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Entrevista: Felipe Cunha e Pablo Casado
Por Matheus Moura
17/10/2008

Felipe Cunha é desenhista e como ele mesmo define, é mais conhecido pelo trabalho na HQ Chuva Contra o Vento. Pablo Casado é roteirista, e junto com Felipe publicaram a primeira HQ em parceria chamada Terra do Nunca Love Song Five, há alguns anos. Atualmente ambos andam cheios de projetos e ontem (16/10) foi publicada pela MOJO Books o Mojo COMIX da dupla, baseado em Rock N’Roll All Nite, do KISS. Conheça um pouco mais os dois quadrinhistas no bate-papo abaixo. 
 
Quem é Felipe Cunha? E Pablo Casado?

Felipe Cunha: Felipe Cunha é alguém que se dá bem com Quadrinhos mais do que com qualquer coisa, trabalha com ilustração, trabalhou em agências de design e publicidade, arriscou outras coisas, mas o que dava refúgio e o fazia esquecer-se dos problemas eram os Quadrinhos. Hoje utiliza isso mais do que nunca, pra colocar pra fora as milhões de idéias de projetos que tem em mente, coisas menores, só pelo puro prazer e outras maiores, pra dar algum sentido maior a isso, coisas que, aliás, serão divulgadas muito em breve.

Pablo Casado: Pablo Casado é o sujeito que, quando moleque, tinha vergonha do sobrenome em questão. Preferia ser chamado de Pablo Lins para evitar as piadas de costume - "Meu Deus, tão novinho e já é casado?". Sério: ouvir esse tipo de coisa antes mesmo dos 10 anos de idade é, no mínimo, desconcertante. Com o passar do tempo, fiquei fascinado pelo sobrenome e sonoridade dele, e deixei o Lins, que é o sobrenome do meio, de lado. Só o uso na assinatura de documentos mesmo. Quando comecei a escrever a sério, já usava o Pablo Casado. Que, hoje, estuda Letras, trabalha numa instituição de educação profissional nacional e escreve Quadrinhos. E casou de fato. Sou chato, nerd que não tem cara de nerd, que adora televisão e cinema, começou a fumar aos 22 anos (depois de 21 sendo completamente contra cigarro) e não sabe se conseguiria viver numa cidade que não fosse litorânea.

Capas de Eterno (clique na imagem para vê-la ampliada)


Felipe, adiante alguma coisa aí pra gente!

Felipe: Uma delas eu realmente não posso dizer ainda do que se trata isso em termos de história ou pessoas envolvidas, mas posso dizer que estou fechando a produção de um álbum, com cerca de 100 páginas para o ano que vem. A única razão pela qual não posso ainda ser muito específico, é o fato de pendências burocráticas ainda estarem pra ser acertadas, portanto se dermos muito azar o projeto nem vai pra frente e fica ruim pra mim, por ter dito um monte de coisas sobre algo que morreu na praia. De qualquer forma, tá praticamente certo, essas pendências dificilmente atrapalharão alguma coisa, mas é bom ter um pouco de paciência. Fora isso, já estou em outro projeto com o Pablo, uma história de 8 páginas para o exterior. E com relação a essa eu só não dou mais detalhes pois realmente não sei o nível de liberdade que eu tenho nesse projeto, isso no que diz respeito a divulgação de detalhes mais específicos. 
 
E a trama dessa série de 100 páginas, só para dar o gostinho e aumentar a expectativa!

Felipe: O que eu posso dizer é que é uma adaptação de um livro, que conta uma história situada em um futuro não muito distante em que o mundo se depara com um problema sério que não pode simplesmente ser resolvido, as pessoas precisam lidar com isso através de caminhos variados, tudo depende do quanto você tem a perder. Mais do que isso, realmente não posso dizer. 

As capas de Chuva contra o vento (clique na imagem para vê-la ampliada)


 
Está certo. Fora o Pablo, que já mencionou, com quem mais trabalhou? E você Pablo, fora o Felipe, com quem mais trabalhou?

