“Dominarás a carne mortal, mas sobreviverás escravo dela. Comandarás as feras, pois as supera em selvageria. Tu, que quiseste ser Meu igual, levarás a morte à humanidade. Mas sabe que, devido a tua arrogância, fiz-te impuro a Meus olhos, e o toque da pureza afungenta-te-á de agora em diante. Permanecerás na escuridão até aprender ou perecer em tua ignorância.”
As crônicas vampirescas da escritora norte-americana Anne Rice influenciaram em muito a cultura moderna em relação à visão que as pessoas têm dos vampiros. Basta olhar os filmes recentes, os romances e as Histórias em Quadrinhos, quase nenhum deles apresenta um vampiro que se exaspera quando posto de frente com uma cruz ou se intimida com a presença do alho ou mesmo com o toque da água benta. A própria White Wolf bebeu desta fonte para produzir os seus filhos da noite, com vampiros que são imunes a todos os antigos artefatos criados para os deterem, a não ser a luz do sol e o fogo. Mas apesar de todas essas modernidades e mudanças uma coisa é certa: nenhum vampiro até hoje foi tão famoso quanto Vlad Tepes, o famoso Conde Drácula.
Drácula pertence a um tempo mais vitoriano, onde as superstições eram mais elaboradas e ligadas muitas vezes ao misticismo da Igreja católica. Alguns estudos sérios até dizem que a lenda de Drácula está ligada a um príncipe sanguinário da antiga Transilvânia, amaldiçoado por Deus e que, portanto jurou ser inimigo do Mesmo. A White Wolf já havia usado Drácula antes no antigo Vampiro: Idade das Trevas, mas ele era de certa forma um elemento secundário quando comparado com os anti-diluvianos, os verdadeiros inimigos de toda sua raça. Agora para desfazer esse erro Drácula foi colocado nada mais e nada mesmo como um ser mítico, responsável por sua própria desgraça e criador de um grupo místico que investiga o sobrenatural em busca de poder.
Os Ritos do Dragão foi escrito para parecer o diário de Drácula e, diga-se de passagem, foi muito bem elaborado pelo seu escritor. Ele está dividido com uma introdução e três capítulos. A rápida introdução serve apenas para colocar o leitor no clima e mostrar que o livro foi feito para ser todo romanceado, sem sistemas de regras ou tabelas, assim como o antigo Livro de Nod, que contava a história de Caim e era a bíblia do antigo sistema Storyteller para os vampiros. No primeiro capitulo Drácula conta o infortúnio da maldição imposta a ele por Deus, o ódio da traição sofrida por aqueles em que confiava e como ele decide controlar a sua terra natal das sombras, manipulando aqueles que pode para ser o senhor de suas terras. Ele ainda esta ligado ao mundo mortal e pretende se tornar senhor de tudo que conhece. No capitulo dois já temos um Drácula mais desiludido com a carne e tentando buscar uma virtude para sua condição, ele deixa para trás suas ambições humanas e vai em busca de algo mais espiritual, tentando entender o que se tornou e o que pode vir a se tornar.
De seus estudos surge o que vira a ser conhecido como os Anéis do Dragão, poderes que permitem a ele e suas crias superar momentaneamente suas fraquezas principais: a luz do sol, o fogo que arde e a sua própria besta que espreita. Drácula ainda é um jovem vampiro e se vislumbra com o poder recém adquirido, mas já não tem aquela inocência mortal que permeia os morto-vivos em seus primeiros anos de vida. E por fim no terceiro capítulo conhecemos um Drácula maduro e senhor de si, que busca unir suas noivas e adeptos em sua filosofia e visão de mundo, mostrando que as outras coalizões possuem méritos, mas são vazias em seus propósitos. Para preencher esse vazio que Drácula sente em si mesmo e em sua espécie ele cria a Ordo Dracul, que posteriormente será reconhecida como a Coalizão mais enigmática e misteriosa do novo mundo das trevas.
Este livro é bem recomendado não apenas para aqueles que querem colocar um pouco mais de mistério em suas crônicas de vampiro, ou mesmo do mundo das trevas, mas para todos os leitores que gostarem de uma boa história sobre vampiros, e para aqueles que ainda tem o bom e velho Conde Drácula em boas contas como o maior de todos os vampiros que já existiu, ao invés daquele fedelho afetado que veste roupas de couro que a Anne Rice criou. A capa do livro é feita de veludo para dar um efeito visual apropriado e os desenhos são excelentes, dando um clima todo especial à história. Com tudo isso basta dizer que a Devir acertou ao lançar esse livro como um dos primeiros suplementos para Vampiro: o Réquiem aqui no Brasil, e vamos esperar por outros produtos com essa qualidade.