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Por Eloyr Pacheco 30/01/2009 Manoel de Souza é um editor muito acessível, mas não gosta de entregar o jogo! Conseguir informações dele em primeira mão não é fácil! (Risos.) À frente da revista Mundo dos Super-Heróis, considerada atualmente a melhor publicação do gênero, Manoel de Souza coordena uma equipe de primeira e guarda planos e projetos para o futuro com muito carinho. Depois de ganhar terreno com a MSH, Manoel lançou o álbum História do Brasil em Quadrinhos (saiba mais aqui). Nesta entrevista ele comenta sobre sua formação, seu trabalho na Editora Europa, as recentes mudanças na MSH, e conta um pouco do que está por vir.
Como surgiu seu interesse por Histórias em Quadrinhos? Isso vem desde minha infância, quando lia Mônica e Disney. Mas tornei-me mesmo um viciado no assunto a partir de 1985, quando tinha 11 anos e alguns amigos da escola me apresentaram os heróis Marvel. Dali em diante não parei mais e comecei a ler de tudo: Marvel, DC, europeus, Quadrinhos nacionais, underground... Lembra qual foi o primeiro gibi de super-herói da Marvel que leu? No começo dos anos 1980, eu lia alguns gibis de super-heróis da RGE e da Abril, mas não os acompanhava com tanto afinco. Lembro que um primo me deu de presente a Heróis da TV #1. Li, gostei, mas depois joguei fora. Quase 20 anos depois, consegui adquirir novamente essa edição e guardo com todo o carinho. De 1985 em diante, quando virei fã mesmo de gibis de super-heróis, minhas duas primeiras edições foram Hulk #21 e Capitão América #70. De vez em quando ainda releio as duas com grande nostalgia. Quais seus Quadrinhos preferidos? Como disse, leio de tudo. Mas tenho certa preferência por Marvel, DC e HQs nacionais. E quais seus roteiristas e desenhistas preferidos? Putz, gosto de tanta coisa e de tantos gêneros... Alan Moore, Frank Miller, Stan Lee, Ziraldo, Alex Ross, Bill Sienkiewicz, Joh Byrne... Curto boas HQs e bons desenhos. Se a história for divertida e instigante já vale o preço de capa.
Qual a sua “gibiteca básica”? Tenho uma coleção mediana, de uns 4.000 gibis, entre eles tudo que acompanhei na década de 1980 e outras coisas que curto bastante. Também guardo algumas revistas que considero importantes para minhas pesquisas na Mundo. Mas geralmente só coleciono o que gosto. Não tenho fixação em completar coleções. Pode citar três álbuns, arcos ou séries essenciais em qualquer Gibiteca Básica? Isso é bem difícil. Várias HQs, revistas e livros me marcaram. Lembro de um livro do Jeremias, o Bom, do Ziraldo lá do fim dos anos 1960 que era uma obra-prima; das edições da revista Circo editada pelo Luiz Gê nos anos 1980; do Demolidor do Miller na saudosa Superaventuras Marvel; de Watchmen do Moore; X-Men do Byrne/Claremont... Minha lista é enorme e não caberia aqui. Como é a sua coleção de Quadrinhos? Qual raridade você guarda a sete chaves? Separo todos meus gibis em porta-revistas e tenho uma catalogação no Excel para facilitar a pesquisa. Acho que minha maior raridade é o Dicionário Marvel que demorei 15 anos para completar. Até escrevi um artigo sobre ele na Mundo #1. Fora isso, tenho alguns exemplares do Balão, o fanzine dos anos 1970 editado pelos alunos da FAU, muitas revistas da EBAL e da GEP, além de gibis brasileiros de diversas épocas e algumas coisas importadas... Estudei Desenho de Comunicação pela escola técnica Carlos de Campos. Comecei a faculdade de Design de Multimídia, no Senac, mas não terminei. Na verdade, considero que tive três "faculdades". A primeira foram meus assíduos anos de leitura de Quadrinhos, meu curso de desenho e minha fase como fanzineiro. Minha segunda faculdade foi minha primeira década de trabalho na Editora Europa, onde passei por intermináveis fechamentos e aprendi a diagramar, editar arte, escrever reportagens e liderar equipes. Nos últimos cinco anos estou na "terceira faculdade", focado na edição das revistas Natureza e da Mundo dos Super-Heróis. Fora alguns livros e projetos paralelos. Há quanto tempo você trabalha na Editora Europa? Em março de 2009 completo 15 anos. Em 2004 você publicou o livro Loucuras das Séries de TV. Como foi essa empreitada?
