutos, fala de um vovô que constrói andares sobre andares de uma casa, à medida que o nível de água avança, e assim é também a uma história sobre as memórias de sua família. A Disney não ia ficar ganhando todas, vamos combinar.