|
Por Matheus Moura 10/11/2008 O ano de 2008 foi atípico com relação à produção cultural. Essa diferença se dá pelo grande número de obras referentes ao Centenário da Imigração Japonesa. Quem teve a oportunidade e a curiosidade de procurar em bancas e livrarias deve ter percebido esse aumento. É justamente com a leva de material comemorativo que saiu pela Editora JBC o álbum HQB-mangá, O Filho da Costureira e o Catador de Batatas, ou então, O Catador de Batatas e o Filho da Costureira (formato 13,5 x 20,5 cm, 112 páginas, ao preço de R$ 24,90), uma obra em conjunto de Ricardo Giassetti e Bruno D’Angelo. O leitor pode se perguntar o porquê de dois títulos, já explico. Na realidade o livro passa pelo pressuposto de ser dois em um. Essa é até a melhor idéia apresentada por ele. Não que a trama seja ruim, longe disso. Mas essa composição de livro duplo é demais! Ricardo concebeu o livro assim: da leitura oriental, o que seria a “leitura mangá”, o leitor acompanha a história de Ikemoto, um imigrante japonês – um dos primeiros – em sua saída do Japão, chegada ao Brasil e à ruína de seus sonhos; aqui o livro chama-se O Catador de Batatas (...). Nesta parte, para acompanhar a “leitura mangá”, todos os balões e os recordatários estão em japonês com as traduções no rodapé das páginas. No segundo livro – ou primeiro dependendo da opção de leitura – acompanhamos a vida de Isidoro, um menino “pretinho”, neto de escravos e trabalhador desde cedo. Ele que é O Filho da Costureira (...), do título. Isidoro acaba por conhecer Ikemoto e seus caminhos se cruzam de determinada maneira que o final de ambos os livros é um só. Muito bom isso! A história de Isidoro, como é lida ocidentalmente, têm os balões escritos em português com legendas, ao rodapé, em japonês. No que tange à arte do álbum. D’Angelo faz um bom trabalho. Melhor na história de Ikemoto - o imigrante - com ótima anatomia, belas páginas duplas e pinceladas que remetem à arte da caligrafia japonesa, o Sumi-ê. No momento de narrar a história do brasileiro, D’Angelo peca, e muito. Não é raro os desenhos estarem tortos, sujos, com as linhas mal feitas, sem preenchimento de preto, um amontoado de rabiscos, um desastre. Há momentos que o se chega a pensar que o desenhista publicou esboços por estar com preguiça de fazer algo descente. Pode ser experimentalismo? Sim, essa foi a primeira impressão, mas com o decorrer da HQ isso acaba por perder o sentido. Uma pena. A questão do uso de português e japonês como as línguas do livro é outro acerto da composição. O leitor ao acompanhar a história do imigrante fica sem entender o que os japoneses dizem uns aos outros. Assim como o japonês – lá no Japão mesmo - que irá ler a parte “brasileira” do livro não vai entender o que é dito. Há aqui outro tipo de interação, interpretação e relação de receptor e emissor. O leitor brasileiro acaba que se coloca como o brasileiro perante o japonês e vice-versa. A aproximação que a publicação nacional de um livro estrangeiro – no caso japonês – cria entre emissor e receptor, é totalmente quebrada aqui. Interessantíssimo. Por fim, o trabalho de editoração da JBC não deixa a desejar, até o papel amarelado caiu bem à HQ. Vale à pena conferir. |
Quem Somos |
Publicidade |
Fale Conosco
|