O pintor espanhol Francesco Goya usou a imagem de um mito em suas pinturas, que serviu como modelo moderno para as gerações futuras. A longa tradição de ver as bruxas como velhas feias, com chapéus comprido e pretos, montadas em vassouras voadoras, entre outras características estereotipadas, moldaram a figura da bruxa até nossos dias. O professor de história Jeffrey B. Russell e o estudioso em novas religiões e jornalista Brooks Alexander fazem um verdadeiro périplo para desvendar a trajetória histórica do mito, percorrendo a figura mítica em um estudo abrangente, que resultou no livro História da Bruxaria (A New History of Witchcraft, tradução de Álvaro Cabral e William Lagos, 232 págs., R$ 49,00), recém-lançado pela editora Aleph, que caprichou na edição, papel diferenciado, imagens nítidas e um projeto gráfico bem tratado.
"O ressurgimento do interesse sobre a história da bruxaria, ocorrido nas últimas quatro décadas, tem sido extraordinário. Muitas abordagens apresentam valor considerável; mas tentar seguir todas elas poderia nublar o ponto central de que a odeia de bruxaria se desenvolveu ao longo de tempo, e de esse desenvolvimento é perceptível como um padrão histórico." Página 19
Russel e Brooks fazem uma revisão da edição de 1980, A History of Witchcraft, que foi lançado por aqui pela Campus, atualizando a história da bruxaria, antiga e moderna, além do estereótipo formado pelos contos de fadas, filmes, livros, e demais representações da figura de uma bruxa. Em diferentes pontos de vista, os autores abordam o conceito de bruxaria sob diferentes perspectivas, tudo amplamente pesquisado, como se vê na bibliografia utilizada pelos autores. Dividido em duas partes, a primeira Feitiçaria e Bruxaria Histórica e a segunda Bruxaria Moderna, o livro não é um estudo ocultista sobre o assunto, é uma abordagem antropológica, histórica e moderna para a obtenção de respostas mais exatas sobre o assunto. Os autores ampliam os horizontes sobre o tema, desmistificando a definição estabelecida, mostrando variações de bruxaria pelo mundo, e concepções errôneas sobre a bruxaria, como no caso da possessão, equívoco do período renascentista, e a idéia de que a bruxaria é um fenômeno da Idade Média. Um trabalho pungente, lúcido e estimulante, tanto para os leigos ou para os fãs de plantão.
"(...) A bruxaria não e um conceito coerente, mas um termo que abrange grande variedade de fenômenos interligados. Mas a magia conserva seu apelo, e a bruxaria não desaparecerá tão cedo desta Terra". página 207
Ao longo das mais de duzentas páginas, vemos os conceitos que foram colocados pelos séculos de história, a tênue linha divisória entre religião e magia, a feitiçaria no mundo; a gênese, o auge e o declínio da caça às bruxas; e revela como a bruxaria sobreviveu, se reciclou e atua na sociedade contemporânea, inclusive por meio das mídias modernas, liquidando e argumentando as diversas perguntas detratoras sobre o tema. Um livro que estabelece, enfim, as bases para os três tipos de bruxaria na história humana: a magia, que se estabeleceu e persistiu em todas as religiões e culturas, em todos os tempos, sob diversas formas, com diferentes níveis de aceitação; a maléfica, que é uma invenção da Idade Média européia, folclórica e política que custou a vida de muitas inocentes; e a bruxaria moderna, que é uma nova religião, a wicca. Excelente trabalho dos autores e caprichada edição da Aleph, História da Bruxaria chega como um estudo profundo e acadêmico sobre a bruxaria e também sobre um período mais terrível da história humana.