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Entrevista: Nel Angeiras
Por Eloyr Pacheco
19/12/2008

Manoel Angeiras (Nel para os mais chegados!) é um cara alegre. Suas respostas às minhas perguntas foram sempre carregadas de brincadeiras e a descontração marcou este bate-papo por e-mail. Nel tornou-se mais conhecido no meio editorial independente depois que passou a trabalhar na série Penitente, de Lorde Lobo. Recentemente ele anunciou uma publicação própria: os Noturnos (saiba mais aqui). Embora brincalhão, Nel é um cara que trabalha muito e sabe onde quer chegar. Nesta entrevista ele fala sobre seu ganha-pão, seu trabalho no Penitente e seus projetos, especialmente Noturnos. Confira!

Essa é para começar e faço para todos: como surgiu seu interesse por Quadrinhos?

Desde garoto, quando o meu pai sempre trazia uma HQ pra mim no fim de semana, ele gostava de estimular a leitura dos filhos, mal sabia que estava alimentando outra paixão de um deles. Com o tempo as coisas aconteceram iguais a tantos outros.

Você ainda tem guardada alguma revista que seu pai lhe deu?

Sim, uma do Capitão América e outra do Tex, as outras sumiram com os anos, com as arrumações que minha mãe fazia no quarto mensalmente (risos).

Quais seus autores/quadrinhistas preferidos?

São tantos que fica difícil citar todos, mas gosto muito do Edgar Alan Poe, H. P. Lovecraft, Clive Baker, Alan Moore, Mark Millar, Peter David, Frank Miller só pra citar alguns.

Quais HQs você considera essenciais para uma “Gibiteca Básica”?

Planetary, Autorithy, Maus, 300, Akira, O Cavaleiro das Trevas 1, Monstro do Pântano e Miracleman.

No Brasil poucos vivem da produção de Histórias em Quadrinhos. Você faz parte desse grupo?

Não, tenho o meu emprego e ganho razoavelmente bem. Gosto de HQs e se um dia eu conseguir trocar o meu emprego e viver deles, será uma mudança muito feliz. Mas a realidade nos impõe uma perspectiva bem diferente, quem sabe isso um dia mude.

E qual é a sua profissão?

Desenhista Publicitário e Web Design, atualmente sou o chefe do Setor de Marketing da Empresa onde trabalho.

Qual é a sua formação?

Sou formado em administração, desenho publicitário e web design, fora alguns cursos e palestras de aprimoramento, principalmente nessa área que entrei por acaso, mas venho desempenhando (eu acho - risos.) bem na empresa há dois anos.

Então você faz todo o trabalho de Quadrinhos nas horas “vagas”? Fale um pouco da sua rotina.

Todas as noites depois do trabalho, durante a semana, quando chego em casa tenho o meu ritual, banho, esposa, filho, jantar, jornal. Depois é que sento pra desenhar algo, na verdade me divirto com isso e relaxo. Em média passo duas horas na prancha e no monitor (pintura digital), no fim de semana tiro pra diversão e pra adiantar um pouco as coisas. Tento sempre não me sobrecarregar muito, já que isso refletiria de forma ruim no resultado final do meu trabalho. Em média faço duas páginas, mas vi que isso me deixaria sem tempo se virasse rotina durante a semana, por isso optei fazer uma página apenas por dia.

Como foi que você conheceu o Lorde Lobo?

Pelo fotolog do Terra. Como fui incentivado por alguns amigos anos atrás a criar o meu espaço, coloquei meus desenhos sem pretensão alguma, seria apenas para trocar comentários, em um certo dia, um dos comentários dizia que ele tinha um personagem semelhante ao meu (era o Lorde Lobo), soou o alarme “poxa ralei pra criar algo diferente e já tem neguinho dizendo que eu plagiei algo dele”. Entrei em contato por e-mail com o Lobo, colocamos todos os pontos nos seus lugares e trocamos figurinhas, foi quando ele me fez um convite, se eu não queria colocar esse meu personagem (Ponto Zero) na sua revista, foi quando descobri que ele era um editor, e do Areia Hostil (zine premiado), pensei porque não, ele saiu se não me engano na edição 12 ou foi 13, não lembro. Já esse personagem dele, Tiro Certo, que seria um encontro com o Ponto Zero esta numa historia que sairia na ultima edição do AH planejada, mas ela foi cancelada infelizmente. A história esta pronta e quem sabe, sai em outra mídia esse encontro. Daí cultivamos uma boa amizade até hoje, assim como com outros artistas.

