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Resenha: O Último Elfo e O Último Ogro
Por Cadorno Teles
31/10/2008

A fantasia é um gênero artístico que usa a magia como atmosfera para narrar fatos num mundo fantástico, que é completamente diferente do nosso, completado com leis distintas da natureza que permitem a magia. Os autores do gênero constroem seus argumentos procurando mesclar um pouco do que sentiram em vida e em sua realidade. Tolkien escreveu suas obras tendo como retrato vivido as mazelas de duas grandes guerras. Construiu os arquétipos de suas histórias usando o mote da realidade. Outro exemplo de genialidade foi o de C.S. Lewis que modelou sua Nárnia com o que viu na Inglaterra atacada e nos textos bíblicos e conseguiu ser comparado com O Senhor dos Anéis por suas criação. E hoje, no universo de Harry Potter, Eragon, Alex Ryder, entre outros, encontramos poucos autores que primam a narrativa da dinâmica psicológica com profundidade em nossa realidade histórica.

Dois livros, publicados recentemente, trazem essa contextualização que os grandes fantasistas deixaram para a posteridade. Diferente dos escritores de roteiros para cinema, a italiana Silvana De Mari, com O Último Elfo e O Último Ogro, trilha o mesmo caminho que Rowling, Paolini, Stuart Hill, Greenwood caminham, mas só o tempo confirmará essa afirmativa. A autora traz nos dois livros o lado mais cruel de nossa história, como o genocídio e o racismo numa narrativa fantástica, com toques realísticos, num mundo onde dragões, elfos, humanos e orcs convivem.

Vencedora dos prêmios Andersen (Itália) e Imaginales (França), com O Último Elfo (L'ultimo elfo, tradução de Y.A. Figueiredo, Pavio, 272 páginas, R$ 38,00), De Mari apresenta um mundo desolado por tiranos, pelas Chuvas Infinitas – um dilúvio que inundou grandes partes das terras conhecidas, com fronteiras ameaçadas pelos cruéis bárbaros ogros. É nesse lugar que conhecemos Yorsh, uma criança elfa, único sobrevivente da destruição de sua aldeia. Ante a fome, o frio e o desespero, vence o medo e se aproxima dos humanos. Um caçador e sua mulher o acolhem, alheios a tudo, e nem imaginam as conseqüências que ocorreriam após aquela ação de puro carinho com o próximo. Yorsh era o último elfo vivo; os elfos eram um povo de incrível sabedoria e magia, mas que foram massacrados pela ganância e a inveja humana. Em uma jornada incrível Yorsh reunirá um grupo que tentará modificar essa história. Um velho dragão, uma menina que conseguiu escapar de uma espécie de orfanato, entre outros, são só alguns dos companheiros desse grupo, e juntos lutarão para concretizar uma profecia. 
 

O Último Ogro
(L'ultimo orco, tradução de Mario Fondelli, Pavio, 696 páginas, R$ 69,50), continua a história de Yorsh, mas com a ação baseada, pelo menos até o meio do livro, em outro personagem, o capitão Rankstrail. Nascido nos Confins veio morar, após as Chuvas Infinitas, na região externa à muralha de Varil. Sua família não tinha quase nenhum ganho, e desde garoto, o futuro militar procurou ajudá-los, caçando nas terras dos nobre, que eram proibidas. Após a doença do pai, se alistou como mercenário. E na sua primeira missão, mostrou inteligência, caráter e valentia para derrotar um grupo perigoso de ex-mercenários. Logo se tornou líder daquele grupo, e de simples guerreiro, se torna capitão da infância e da cavalaria ligeira de Daligar. O urso, como ficará conhecido, terá em frente um maior desafio: acabar com a ameaça dos ogros que estão atacando as cidades, arrasando-as e trucidando os habitantes das Terras Conhecidas. Além disso, um percalço que o tirano Juiz de Daligar ordena o fará escolher qual caminho seguir; perseguir outro inimigo dos homens, o elfo maldito. Rankstrail é forçado a encontrar o grupo comandado pelo último elfo e assim encontrará Yorsh e seu exército de deserdados. Os dois personagens, com suas vidas marcadas pelas adversidades, pelo sofrimento, pelo sonho de liberdade, pelo sentido de justiça e amor, acabam se unindo para vencer um inimigo comum, os ogros e um comparsa surpreendente.

Os dois livros agradarão tantos os apaixonados por cenas de batalha, como aqueles que procuram diálogos contextualizados. No segundo, os confrontos, as escaramuças, os cercos são detalhados, até mesmo duelos verbais, a autora explora a "arte da guerra" em todos os nuances. Outro ponto é a capacidade da linguagem, que a autora aborda, os personagens percebem o poder conferido para aqueles que a palavra de forma sensata e impulsiona corações. A dinâmica psicológica de cada personagem também é bem retratada pela escritora. Os protagonistas têm em comum, além da capacidade de lutar por diversos motivos, o doloroso legado de seus descendentes, bem explorados pela autora, as dúvidas e os dilemas serão o seu tormento. Terão que lutar contra o ciúme, o medo, a tentação da facilidade, da vergonha e da culpa, para mostrar àqueles que os segue o real sentido da liberdade.

Entretanto, a tradução pecou no título, no original, poderia ter sido traduzido como O Último Orc, mas preferiram colocá-lo como O Último Ogro. Apesar disso, os dois, publicados pelo selo Pavio, da editora Rocco, são muito bons. A autora procurou representar em sua narrativa o sentimento daqueles que ousaram falar em prol da humanidade, aqueles que lutaram contra a barbárie, a crueldade, aqueles que pagaram com a vida por terem pensado a liberdade como um todo. 

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