Felipe: A grande maioria dos meus projetos são com o Rodrigo Alonso. Ele é um amigo da época de colégio, onde já tínhamos várias idéias, mas nenhuma nunca foi pra frente. A coisa só começou a realmente dar certo quase dois anos depois da gente se formar, depois de cada um ir pro seu canto. O curioso é que o nosso primeiro projeto que foi até o fim não foi nem Quadrinhos, foi um clipe em animação que fizemos pra banda Forgotten Boys. Esse projeto indo até o fim nos encorajou a ir adiante com o que tínhamos em mente, e depois de assistir a uma palestra sobre Quadrinhos independentes eu cheguei pra ele e falei, "precisamos contar uma história". Nisso ele me apareceu no dia seguinte com o roteiro da primeira edição de Chuva Contra o Vento, provavelmente nosso trabalho mais reconhecido e que foi indicado em 2005 para o prêmio de melhor fanzine no HQ Mix. Esse projeto começou em 2004 e desde então não paramos mais, fizemos diversas histórias curtas e estamos atualmente trabalhando na série sucessora do Chuva, chamada Eterno que deve ter seu quinto número lançado no fim do mês. Fora eles dois trabalhei também com o Chuck Hipolitho (guitarrista do Forgotten Boys) que escreveu uma HQ que eu desenhe e foi publicada na Mosh!#7. Também trabalhei com a Rebs, que escreveu duas HQs, Janelas Quebradas que foi publicada na Front #18, e Acerto de Contas, que foi publicada na revista Álcool com Açúcar, revista na qual ela também trabalha como criadora e editora, e onde fiz também o projeto gráfico. Por fim, o americano Stephen Lindsay, criador da série Jesus Hates Zombies, da qual fiz parte com uma história de 5 páginas que ele escreveu, atualmente sendo publicada nos Estados Unidos, primeiro de forma independente e agora pela editora Alterna Comics.
 
Pablo: Tive a oportunidade de trabalhar com alguns desenhistas que, como eu, estavam e estão no começo da carreira — pelo menos no que diz respeito a HQs. Os dois primeiros foram o Thiago Oliveira, que é daqui de Maceió, e o Luciano Kars, que mora no interior de São Paulo. Ambos evoluíram um bocado desde que nos conhecemos, e são artistas com quem pretendo trabalhar de novo. Na verdade, estou devendo um roteiro para o Luciano. Outro com quem estou em dívida é o Jeferson Batista, com o qual fiz o meu primeiro e único trabalho remunerado até hoje, que foi uma HQ pornô prum site norte-americano que nem sei mais o nome. Rolaram também duas boas colaborações com o Denis Pacher, que trabalha como ilustração para jornais e revistas: a primeira foi uma HQ de cinco páginas chamada Don Caraleone é Mau!, que publiquei como fanzine; e a segunda foi One year later...? (Um ano depois...?), para a antologia britânica de caridade Just One Page, onde satirizamos um evento da DC Comics de mesmo nome. Com o Filipe Altino, que mora no interior de Minas Gerais, fiz a Ritos de passagem, que foi publicada no extinto site da NAPALM! Comics e pretendo republicar (provavelmente no site do Quarto Mundo, do qual faço parte). E, para fechar, mais dois conterrâneos: a fofa Chris Kelly, em Por favor, me deixe no escuro, e o Pablo Peixoto, meu parceiro em Bit Hunter Girl, série que teve duas edições em fanzine há mais dois anos e que está em vias de, finalmente, virar um webcomic. Todos foram colabores excelentes, solícitos e que acrescentaram aos roteiros. Acho que tenho um tico de sorte a mais do que muito roteirista iniciante por aí, que quebra cabeça com desenhista. 

E com esse tanto de projetos já feitos e com os que estão por vir, já dá para viver de HQs?

Felipe
: Infelizmente não. Com Quadrinhos posso dizer seguramente que não faço um centavo de lucro, os preços dos meus fanzines são mais simbólicos e se der alguma sorte, paga ao menos a gráfica, de resto é pra agregar um valor e fazer a pessoa ter um interesse um pouco maior pelo trabalho. A maior parte do que  eu faço são projetos independentes de pouca verba, o que já implica no lucro nulo. Mas tudo isso é um laboratório, pois é tudo feito principalmente pelo gosto de fazer Quadrinhos e isso te dá liberdade de experimentar, testar e ver como tudo funciona até estar apto a correr atrás de coisas maiores. Eu tenho milhares de projetos na fila pra pelo menos dois anos, mas cada um deles é milimetricamente planejado e tem um determinado objetivo, acredito que com isso consigamos ter uma base sólida pra despertar o interesse de editores ou outras pessoas interessadas em financiar estes projetos. Aos poucos é possível criar uma reputação e com um nível de trabalho feito com uma certa freqüência, faz as pessoas começarem a te notar, e daí quem sabe virar algo um pouco mais sério.

