Eu publiquei uma charge no blog Os Amigos do Presidente Lula e muita gente não gostou. Os comentários e minha defesa estão aqui. Pessoal, em nenhum momento eu quis atacar a Dona Ruth, mas sim brincar com o fato que é o temor de FHC com a vinda de um arquivo vivo dos tempos de corrupção no seu governo. Ninguém da Imprensa perguntou a ele o que acha da extradição do corrupto Cacciola. A charge tem essa possibilidade, imaginar fatos, acontecimentos, diálogos, que nunca existiram. E brincar com isso. Isso é humor. Muitos podem ter ficado ofendidos com a charge (e com vocês, eu me desculpo), mas quando eu a criei, contei como piada no meio de um grupo de 10 pessoas e todos riram. Daí resolvi desenhar, era uma piada engraçada. O problema foi quando eu desenhei. O pessoal da Imprensa do sindicato achou que acabou ficando "pesada". Tecnicamente ela está redonda: o texto dos balões ficou enxuto e brinca com os conceitos de ir e voltar. Mostra o terror de FHC em ver seus crimes descobertos (é só ver todas as CPIs que o Brindeiro, o engavetador-geral da República, escondeu na época), tem o choro de alguém que se disse ateu (e pegou mal na época). Eu poderia ter tirado a citação à ex-primeira dama, mostrando a funcionária apenas espantada com o choro, mas ficaria muito sutil e talvez a mensagem não ficasse clara. Por isso optei por deixar o texto original. E não achei a charge pesada, ao contrário de outras que vemos na web que ligam as Obras do PAC a excrementos, ou chamam Ugo Chavez de cocô, por exemplo. Isso sim, um enfoque grosseiro e baixo. Até escrevi artigo sobre o assunto aqui.
Os jornais onde publico minhas charges (Sinergia, Petroleiros, Cometa, Folha de Minas, Meu Jornal Campinas) talvez não a publiquem. Mas eu não poderia deixar a charge inédita e a web é um bom local para se mostrar o que não se mostra em outros lugares. A charge é de minha inteira responsabilidade, o blog apenas a tornou pública. Meu amigo Éton, chargista do Sindicato dos Bancários de São Paulo já passou por isso. Tinha um gerente que era o terror de uma agência bancária. Quando ele morreu, o Éton o desenhou chegando ao inferno, sendo recebido por Lúcifer. Apesar de ser um tirano e ameaçar todo mundo, a reação dos bancários foi negativa, chegando até a ligarem reclamando no Depto. de Imprensa. E olhem que eu nem desenhei D. Ruth numa situação semelhante (e nem o faria). Eu apenas mostrei a funcionária perguntando se ele chorava pela esposa...
Outra charge que gerou controvérsias no blog foi a que eu fiz o Zé Dirceu com implante de cabelo e o juiz perguntando: -Você é o Zé Dirceu? E ele: -Eu? Nunquinha! O pessoal achou que eu não devia tirar sarro do Zé. Mas eu não resisti... O Hélio fez uma ótima avaliação aqui:
"Nosso caro amigo Bira fez uma charge de brincadeira com o implante capilar do Zé Dirceu e isso deflagrou uma verdadeira guerra nos comentários, dividindo adeptos do Presidente Lula de 2 lados, a favor e contra Zé Dirceu. Não acho que a charge foi ofensiva, foi apenas uma sátira de humor, e não vejo sentido censurá-la. Infelizmente muitos comentários repetiram as acusações que a Veja, a Globo, a Folha e o Estadão fazem sem mínimas provas contra Zé Dirceu. Acredito que muito disso tenha sido motivado porque Zé Dirceu também foi muito infeliz em alguns trechos da entrevista na Revista Piauí, mas vejam que pelo menos, ele se apressou em tentar corrigir tudo o que havia sido publicado contra o presidente Lula (ainda que o estrago tenha sido feito). No depoimento dele à justiça pela caso "mensalão", ele defendeu o Presidente Lula, ontem. A quem interessa intrigas entre nós, amigos do Presidente Lula, senão à oposição demo-tucana? Todos os leitores do blog podem ter sua preferência partidária (ou não gostar de partido nenhum), mas devemos respeitar os outros companheiros que apóiam o Presidente Lula, sejam de que partido for, ou de partido nenhum. O Presidente Lula é presidente de todos os brasileiros."