E por onde anda o Ponto Zero?

Esperando uma oportunidade para voltar, embora tenha apenas três histórias, só uma foi publicada. Quem sabe eu faça o mesmo que fiz com Treviat (lançado no HQ Nado) e consiga uma nova casa para ele e suas aventuras.

WebComics podem ser uma saída... Mas não é a mesma coisa que ler um gibi, não é mesmo?! O que você acha?

Eu colocaria as WebComics como um braço de apoio, tanto para divulgar um trabalho do autor, como a divulgação de uma revista. Mas nunca trocaria uma edição impressa pelo monitor. Pode ser que o futuro seja mesmo a web, mas pra isso tornar realidade ainda tem muito chão pra acontecer.

E seu trabalho com o Penitente, como está?

Cheio de sangue (risos). Quando topei participar da 1ª Edição do Penitente, já esperava que ele alcançasse esse destaque que tem hoje, e espero que vá mais longe ainda, A revista esta num pique enorme, e muitos artistas vem contribuindo com ela, alguns conhecidos internacionalmente, o que mostra o potencial do personagem. Agora é aguardar um pouco que muita coisa vem aí, já que começaram as mudanças de rumo no personagem e o surgimento de seus vilões, nada mais posso revelar. Venho reduzindo um pouco a minha participação na revista para dar continuidade a o meu projeto (Noturnos), já que vinha auxiliando muito outros artistas, não só o Lorde Lobo, e deixando o meu em 3º plano. Mas não vou me afastar tão cedo da revista do Penitente, essa nossa parceria vai durar por muito tempo ainda. Mas será inevitável uma edição ou outra o meu afastamento, pelo menos sentirei se faço falta na edição, caso os leitores reclamem de algo (ou de minha ausência ou porque sou ruim de doer! [risos]).

Quais seus planos para o Noturnos?

Pretendo fazer uma edição por ano, historias fechadas, mas interligadas em vários pontos, para que o leitor possa acompanhar mesmo que perca alguma edição. Estou preparando um blog para eles, onde vou apresentar vários materiais, além de umas animações que têm ligação direta com a revista. Nada que atrapalhe que não ver essas animações, será apenas os pontos escuros e passáveis da trama.  

As capas que você produziu para as edições #1 e 2 de Penitente são ótimas e estão sendo muito elogiadas. Como você as desenvolve?

Sério!!!! O Lobo falava e eu não acreditava (risos). Falando sério, as capas do Penitente foram laboratórios para técnicas que estava (ainda estou) aprendendo. Eu vejo as histórias do Penitente como algo mais na linha Vertigo da DC e nas capas que por ali passaram. Sempre admirei aqueles trabalhos, e se estou conseguindo elogios, devo estar indo no caminho certo.

Eu também acho as capas que você produziu muito boas! Uma hora destas quero ver como fica o Escorpião de Prata no seu traço!

Obrigado, mas o prazer será todo meu com certeza em fazer uma capa para o Escorpião um dia.

Legal, vamos combinar isso! O que você acha do movimento do Quadrinho Independente no momento?