Não que eu não leve a sério, mas tendo um retorno correspondente a esse trabalho com Quadrinhos, é possível dedicar mais tempo a eles e produzir mais coisas, com mais qualidade. Hoje em dia, ainda é preciso trabalhar para o exterior pra receber algo digno pelo que você faz e ter uma certa segurança, e caso sua escolha seja esta, ainda é bom se dedicar de corpo e alma nesse laboratório no seu próprio país, pois dessa forma, mesmo que você tenha um interesse em ganhar dinheiro no exterior, ao menos contribuiu com material de qualidade para o mercado nacional. Aí nesse caso, depende dos objetivos dessa pessoa. Eu particularmente faço tudo isso nos meus tempos livres o que me deixa quase nada pra sair e se distrair, eu acredito no meu trabalho e no trabalho dos meus colaboradores, sei que se continuarmos com essa mentalidade iremos ainda muito longe. Hoje em dia, eu sou ilustrador, ganho dinheiro desenhando sim, mas não Quadrinhos, e trabalho principalmente com ilustração de moda e editorial. Eu particularmente não tenho o objetivo tão bem definido entre mercado nacional e internacional, eu vou trabalhar o máximo possível com as ferramentas que tenho ao meu alcance a oferta de trabalho que eventualmente vier como fruto disso, vou aceitar usando o critério de qualidade apenas, se for bom eu topo, sendo aqui ou lá fora.
 
Pablo: Nem nos meus sonhos mais insanos, hahaha. Como eu disse, só recebi por uma das histórias que produzi até hoje. Espero, claro, que no futuro possa viver disso ou que pelo menos gere alguma renda. Não fico me iludindo hoje como quando adolescente: estou terminando minha faculdade de Letras, pretendo emendar uma pós, imagino um mestrado e já tenho um bom emprego fixo. Se os Quadrinhos me derem algo além do simples prazer de poder produzi-los, como faço hoje, ótimo. Caso contrário, o Plano B já está em ação.

O que é esse projeto NAPALM! Comix?

Pablo: A NAPALM! Comics surgiu do desejo de um grupo de amigos daqui de Maceió em produzir suas próprias Histórias em Quadrinhos - e, quem sabe, produzir trabalhos para terceiros como um estúdio. Eu participei do projeto quando, durante um evento de mangás e animês aqui em Maceió, o pessoal estava lá com um cartaz meio que fazendo um alistamento de interessados. Fui escolhido e, com o tempo, além de colaborador, me tornei uma das pessoas que corria atrás para fazer a coisa andar. O grupo chegou a causar certo hype. Foi pequeno, mais causou. Aqui em Maceió, virou lenda urbana. Tem gente que lembra e pergunta quando vamos voltar. E olha que tinhamos tudo pra dar certo: o projeto foi selecionado para integrar uma incubadora cultural do Sebrae Alagoas, onde seríamos capacitados para virar uma micro-empresa. Fizemos alguns cursos, participamos de eventos e fomos duas vezes para o Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, o FIQ. Mas uma série de fatores fez a coisa ir se desintegrando aos poucos, infelizmente. Ficaram a experiência e as amizades.

Legal! Bom, lá no seu site há um anúncio de um tal de DUO, parceria sua com o Casado. O que vem a ser isso?

Felipe: É um projeto que temos já faz um tempo e parece que agora está tomando forma. É simplesmente uma coletânea de histórias nossas - três pra ser mais preciso. Estamos definindo data de lançamento que se tudo der certo será no ano que vem.