Carlos Soares:
"Sei lá, cara. Acho que a Ruth era de uma maneira tão acima de toda essa corja que temos na política, e quando digo toda é TODA mesmo, que não cabe brincar com ela. Eu não tenho nada contra a charge, só que tem gente que transcende brincadeira, sabe? Ela não estava nada preocupada em aparecer de chapinha nova e muito mais preocupada em ajudar os outros. Possuía idéias DELA e as defendia, como cotas sociais em vez de para negros somente. E nunca tomou partido. E pelo que me lembro, nunca vi ela se envolvendo em qualquer coisa da política bandida que é a brasileira. Ela só queria ajudar... e isso que não era nem uma "filha do povo"."
Santiago:
"Bira, a charge é muito engraçada e verdadeira, não é uma crítica à Dona Ruth, é uma critica ao governo FHC (que a Mídia protegeu a ponto de blindarem qualquer alusão ao seu filho bastardo com a jornalista Miriam Dutra). O jogo de palavras "foi" e "tá voltando" é a base da brincadeira."
Marco Vieira:
"Concordo com o Santiago. A charge não tem nada a ver com a Ruth, se ela foi boazinha, mazinha, manipuladinha ou outro inha. A charge é sobre o FHC, o que ele fez como governante e o que ele teme. As critícas são sobre respeitá-LO nesse momento de dor ou não. Cá pra mim: a pergunta é se o crápula que não respeitou milhões que dependiam dele, que choraram ou até morreram por causa de uma canetada dele merece esse compadecimento ou não. Resta saber o quão consciente ele foi quando se desviou do que pregava: isso é que fez dele crápula, merecedor ou não de compaixão. A charge é pra ELE e não pra ela. Como disse o Rodinério: as coisas se misturaram por questões religiosas: luto é sagrado, intocável e coisa e tal: todos merecem compaixão em momento de luto, independente do quão tinhoso tenha sido? Tem aquela cena clássica em que dois exércitos interrompem a matança pra que se recolha os mortos que estão no meio do campo de batalha pra logo em seguida voltar a se barbarizar. Tem lógica isso? Parar com a política (ou com o protesto político) por causa de luto? Ainda não respondi a nada disso: ao mesmo tempo que gostaria de compaixão dos meus inimigos nesse momento (porque exigiria respeito) não teria compaixão com eles a menos que os respeitasse. A princípio, luta política é luta ideológica. Quando o cara exerce cargo que o responsabiliza por tragédias pessoais a política se materializa e aí quem ta na chuva é pra se molhar."
Julio Shimamoto:
"LIGA NÃO, BIRÃO, É ASSIM MESMO. NELSON RODRIGUES JÁ DIZIA:" -TODA UNANIMIDADE É BURRA!"
Vasqs:
"A piada é muito boa. Só não vi o porquê de tanto barulho. A moçada anda com sensibilidade de borboleta... pras coisas do lado de lá! Pro lado de cá é cada grosseria... Abraço do Vasqs."
Rafael Dourado:
"Eu lamento muito pelo enrosco que o Bira está passando dessa vez. Eu lembro que na época que o Roberto Marinho se foi, eu fiz a minha charge que não foi lá muito amigável e também não foi bem vista - se bem que acredito que mais por deficiência técnica do que por "excesso de ousadia" no tema. Acho que as pessoas não sabem lidar bem com a crítica aos mortos - ou mesmo o humor negro que se torna possível quando as fatalidades acontecem. Lembro da série de tiras que fiz logo na semana seguinte do atentado do 11 de setembro, recebida com mal estar - mesmo que 15 dias depois já fosse piada no Casseta. Parece que é preciso "tempo" pra se curtir o trauma da morte antes de se fazer piada - e pra charges tão legais como essa do FHC, o timing se perderia. Uma pena. Mas não surpreende. Nossa sociedade não está madura o suficiente para humor negro..."
