Marcelo D’Salete já é quase uma figura carimbada nas principais publicações de Quadrinhos brasileiras, seja independente – como a Graffiti 76% Quadrinhos – ou de casas editoriais – no caso, a Front, da editora Via Lettera. E justamente por essa editora que foi lançado o mais recente trabalho do autor, Noite Luz (formato 14 x 21 cm, 112 páginas, R$ 20,00). O citado trabalho é uma coletânea de histórias inéditas e outras já publicadas. Algumas delas como, por exemplo, Entre Rosas e Estrelas, foi publicada recentemente pela Graffiti, outra, como no caso de Noite Luz, já há vários anos.

O álbum Noite Luz foi criado por uma feliz coincidência. Há algum tempo, tive a oportunidade de conversar com D’Salete e ele disse que o livro “não é apenas uma coletânea, mas um projeto um pouco maior, onde as histórias possuem algumas conexões. Tudo isso começou com a história de nome Noite Luz que publiquei na Front número 12”. Um caso interessante é o álbum ter sido originalmente prometido para ser publicado primeiro na Argentina, pela editora independente Ex-Abrupto, o que acabou por acontecer por pouco. Logo após o lançamento no país vizinho ele saiu por aqui.

Mas, o que mais chama a atenção do trabalho de D’Salete neste livro é a narrativa. Cadenciada, cinematográfica, experimental; é tudo isso e mais um pouco. Os desenhos são excepcionais. Os traços do artista são singulares e transbordam o clima urbano; a sujeira e a opressão das ruas de uma cidade grande qualquer. Essa questão da urbanização é algo bastante marcante no trabalho dele. Tudo se passa em uma metrópole, em particular envolvendo a casa noturna que dá título ao livro. Destaque para personagens extremamente humanos. Eles poderiam ser qualquer um, alguém que eu ou você conheça, ou mesmo eu e você.

No total são seis contos que começam e terminam, assim como a vida comum, com o despertar de um dia qualquer. Para completar a apresentação do excelente material, há uma introdução na primeira orelha escrita por Bruno Azevêdo, roteirista que já trabalhou com Marcelo em outras HQs. Antes mesmo das histórias há outro texto chamado d’salete e seu trompete (assim em minúsculo mesmo), quem assina é Allan da Rosa. Dá para escrever mais a respeito? Dá sim, mas daí perderia a graça. Não deixe de ler. Vale a pena.