Pablo: Um dos nossos próximos projetos se chama DUO (que significa dois, dupla). É um apanhado do que produzimos desde que começamos a parceria. Uma mini-antologia, digamos, que deve ser bancada do nosso próprio bolso. Reunirá três HQs nossas: a já publicada em fanzine Terra do Nunca Love Song Five, redesenhada em alguns trechos e com uma página extra; Eye Gnat's Season, produzida para uma antologia de horror norte-americana e acabou não foi selecionada - vai se chamar Temporada Macabra; e Céus de Fênix, um roteiro meu de anos atrás do qual tenho muito orgulho e gosto, e que o Felipe leu e curtiu. São três histórias bem distintas. A idéia é complementar a mini-antologia com textos meus e esboços do Felipe, criando um tipo de making-of de cada HQ. Céus de Fênix está em fase de produção. As outras duas estão finalizadas. Estamos pequisando gráficas para realizar a impressão. A idéia é publicar ano que vem. O outro projeto, bem, ainda é segredo. O Felipe está desenhando o roteiro. Mais uma vez, ele me convidou. O que posso adiantar é que será um projeto publicado fora do país, com um monte de gente talentosa pra caramba. Acho que vamos ser os new kids on the block do negócio. 
 
Será lançado em uma revista própria ou algum outro zine/revista?

Felipe: Isso, uma revista própria e DUO será o título. 
 
Bacana! E quanto ao Chuva Contra o Vento de volta em 2008?? É a continuação ou pretende relançar? 

Felipe: É, a gente tá fazendo uma espécie de "remasterização", eu vou redesenhar alguns quadros e fazer um novo acabamento em todas as páginas, o Rodrigo está vendo se mexe em algum texto ou diálogo. Feito isso vamos relançá-lo em formato digital, com download gratuito em diversos formatos. Como eu disse, temos projetos pra pelo menos uns dois anos e quando fui listá-los no começo da entrevista deixei esses de fora. Eu tenho tudo anotado e planejado, mas não tenho a capacidade de lembrar tudo de cabeça...hehe 
 
Tá certo! Mas hoje, para quem quiser adquirir o Chuva impresso, ainda é possível? O que precisa fazer?

Felipe: Temos ainda as últimas cópias. Quem tiver interesse precisa mandar um e-mail pra damagehead@gmail.com e acertar os detalhes, mas tem pouquíssimas cópias e não pretendemos fazer novas, já que será distribuído gratuitamente em breve. 

Seu mais recente trabalho a ser publicado é um MOJO COMIX que saiu nesta semana. Adaptação de KISS? Conte um pouco sobre essa HQ... (nesse momento o Pablo Casado entra na conversa)

Felipe: Tenho pouco a acrescentar. A história toda me agradou desde o início, quando ainda era bem diferente do que vemos hoje. Acho que não funcionaria tão bem agregando o meu trabalho em algo que fosse mais piração, meu traço é uma coisa mais simplória mesmo e acho que por isso funcionou bem. Além do fato de ter colorido tudo também, o que deu uma camada que até então era inédita, pude usar algo mais pra traduzir ainda melhor a idéia. Posso dizer não apenas que gostei do resultado, mas que excedeu em muito minhas expectativas. Acho que tudo conspirou a favor desse projeto pois Terra Do Nunca foi muto bem aceito, teve boas críticas e até uma menção honrosa. Isso nos anima a querer fazer mais e mais, então a Mojo Comix foi uma conclusão natural.

Pablo: Eu soube do projeto da Mojo Comix antes de qualquer anúncio oficial no site da Mojo Books. O Cadu Simões repassou um e-mail do Ricardo Giassatti recrutando pessoal. Eu mandei um e-mail para o Ricardo com reviews de algumas das minhas HQs - Invisíveis, que saiu na Quadrinhópole #1, e Terra do Nunca Love Song Five, que o Felipe ilustrou. Ele disse para eu pensar em algo. Na época, Felipe e eu ainda não havíamos falado em fazer uma nova parceira para o projeto. Então eu estava sem desenhista. Fiquei imaginando qual música escolher. Da minha lista mental, acabei com Rock'n'roll all nite do KISS. Não por ser minha música preferida da banda, mas pela banda ser a minha preferida dos tempos de moleque e a música em questão ser a mais emblemática dela. Pensei em fazer uma história mais solta, divertida e sem compromisso, como a própria música. Depois eu vi que não conseguiria fazer algo nesse sentido - porque a coisa sempre passava do número de páginas determinado pelo projeto (na minha cabeça). Daí decidi pegar a essência da música: que é aquilo de curtir o momento, aproveitar o que rola. Em cima disso, eu podia escrever de modo mais abrangente, sem necessariamente cair na chapação que eu pretendia. O resultado final foi algo que pode ser considerado um romance com tons de lição de moral, mas nem teve essa intenção. Ainda é Rock'n'roll all nite, mas na versão acústica, digamos. A curtição ainda está lá, mesmo que num tom moderado.