Paulo Barbosa:
"Caro Bira Dantas, Bira, vi a charge no teu blog hoje de manhã. Bem, não esquente a cabeça, nós, chargistas, que transitamos diariamente pelos limites do humor, estamos sujeitos a tudo. Muitas vezes, cometemos mancadas, erramos na avaliação dos fatos, procurando ser contundentes. E muitas vezes também é tarde demais para consertar esse eventual erro de avaliação: a charge já foi publicada. Está claro que você não quis tripudiar sobre o sofrimento do FHC. Eu mesmo já bati muito nele e sei que não é flor que se cheire. Entretanto, o episódio da morte de D. Ruth ainda não esfriou o suficiente e o pobre do FH, hoje, é apenas um marido que perdeu sua esposa. Mas é sábia a sua atitude de procurar refletir sobre isso. É sábio você se defender. Porém, lendo o que você mesmo escreveu, vê-se que você seria incapaz de fazer uma charge do tipo Chavez é igual a m&#%@, por isso mesmo soa estranho quando pega pesado. O humor também requer uma ética, foi o que eu aprendi após muitas cabeçadas ao longo da "profissão". Mas vale o seu mea culpa, fiquei sensibilizado com a sua grandeza em perceber que pode talvez quem sabe atirado com bala de canhão para atingir um passarinho. É isso aí, mermão, não esquenta, siga a adiante, porque futebol tem dessas coisas. Um abraço do Paulo Barbosa."
Leandro Doro:
"Dá nada, meu velho. É normal o pessoal se exacerbar nessa época. No dia que morreu Diana, trabalhava como repórter em um jornal. Saí cobrir a abertura de um evento com câmera fotográfica e bloquinho. Enquanto tentava me desviar de uns palhaços de perna de pau, do folclore francês, umas velhinhas me xingavam na platéia: - Paparazi! Paparazi!"
Fe Vitti:
"'Nossa sociedade não está madura o suficiente para humor negro...'. Pior quando acham graça, riem, mas logo depois se "arrependem" e mandam algo como: 'nossa, que maldade' ou pior... 'Que coisa sem graça...'. Achei a piada super válida e bem sacada. Pena os 'pseudo-politicamente corretos' se ofenderem para manter a 'civilidade' que lhes resta. Liga não, Bira."
Ivan Cabral:
"Já passei uns maus bocados por causa de uma charge. Choveu ligação e e-mail na redação do jornal; ligaram da Vara da Defesa da Criança, do Movimento Negro, escambau... O fato nasceu da manchete que seria (e foi) publicada no Jornal: Urubus são alimentados com frango. O caso era que em virtudes dos freqüentes acidentes com os choques das aves com os aviões, os técnicos decidiram transferir os urubus para uma região afastada. Antes, mediram, pesaram e alimentaram (com frango). Resolvi mostrar o paradoxo dos urubus sendo alimentados (nada contra isso) enquanto uma faixa da população (incluindo crianças) passa fome literalmente. Usei um personagem recorrente nas minhas charges; um moleque negrinho de pé chão na fila para ser alimentado; em outras palavras ser tratado e alimentado senão dignamente pelo menos como os urubus estavam sendo. Pronto! Foi a combinação necessária para eu ser taxado de racista. Eu estaria chamando os negros de urubus (logo eu que estou longe de ser branco). O jornal emitiu um editorial explicando tudo, mostrando que aquele era um personagem comum em minhas charges - normalmente defendo os excluídos (na sua maioria negros e pobres) e quais as minha verdadeiras intenções. Isso foi há uns 4 anos... Ninguém fala mais. Mas aprendi que um texto diz mais do que o seu autor intencionou dizer. No caso do Bira, acho que ocorreu uma conjugação de fatores semelhante. Não há nada errado na charge do Bira. Ele não desrespeitou Dona Ruth, embora a tenha citado na voz da empregada. Se essa charge fosse feita 6 meses depois do fato ocorrido provavelmente ninguem chiaria. O problema é de uma conjuntura psicológica social, são fatores alheios ao chargista interferindo na leitura da charge. E isso é praticamente inevitável. Infelizmente não conseguimos nos desvencilhar dos sentimentos envolvidos na morte de alguém; temos uma tendência a manter uma distância ética e moral afim de não magoarmos ninguém. O Bira certamente calculou este preço e achou por bem desenhar a crítica ao homem público cuja viuvez não muda em nada as implicações com os escândalos do seu governo. Choro maior será o nosso se começarmos a ser censurados por causa de uma charge."
