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Por Ruy Jobim Neto 28/05/2008 O Cineasta Elétrico
A primeira vez em que me deparei com um longa dirigido por Sidney Pollack me parece ter sido exatamente O Cavaleiro Elétrico (The Electric Horseman), daí o título da matéria. Além disso, não farei aqui aquele tipo de texto que começa como um verbete do Wikipedia, afinal ele está lá exatamente para isso. Para ser consultado. Façamos diferente, e permitam aqui uma homenagem a este grande cineasta que perdemos nesta semana. No filme em questão, o do Cavaleiro, Robert Redford - alter ego do cineasta e do perfeito herói americano em tantos filmes de Pollack -, interpreta um cowboy decadente e desacreditado que, em Las Vegas, rouba um cavalo de show de rodeio para libertá-lo no deserto de Nevada. Atrás dele vai uma repórter, interpretada por Jane Fonda. A música do filme, sempre pelo mestre Dave Grusin, é embalada por canções na voz de Willie Nelson, que também está na película. Claro, o cavalo é solto, é um libelo à liberdade de expressão, algo tão caro aos americanos, e Redford e Fonda se apaixonam. Pollack nos constrói uma bela fábula e nos coloca para pensar. Coisa que ele adorava. Lembro que, após me apaixonar instantaneamente pelo filme, comecei a perseguir outros títulos dirigidos por Pollack e, por extensão, musicados pelo genial Grusin. Comecei a entrar nessa caverna, ver no que dava. E gostei muito. A próxima parada era Jeremiah Johnson (Mais Forte que a Vingança). Acabei de ver no Google que se trata de um filme de 1972, anterior portanto ao Cavaleiro. Novamente Redford, desta vez vivendo quase como um eremita nas montanhas rochosas americanas, outro libelo maravilhosamente filmado. Os filmes são muito bons, de qualidade, na maioria dramas. Mas foi em 1982 que Pollack me surpreendeu. Acho que a essa altura do campeonato eu já havia assistido (sempre na TV, de madrugada) a filmes dele como Três Dias do Condor – novamente com trilha composta por Dave Grusin. É um filme de suspense com um super elenco contracenando com Redford. Temos Faye Dunaway, John Houseman e Max Von Sydow. Lembro que na mesma época vi Ausência de Malícia, com Sally Field e Paul Newman. Outra parada obrigatória foi Nosso Amor de Ontem (The Way We Were), com Barbra Streisand cantando o lindo e famosíssimo tema principal e, claro, a presença de Robert Redford como seu par e protagonista. Pollack já era um diretor pra lá de consagrado quando me surpreendeu em 1982. Em Tootsie. E desta vez no cinema. Agora o mocinho é Michael Dorsey, ou Dorothy Michaels, como quiser. É um ator desempregado interpretado por ninguém menos que Dustin Hoffman. Jessica Lange, linda e maravilhosamente luminosa, faz Julie, a atriz intérprete de uma lasciva enfermeira numa novelinha (a chamada soap-opera) de televisão. E por que Pollack me surpreendeu? Por que ele aparece como ator, contracenando com Hoffman? Por que Jessica levou o Oscar pela categoria de Melhor Coadjuvante quando competiu duplamente e perdeu o de melhor intérprete por Frances? Não. Resposta errada. Pollack me deixou de quatro porque o filme era uma absoluta comédia, limpa, doce, terna, completa, redonda até o talo. Tootsie é maravilhosa. Apaixonante. A música de Grusin estava lá, claro, e ainda mais quando a letra de It Might Be You estava nas mãos competentes do casal Alan e Marilyn Bergman e a voz era a de Stephen Bishop. Você canta junto ao sair do cinema, torce por Michael, para que ele fique com Julie, de alguma forma, e se diverte com ele pedindo emprestado um vestido dela, nos créditos finais. Pollack me ganhou ali. Isso posto, vamos a outros filmes dele. E aí ele nos vem com Out of África (Entre Dois Amores). Ganha uma pilha de Oscar (sete ao total, todos os principais) naquele ano de 1985. Também pudera, ele coloca o seu astro de sempre, Robert Redford no coração do continente africano para disputar Meryl Streep (interpretando Karen Blixen, cujo pseudônimo literário era Isak Dinensen, a escritora dinamarquesa) com Klaus Maria Brandauer, o ator alemão de Mephisto. Belíssimo, gigantesco, mais livre que nunca. A câmera premiada de David Watkin