E eu ainda aproveitei para brincar com a narração. Como tinha essa coisa da "lição de moral" e da curtição, tentei camuflar a obviedade que a história ganha ao passar das páginas - e como são poucas páginas, todo artifício que se puder usar é válido. Foi a mesma coisa com Terra do Nunca Love Song Five: o que eu poderia fazer para deixar a trama menos óbvia e dar uma cara específica pra ela? Daí rolou o lance da viagem com a droga alucinógena. Em Rock'n'roll all nite, digamos, decidi "rebobinar a fita". Nas duas vezes, pude contar com o Felipe, que curtiu as idéias, e deu a cara dele ao roteiro. E ainda acrescentou umas coisas. Não podia ter ficado mais satisfeito. 
 
Os dois falaram da Terra do Nunca. O que essa HQ tem que as outras não tem? Por que ela se faz um marco que desemboca na MOJO?

Pablo: Rolou uma química entre os nossos estilos na época, creio. Eu fazia parte de um grupo de quadrinistas com sede aqui em Maceió, chamado NAPALM! Comics (hoje falecido). O Felipe mandou um e-mail pra gente querendo fazer uma parceria. Eu, além de um dos roteiristas, era o responsável por checar os e-mails que recebíamos. Daí fui o primeiro a trocar idéias com ele. Dei uma olhada em ilustrações e páginas dele no Filosofia Ilustrada. Fiquei babando e querendo fazer algo com ele. Falei com o pessoal e, como todo mundo já estava ocupado na época, "sobrou pra mim", hah. Então trocamos uns e-mails. A história surgiu de uma experiência pessoal minha, um relacionamento amoroso do meu tempo de faculdade de jornalismo - a qual nunca terminei. Era a história de um sujeito apaixonado pela amiga, que o considerava um amigo especial. E só. Todo mundo sabe como termina esse tipo de história.

E eu não queria fazer apenas uma HQ melosinha entre adolescentes. Então pensei numa história onde o amigo convida a amiga para experimentar uma droga que provoca uma alucinação coletiva. E lá nesse mundo chapado ele acaba se declarando pra ela. Então ficou duas histórias numa só: a primeira e principal, do relacionamento fadado ao fracasso dos amigos; a segunda tratava a incursão dos dois num mundo que parecia ter saído do Final Fantasy. O tom pessoal da história, disfarçado no lance da viagem no ácido, agradou quem leu. E virou, pelo menos pra mim, um tipo de referência para o meu trabalho, que estava e ainda está se consolidando. O traço do Felipe deixou a coisa toda melhor, claro. E foi assim que nossa parceria começou. A primeira de quatro colaborações, no total. E, todas as vezes, ele aparece e me pede um roteiro, e eu meto a cara a fazer. É meio que o sentido inverso do que a gente vê, do roteirista sempre propondo ao desenhista. E, no nosso caso, tem funcionado muito bem. Espero que ele continue pedindo os roteiros. Eu só tenho a agradecer.

Felipe: hehe. É verdade. Sem dúvida minha vontade de produzir dá um belo empurrão na hora de ir atrás de projetos, mas não adiantaria nada se eu fosse atrás de trabalhos ruins, portanto eu sempre peço algo pro Pablo por que eu sei que é algo que vale a pena e sem dúvida vou continuar pedindo, se depender de mim ele vai continuar escrevendo ininterruptamente...hehe. E com relação a esse projeto também tenho pouco a acrescentar pois foi basicamente isso que o Pablo disse, uma coisa que funcionou bem e que começou bem despretensiosa. Eu não lembro o motivo do meu contato inicial, mas se nao me engano eu li alguma coisa no Universo HQ e fui atrás, conversamos um pouco e ele pegou esse roteiro que tinha mais a ver com o meu trabalho. Toda essa energia do trabalho culminou em algo que deu certo e se tornou referência quando o assunto é "o que podemos fazer em parceria?" Outro motivo pra HQ da Mojo ter funcionado bem, pois é literalmente uma resposta à essa pergunta.

O Bigorna.net agradece a Felipe Cunha e a Pablo Casado pela entrevista, concedida por MSN e finalizada em 13 de outubro de 2008.

 Veja também:

Conheça as revistas independentes de Pablo Casado

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