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As muitas vidas e histórias de André Diniz
Por Laudo Ferreira Junior
09/06/2008

Já se tornou comum autores de Quadrinhos, roteiristas e desenhistas, criarem trabalhos contando experiências vividas, grandes trechos de suas vidas, momentos marcantes, enfim, autobiografias desenhadas. Não é de hoje mesmo que o pessoal se aventura a contar no papel. Will Eisner que o diga. Porém, alguns caras como Crumb, por exemplo, ousaram mais que contar fatos vividos, chegando a revelar obscuros e secretos desejos, pensamentos e até viagens lisérgicas. Aqui, o estudioso de linguagens subliminares, professor roteirista e desenhista Flavio Calazans há alguns anos atrás criou o álbum Absurdo em parceria com Paula Prata. Nesse trabalho Calazans criou uma longa HQ a partir de uma sessão de hipnose.

Uma estranha seqüência desta HQ onde não se vê direito o rosto da mulher

Enfim, experiências vividas, contadas onde os autores abrem seus corações e almas para o leitor, que de certa forma, compartilhe o antes, o durante e o depois do que lhes é apresentado. A conclusão como sempre fica a cargo do leitor. O velho amigo André Diniz está terminando um trabalho ousado, feito em parceria com o cartunista Antonio Éder, parceiro seu do site Nona Arte e do álbum Chalaça lançado pela Editora Conrad. Diniz, que já ganhou prêmios pelo seu trabalho como editor e roteirista, sempre teve forte ligação com enredos ligados à nossa história, visto o próprio Chalaça, a série Subversivos que fala da ditadura militar, e os mais recentes Chico Rei e Ponha-se na rua, sem falar de Fawcett feito em parceria com o grande mestre Flavio Colin. Dessa vez, o trabalho que Diniz está finalizando também de certa forma trata de história, mas por outro lado mostra um pouco de uma experiência pessoal vivida do qual se entregou na sede do experimento, da aventura do inusitado e claro, desejoso de contar isso para seus leitores. Pra gente.

Tive a honra de ler esse roteiro em 2005 ainda em estado de lapidação e tive a honra de ver grande parte do lápis dessa HQ feita pelas mãos do Antonio, antes mesmo que o autor do texto. Vantagens de ser amigo dessas feras. Mas o que nos contará Diniz nesse futuro trabalho a ser lançado? Entre 2004 e 2005, Diniz, que atualmente reside em Petrópolis, freqüentou uma média de vinte sessões de regressão feitas por uma terapeuta especializada do Rio de Janeiro. Sua curiosidade em fazer essas sessões não teve na verdade nenhum interesse inicial em tratar problemas pessoais, psicológicos, traumas, coisas desse tipo. Nada disso. Por questões que demandam a cabeça de um criador e experimentador, sempre buscando coisas e formas novas, como é esse cara, e digo isso com propriedade de quem o conhece razoavelmente bem.
        
Nesse novo trabalho, Diniz se detém em contar sua experiência nas aproximadas vinte sessões de regressão feitas. Logicamente por uma questão de tempo na narrativa, algumas sessões foram aglutinadas, juntadas, para obviamente não se estender desnecessariamente ao leitor. Todas as experiências, as visualizações, digamos assim, de vidas anteriores, tiveram ligação uma com a outra, algo que inicialmente não fora percebido pelo próprio André, porém o leitor terá essa certeza ao longo da leitura, como por exemplo, uma questão envolvendo a perna direita do autor em quase todas as suas vidas passadas, em situações e memórias vivenciadas, em um ou outro canto havia algo ligado a sua perna. Curioso. Muito curioso. Diniz conta que após suas primeiras sessões, houve alguns insights, onde recordou alguns momentos de seu passado, de sua infância, dessa vida, claro, chegando mesmo a recordar de coisas vividas quando bebê. Lembranças que estavam definitivamente sepultadas em seu passado recente, mas que vieram à tona. Nesse trabalho, conforme o próprio André conta, há muito poucas seqüências cotidianas, fora das sessões e as que há possuem uma ligação com um determinado momento vivido, sentido em uma das regressões, como o período da gravidez de sua esposa.
          

Diniz e esposa em uma das poucas seqüencias desse trabalho aonde mostra o cotidiano do narrador


Algum ponto, seqüências desse trabalho do André em parceria com o Antonio Éder tem algumas curiosidades, “estranhezas” se me permitem dizer isso, como numa de suas “viagens de regressão” aonde se viu sendo queimado vivo (talvez um dos momentos mais densos e fortes dessa narrativa) tendo um óleo escuro e grosso jogado sobre seu corpo antes de ser incinerado, que até então desconhecia sua procedência e só depois de pesquisar, Diniz descobriu ser óleo de gordura de foca. Algo surpreendente e inédito para ele até então e talvez para muitos, porém uma prática comum no passado. Em muitos outros momentos em várias outras sessões também, Diniz se deparou com lugares desconhecidos e principalmente com objetos estranhos. Coisas que o levaram a pesquisar sua procedência. Confesso a vocês, que esse vosso escriba não se recorda agora, pois cheguei a conversar muito com ele sobre esse momento de seu trabalho, enfim, parece que algumas coisas tiveram respostas, outras não.
           
De uma maneira interessante, a parceria com o Antonio Éder, e seu excelente traço, característico de humor, dá um outro tom, perfeito, tirando a óbvia possibilidade de um traço mais tradicional o que ocasionalmente poderia até vir a tirar o tom correto da leitura. O trabalho ainda está sem título e principalmente sem editora. Mas André chega lá. Títulos são sempre um parto, mas não mais difícil que acertar a publicação. Mas o trabalho logo arrumará seu caminho editorial. Não há dúvidas. O trabalho começa e encerra (relaxem não contarei o final, não!!!!) deixando para que o leitor tire suas conclusões, suas opiniões. Diniz é sábio (não estou colocando-o em nenhum patamar) o suficiente para não impor nada, a experiência foi sua e ele simplesmente compartilha com o leitor, os futuros leitores que breve poderão desfrutar um pouco de um momento ímpar de sua vida, de descobertas, de aprendizados, de uma vivência emocional. Única. Não importando se foi real, se foi sonho, se o leitor irá crer ou não. Isso na verdade não importa. O desfrutar das emoções humanas a que estamos indiscutivelmente ligados em nossa condição primeira é o valioso e é essa que sempre vale a pena conhecermos não importa na verdade, quantas vidas já tenhamos tido ou venhamos ter.

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