Fora a visibilidade, o livro vendeu bem? Razoável. Pelo que me lembro, imprimiram uns 3.000 exemplares e vendeu 2.000 e poucos. De vez em quando ainda recebo algum dinheiro dos direitos autorais. Como foi o desenvolvimento da revista Mundo dos Super-Heróis? A história é longa. Quando comecei a desenhar em 1985, já bolava minhas próprias revistinhas. Nunca separei as coisas pois gostava de tudo: roteiro, desenho, edição. Depois virei fanzineiro no começo dos anos 1990, quando editava o Ovo, uma revista em xerox que fazia com meus amigos do colégio. Mesmo não trabalhando diretamente com Quadrinhos, fiquei anos planejando uma revista sobre o tema. Por volta de 2003 isso ficou mais sério, pois consegui convencer os diretores da Europa a criarmos uma edição especial da Revista dos Curiosos, publicação editada pelo Marcelo Duarte. Na tal edição, chamada Mundo Pop, eu falaria sobre cinema, séries de TV e – é claro – Quadrinhos. Esse foi o embrião da Mundo. Infelizmente a Revista dos Curiosos foi descontinuada e meu projeto ficou de lado. Dois anos e pouco depois consegui convencer os mesmos diretores a lançar um especial sobre o Superman para pegarmos rabeira na estréia do filme do Bryan Singer. Fiquei meses desenvolvendo o projeto, mas rolou outro problema: chegamos à conclusão que não era uma boa criar uma revista inteira sobre só um personagem pois isso poderia gerar problemas com os direitos autorais e licenciamento da Warner. Por conta disso, um mês antes do lançamento, tive que reestruturar completamente o projeto. Na hora fiquei muito frustrado, mas hoje vejo que isso foi ótimo, pois consegui deixar a Mundo do jeito que queria, com seções bem diversificadas sobre heróis e artistas de diversas épocas e países.
E como foi que você começou a ler Quadrinhos Nacionais? Faz mais de 20 anos. Comecei com os super-heróis básicos da Marvel e fui evoluindo para as graphic novels, HQs européias e trabalhos mais adultos. Daí conheci a Chiclete com Banana e me apaixonei. Aliás, considero a Chiclete a melhor revista brasileira de Quadrinhos já criada. Em segundo lugar vem a O Bicho, da década de 1970. E quais os personagens nacionais que você mais curte? Todos do Angeli, Laerte, Ziraldo e Glauco. Dos heróis, gosto da Mulher Estupenda, do Cometa e do Necronauta. Ah, seu Escorpião de Prata é bem bacana também, Eloyr. Obrigado pela parte que me toca! (risos). Você tem acompanhado o atual movimento do Quadrinho Alternativo? O que acha do trabalho do pessoal do Quarto Mundo? Sim, acompanho tudo isso bem de perto e compro tudo que eles lançam. Vivo me surpreendendo com a qualidade de alguns trabalhos do Quarto Mundo. Há caras muito bons no grupo. Você esperava a grande aceitação que a Mundo está tendo? Sim, porque sempre achei que existia uma lacuna nesse mercado. Com a Mundo dos Super-Heróis, tento com fazer a revista que eu esperava ver nas bancas, mas que nunca encontrei. Para isso, juntei influências diversas: o trabalho pop do editor Marcelo Duarte (autor do Guia dos Curiosos), o tom objetivo de algumas revistas de informação (Superinteressante, Veja, Época), o toque pessoal da Chiclete com Banana e, é claro, tudo que aprendi nas publicações da Editora Europa.
Creio que o fato da Mundo ter recebido dois HQMIX como Melhor Publicação Sobre Quadrinhos deve ter ajudado na sua permanência na editora, certo? Olha, ganhar prêmios é sempre legal e dá visibilidade. Mas o importante mesmo é ganhar leitores. São eles que fazem a diferença e pagam a conta de todo o processo. O que mais ajudou a Mundo dos Super-Heróis foi a resposta positiva dos leitores. Por isso, me mato a cada edição para deixá-los satisfeitos e dispostos a continuar conosco. Sim. Nossa idéia é expandir o grupo de Quadrinhos da editora. Adoro escrever e editar reportagens mas meu sonho é editar Quadrinhos. Gostaria de experimentar algumas soluções diferentes nessa área. Há outros projetos na mesma linha? Sim. Já estamos trabalhando na segunda edição de História do Brasil em Quadrinhos. Fora isso, estou editando dois livros que fazem parte do grupo da Mundo dos Super-Heróis. Pretendo lançá-los esse ano. Pode falar um pouco mais sobre os planos para esta expansão? Ainda é cedo para passar detalhes, pois estou em fase de edição do material. Mas pretendo, com um desses livros, lançar o melhor trabalho da minha carreira. Perto dele, até agora a Mundo foi só um aquecimento. Só que ainda preciso de uns meses para chegar no ideal nível de qualidade. Torço para que essa crise não atrapalhe meus planos. A Editora Europa é bastante grande, mas certamente os