perambulou de avião sobre manadas de elefantes, zebras e girafas ao som de John Barry. Foi a outra surpresa. O britânico John Barry, pra mim, sempre foi o autor da maioria das trilhas de James Bond, e autor da premiada Born Free, de A História de Elza. No frigir dos ovos, foram 28 prêmios para o longa de Pollack. Aí o cinéfilo vai atrás de outras coisas do cineasta. Uma das paradas foi o segundo longa dele, lá nos idos de 1966, um texto de Tennessee Williams, This Property is Condemned (algo como Esta Propriedade está Condenada). Nele, vemos Natalie Wood linda, novinha, no auge da beleza e do talento. Lá também está Robert Redford, para variar, e um Charles Bronson bem jovem ainda, que nunca ia imaginar sendo policial no fim da carreira naquela longa seqüência odiosa do Desejo de Matar (alguém aí lembra ou sabe em que número parou essa série?). Em seguida, Havana, claro, ele estava em casa. A música era de Dave Grusin com pitadas de Arturo Sandoval, e o astro em questão era o velho e bom Robert Redford. A estrela da vez tinha acabado de sair da produção de A Insustentável Leveza do Ser, a bela sueca Lena Olin. O ano era 1990, e após cinco anos sem filmar, Pollack se debruçaria sobre Cuba antes da Revolução de Fidel e Che. Uma Havana corrupta, esquálida pelo domínio americano, porém viva, alegre, pulsante. Lembre-se que Pollack quer fazer a gente pensar. Confesso que depois de Tootsie tinha ficado difícil gostar de Havana, mas tudo bem. A próxima parada seriam dois filmes estranhos, um derivado de um romance de John Grisham (que além de escritor é, na verdade, advogado). O que eu gostei mesmo foi a presença luminosa de Holly Hunter – que tinha acabado de chegar de sua indicação a melhor atriz no Oscar por Nos Bastidores da Notícia. O astro do filme, porém, estava bombando na época. E sempre bombou – era Tom Cruise. Jeanne Tripplehorn fazia a esposa de Cruise. O outro foi o fiasco, na minha opinião. O filme que Pollack não precisava ter feito, porque o original é imbatível. Ele se meteu a refilmar Sabrina, que já existia sob a mão mágica de Billy Wilder. Refilmar pra quê? Colocar Julia Ormond pra fazer esquecer ninguém menos que Audrey Hepburn? Harrison Ford no lugar de Humphrey Bogart e finalmente Greg Kinnear pra fazer o papel que foi de William Holden? Não, por favor, foi demais para mim. Pulei fora. Felizmente, o cineasta se redimiu em seus dois próximos filmes, na visão deste que escreve estas humildes letras que o homenageiam. Random Hearts é uma jóia, também com Ford, desta vez no papel do policial Dutch, que se vê às voltas com a morte acidental da esposa num vôo, e fica sabendo que o marido de uma congressista, feita pela beleza britânica de Kristin Scott-Thomas (do meu querido O Paciente Inglês), ambos foram vítimas de dois adúlteros. E, óbvio, se apaixonam. Música de Grusin, pra variar, com pitadas de Arturo Sandoval. Uma beleza. E ainda contando com o próprio diretor em frente às câmeras, fazendo um assessor de Kristin. Que sorte. Mas foi Nicole Kidman, em sua beleza glacial que, dentro da ONU, consegue desvendar uma trama absurda. Pollack volta a contracenar com sua protagonista. O filme é A Intérprete. A trama de um assassinato que está para acontecer dentro do Congresso das Nações Unidas traz no elenco Catherine Keener e o agora diretor Sean Penn. Denso, misterioso, bem rodado, é um Pollack legítimo, à altura de um Três Dias do Condor, no melhor estilo. Sofisticado, inteligente, o diretor também esteve diante das câmeras em muitas outras vezes, como quando contracenou com Kidman e Cruise no último longa de Kubrick, De Olhos Bem Fechados. Fez muita TV, dirigiu, escreveu, atuou, produziu filmes importantes (um dos que me vem à cabeça agora, é Cold Mountain, novamente com Nicole Kidman no elenco). Um cineasta, um artista e artesão completo. Preferi ficar com os grandes filmes dele, comentar o que eu lembrava e o que mais me chama a atenção neles, fazer assim essa homenagem a Sidney Pollack. Ah, sim, ele faleceu de câncer aos 73 anos. E quem quiser mais que procure o IMDB ou o Wikipedia, claro. |
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