Rodnério Rosa:
"Todos sem exceção (óbvio) vão virar carcaça um dia. Então, piadinha sobre os mortos só atinge aqueles cuja mente ainda guarda as fraquezas tão humanas relacionadas à criação religiosa. Bira, tem todo meu apoio."
Hals:
"O problema é que a Dona Ruth foi canonizada pela Globo e pela direita. Então qualquer comentário ou charge vira blasfêmia. O pessoal teve uma visão estreita neste caso."
A Todos...
Obrigado pelas suas opiniões em mensagens de várias listas de discussão. Eu entendo até a posição de quem acha que eu não devia ter mexido com a Dona Ruth. Mas vou concordar com a opinião de quem achou a idéia de publicar a charge acertada. É um assunto delicado, claro. Eu podia ter me isentado de publicá-la. Mas acho que minhas charges são tão sizudas, que quando pinta uma engraçada (ainda que tenha um humor mais mordaz) eu tenho que aproveitar. Não tenho nada contra a D. Ruth. Apesar de ter achado estranho ela não se posicionar quando os militares desceram a ripa nos índios que foram se manifestar contra o FHC. Puxa, ela era antropóloga. Deu a idéia do bolsa-escola. Escreveu muito em favor das minorias. E ali em pleno dia do Índio ela se calou. Mesmo com aquelas cenas bárbaras. Quanto a respeitar a dor de FHC, concordo com o que o Marco Vieira disse: 'FHC não respeitou a dor de quem sofria com o governo dele'. O Lula pelo menos reconhece que está fazendo menos do que queria antes da eleição. E ele fez mais do que a grande maioria dos que passaram por lá. Quantos admitem isso? Mas o que me pegou foram as cenas da missa de sétimo dia, 8 horas depois que eu postei a charge no blog: FHC se debulhando em lágrimas. Caraca! Será a tal charge mediúnica? Mas vejam que até na fala dele, num momento de dor, ele se mostra prepotente:
'Tento falar de Ruth. Não posso. O povo brasileiro entende!'. Ele poderia ter dito: - Gostaria de falar sobre minha companheira Ruth, mas não consigo. Espero que o povo brasileiro entenda". Seria mais humilde e mais fino.
Defesa da minha charge pelo Zé Augusto do Blog Amigos do Presidente Lula:
"Não podemos nos dividir no apoio ao Presidente Lula - Parte 1. Nosso caro amigo Bira fez uma charge de brincadeira com o implante capilar do Zé Dirceu e isso deflagrou uma verdadeira guerra nos comentários, dividindo adeptos do Presidente Lula de 2 lados, a favor e contra Zé Dirceu. Não acho que a charge foi ofensiva, foi apenas uma sátira de humor, e não vejo sentido censurá-la. Infelizmente muitos comentários repetiram as acusações que a Veja, a Globo, a Folha e o Estadão fazem sem mínimas provas contra Zé Dirceu. Acredito que muito disso tenha sido motivado porque Zé Dirceu também foi muito infeliz em alguns trechos da entrevista na Revista Piauí, mas vejam que pelo menos, ele se apressou em tentar corrigir tudo o que havia sido publicado contra o presidente Lula (ainda que o estrago tenha sido feito)."
(charges: Bira Dantas)