Parece ser a única solução para essa ausência de material Nacional nas bancas. O que me chateia e muito, é essa mania de coitadinho que cai sobre o Autor Nacional. As coisas ainda estão presas há décadas passadas, o que piorou e muito a visão que se tem desse mundo alternativo, principalmente as histórias de Heróis. Tem tanto material de primeira, mas a pessoas viram a cara por ser nacional já devido a essa imagem que ficou de coisa ruim, de anos de material fraco. Tem uma geração nova aí tentando mudar isso, produzindo material de qualidade, fazendo pesquisas para criar suas histórias, levando anos para fazer algo divertido para o leitor, que é o que importa, mas tem sempre aqueles que querem permanecer presos às coisas antigas sem tentar inovar ou dar o braço a torcer pra essa turma nova que realmente esta tentando algo. O Quarto Mundo esta aí pra mostrar isso, edições como O Penitente, Lorde Kramus, Tempestade Cerebral, O Homem Grilo, FDP, Arena e Projeto Continuum entre tantos outros, nos faz acreditar que a coisa pode mudar, desde que se desprendam das amarras do passado e comecem a pensar no hoje em diante. Ou tudo isso não passara de um pequeno BUM momentâneo como tantos outros e passará.

Concordo com você: essa imagem negativa ficou complicada de enfrentar, embora nos anos 1980 tivéssemos ótimos títulos como Mestres do Terror e Calafrio e ainda Piratas do Tietê e Chiclete com Banana, entre outros. O que você ainda acha que falta para mudar essa imagem?

Bons trabalhos, algo que chame a atenção do leitor, algo que faça com que ele se interesse pelo produto, que o faça querer mais. Isso exige qualidade de roteiros, artes e personagens carismáticos que façam o leitor se divertir. Não basta rascunhar qualquer coisa e mendigar por atenção. É deixar o trabalho falar por si.

O que você acha que uma revista independente deve ter para se destacar num mercado tão competitivo como o brasileiro?

Investimento, já que muitas vezes o custo sai do próprio bolso do autor. Mas como falei anteriormente, o material deve ter algo que faça barulho, que chame a atenção.

Vou ser um pouco redundante, mas o que você acha que podemos fazer para manter cativo o público conquistado e criar um novo público para os Quadrinhos Nacionais?

Boas histórias, boas matérias, personagens cativantes, bons artistas envolvidos e uma boa divulgação.

Voltando a falar da Noturnos. Você vai bancar tudo isso sozinho. Como espera ganhar dinheiro com a revista: anunciantes, patrocínio, venda?

Bom você já deu a resposta na perguntar (risos). Já tenho alguns patrocinadores que estão interessados e vou correr atrás de alguns anunciantes á claro. Espero apenas fazer dinheiro necessário para o segundo número. Mas o leitor será o termômetro do que vai acontecer com o futuro deles, sem eles não haverá uma segunda edição.

Você acabou de lançar um blog dedicado aos personagens da série Noturnos. Mesmo com pouco tempo no ar, já é possível comentar sobre a aceitação do projeto?

Não, ainda é muito cedo. Vou esperar um pouco mais de tempo pra saber  como esta a aceitação do que já foi mostrado no blog e no flog, e a aceitação dos meus personagens.
 
E como está o seu cronograma de produção da revista? Já tem data certa para lançamento?

A data ainda não, estou refazendo alguns quadros e faltas algumas páginas serem pintadas, mas sairá com certeza em 2009 no primeiro semestre.

Quais títulos nacionais você tem acompanhado com freqüência?

Projeto Continuum, Penitente, Lorde Kramus, FDP, Manicomics quando ainda era publicado, e venho tentando acompanhar mais outros títulos na Bodega do Leonardo Santana. Torço para que apareçam mais títulos como esses.

O Quarto Mundo, a meu ver, tem o grande mérito de, além de divulgar o Quadrinho Nacional, de colaborar na melhoria da distribuição, que é uma pedra no sapato de qualquer editor.

Com certeza. Era algo necessário para o HQ alternativo, sem falar que entra naquilo que estávamos falando antes. O material apresentado e a qualidade deles. Torço muito que ele se expanda ainda mais até um nível de se tornar algo ainda mais importante para as revista alternativas.

Obrigado pela entrevista, Nel. Parabéns pelo seu trabalho e continue firme na sua jornada. Valeu!

Eu que agradeço Eloyr, valeu a loucura de ter me entrevistado, só espero que os acessos do site não caiam depois que os internautas lerem essa entrevista (risos).

Eu corro o risco! (risos)

O Bigorna.net agradece a Nel Angeiras pela entrevista concedida por e-mail e finalizada no dia 12 de dezembro de 2008

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