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Resenha: Graffiti 76% Quadrinhos #17
Por Matheus Moura
14/08/2008

Mais uma Graffiti, e no mínimo ótima! Assim como a antecessora essa edição faz uma homenagem a um país latino, entretanto agora é a vez de um sul-americano, a Argentina. Na contra-capa já encontramos algumas tiras do argentino Liniers, intituladas de Posters. Bem legais. O que mais chama a atenção é elas terem seus textos na língua original. A terceira capa funciona como uma extensão da segunda, tendo uma pequena biografia de Liniers, alguns comentários dele e mais uma tira. A primeira HQ, propriamente dita, é Entre Rosas e Estrelas, de Marcelo D'Salete. Assim como na Graffiti #16, D'Salete mostra ter traços bastante característicos e de personalidade, com o uso de preto e sombras marcantes. A HQ narra a noite de três grupos de indivíduos distintos, que acabam por se entrelaçar. Fatos da vida. Na página do índice há uma ilustração de Francisco Martins. Guazzelli assina a HQ Buenos Aires: Uma Paixão em Dez Encontros, onde ele narra suas idas a cidade com Bons Ares, como ele mesmo chega a perceber. Os desenhos são bastantes estilizados, dando uma noção de simplicidade até. Mas mesmo com toda essa “simplicidade”, o autor demonstra eximia noção de perspectiva e uso da linguagem das HQs, inserindo o texto em espaços não tradicionais. O melhor da história é ela ser baseada em fatos reais do autor. Guga Schultze apresenta-nos A câmera Imóvel, uma HQ experimental com um único ângulo, dois quadros por página. Onde cada quadro traz algo diferente. Há várias referências, de mitologia à HQs. Diferente.

Rinoceronte, de João Pinheiro, mostra um personagem antropomorfo (um rinoceronte) e seus pensamentos/reflexões a cerca da sociedade enquanto caminha pelas ruas da cidade. Os traços são muito bem executados. Apesar de, desde a primeira página, já se perceber a predominação do texto com relação à imagem. Para a intenção proposta pelo autor, isso acaba por enriquecer a HQ. Neste ponto da revista o couchê de então toma forma de papel jornal, uma segunda encadernação na revista (isso porque há três!). No jornal há uma HQ, escrita e desenhada por Fabiano Barroso, intitulada de O Eterno Retorno. É uma história legal, de um pessoal em uma nave espacial que passa por problemas em pleno retorno à Terra. Os diálogos e os acontecimentos são muito bem construídos. Os enquadramentos também chamam a atenção, assim como as frases - de diversos autores -  inseridas abaixo da história. Ao fim de O Eterno Retorno, o terceiro encadernamento, um pouco maior que uma folha A4 dobrada ao meio, em couchê e totalmente colorida, com 16 páginas. Na capa uma ilustração de Sylvio Ayala,  muito bonita e expressiva, com cores fortes e vibrantes. A maior história desse encadernado é escrita e desenhada por Caballero, Putz: Corra Idiota, Corra!. O destaque fica mesmo para as cores, já que todos os quadros são bastante semelhantes entre si. Não que a história seja desinteressante. Assim como o título já indica, há uma releitura (ou atualização mesmo) da premissa usada no filme alemão Corra Lola, Corra (Lola Rennt, 1998), com direção de Tom Tykwer, que é o cotidiano imutável das pessoas. Frases, de Odyr, é uma história reflexiva quanto ao ato de escrever. Muito interessante, principalmente os recursos gráficos usados. Para fechar o terceiro encadernado, uma curta HQ de Liniers, sem título, mas que usa – talvez – seu personagem mais famoso, o Conejo de Viaje.

Continuando o segundo caderno em papel jornal, um texto escrito por Guazzelli, Um encontro de Grafismos nos pampas: breve histórico das Histórias em Quadrinhos na Argentina. O título já diz tudo, o autor faz um levantamento bastante completo quanto à história das HQs na Argentina, com os intertítulos: O Início do Século 20, O aparecimento das revistas de História em Quadrinhos, A Idade de Ouro, O início da Decadência, A renovação na linguagem e Perspectivas para o Futuro. Voltamos às páginas em couchê, e agora uma história de Luciano Irrthum, chamada de A Nêga. Essa pequena HQ, de cinco páginas, originalmente foi publicada num zine de Araguari chamado Meninas Viciadas #9, editado por Beto Martins, da MRD Editora. No caso, quando saiu no Meninas, a arte de Irrthum estava bastante suja e com pequenos deslises nos textos. Agora, na Graffiti, a arte está totalmente refeita, com muita estilização, e o texto foi reconstruído ficando mais sintético e harmonioso. Rivoalto, de Pierro Bagnariol, parece ser uma continuação de La Piazza, que saiu na Graffiti #16. Pois ela trata da mesma época e há personagens semelhantes. Isso de parecer, é por não haver nenhuma indicação de tal. No entanto, Rivoalto usa os mesmo recursos gráficos que sua antecessora, e como ela, acaba sem avisar o leitor. Em seguida, quatro páginas de um ensaio fotográfico, chamado de Retratos de Tlön, concebidos por Enzo Giaquinto. Bng!!, de Bruno Azevedo e Márcio de Castro, é a história que ilustra a capa desta edição. Nela é mostrado o ponto de vista de um militar que faz parte de um pelotão de fuzilamento. A cidade Maltese é um texto escrito por Claudio dell'Orso baseado nas fotografias das páginas, as quais foram tiradas por Leone Frollo, e cedidas por Maurizio Ercole. As fotos são de Hugo Pratt e outros artistas em Veneza, no ano de 1949. A última história da revista é concebida por Fabrizio Passarella e Gianluca Constantini, Archeangiolie.  Uma HQ com bons traços, mas com o texto confuso pendendo ao surrealismo. É dela a imagem que compõe a quarta capa da revista.

Para fechar esta edição da Graffiti, cinco páginas com ilustrações de Maurizio Ercole, com o título de Exeter Fetus. Para mim, apesar de parecer ser uma HQ de único quadro, essa história está mais para ilustração seqüencial, e que – infelizmente – não dá para entender completamente por ter o texto abaixo das imagens escritos no que parece ser latim. Mais uma vez a Graffiti surpreende, aliás, já deixou de ser surpresa, para que isso ocorra é necessário uma edição ruim, sem novidades. Daí talvez o leitor seja realmente surpreendido com a revista. Pois com a qualidade que ela sempre se mostra, esperar menos não é uma opção.

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