sócios não tolerariam prejuízo. Como estão as vendas da revista Mundo dos Super-Heróis? Felizmente a Mundo sempre deu lucro desde sua primeira edição. Mas ele está aquém do que eu gostaria e do que merecemos diante do trabalho colossal dispensado a cada edição. Mas insisto na revista e acredito muito nela. Considero que meu trabalho está na metade do caminho. Esses últimos 30 meses foram gastos em tornar a revista estabelecida e melhor resolvida. No caminho encontrei pessoas fantásticas que compraram a idéia do projeto e se dedicam para valer. Sou muito grato ao apoio da Editora Europa e à equipe da revista. Mas estou sempre de olho nas vendas. Se não vender, adeus revista! Isso funciona com qualquer título, em qualquer editora. A equipe da Mundo é realmente muito boa. Quais os primeiros profissionais que você convidou para participar do projeto? Os primeiros foram o Antônio Santos e o André Morelli que me acompanham desde o início, mesmo quando nem havia a certeza de que a revista chegaria nas bancas. O Morelli aliás é meu braço direito hoje. Fora eles, tenho vários amigos de colégio na equipe como o Fransérgio Rodrigues, Celso Kodama e Tarsis Salvatore. Após o lançamento da Mundo #1, conheci diversos caras muito bons como o Maurício Muniz, o Jota Silvestre, o Eder Pegoraro, o José Salles, o Antônio Luiz Ribeiro, o Claudio Murena... Putz, é gente demais para eu me lembrar de todos. Peço desculpas antecipadamente se esqueci de alguém. Todos os envolvidos são importantes. Todo mundo dá o sangue pela revista. A tão mal afamada distribuição setorizada é o que anda tornando nosso processo viável. Nos dias de hoje, é muito complicado imprimir milhares de exemplares extras para lançar a revista no Brasil todo de uma tacada só. A Mundo primeiro vai para São Paulo e Rio de Janeiro. Permanece lá um mês para depois ser redistribuída nos outros estados. Para esse pessoal que não mora no eixo Rio-São Paulo, temos a opção de assinatura. E acho isso muito vantajoso: geralmente há um desconto de 50% no preço de capa e a revista é mandada pelo correio assim que chega da gráfica. Agora, para os paulistas e cariocas, é mais rápido comprar em bancas, pois a distribuidora é muito mais eficiente do que o correio. A Mundo passa de 84 para 100 páginas e ganha capa com maior gramatura a partir da edição deste mês, a número 14. Que outras novidades a edição apresenta? Caprichamos ao máximo na pauta: fizemos um dossiê bem diferenciado sobre a carreira do Stan Lee, mostramos os detalhes da minissérie Watchmen e a criação do Spirit. Fora isso, fizemos uma homenagem ao Claudio Seto e ampliamos algumas seções. Espero que os leitores gostem. A partir de agora, a Mundo dos Super-Heróis entra numa nova fase. Para mim, um dos grandes destaques da Mundo é a capa, sempre produzida por grandes ilustradores. Como é o processo de seleção dos capistas? Recebo muitos candidatos a capistas que mandam seus portfólios por e-mail. Catalogo o trabalho de todos eles e costumo fazer testes para adequar o estilo do artista ao conceito de cada capa. Sempre dou preferência aos iniciantes. Já trabalhei como desenhista e sei como é difícil entrar nesse mercado. Você também desenha? Eu desenhava, mas parei faz um bom tempo. Meu sonho era criar coisas tão legais quanto os trabalhos do Ziraldo ou do Luiz Gê. Mas me encontrei na área de edição de revistas. Um dia pretendo voltar a desenhar e tocar uns projetos de Quadrinhos que nunca finalizei. Como o Bené Nascimento veio a produzir a capa da MSH #14? O Benê se ofereceu após eu tê-lo entrevistado na edição 13. Ele é um grande fã da Mundo e se empenhou bastante nessa ilustração sobre os heróis do Stan Lee. Foi uma honra contar com a presença dele na revista e isso ajudou a deixá-la ainda mais especial. Pode adiantar quem produzirá a próxima capa? Já defini os próximos três dossiês e agora estou estudando suas capas. Por enquanto, a situação está indefinida. Mas tenho muitos talentosos candidatos para desenhá-las. Arrancar informações de você não é fácil! (risos). Tem algum projeto específico que queira noticiar? Ainda não. Falar demais atrapalha. Prefiro trabalhar e pegar o leitor de surpresa, sempre oferecendo mais do que ele espera. Tento me esforçar bastante para isso. Obrigado, Manoel, pela entrevista. E parabéns pelo seu trabalho à frente da Mundo. Vai em frente! Estou à sua disposição e obrigado pela oportunidade. O Bigorna.net agradece a Manoel de Souza pela entrevista concedida por e-mail e finalizada no dia 28 de janeiro de 2009. |
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