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Resenha: Os Maiores Super-Heróis do Mundo
Por Marcio Baraldi
28/04/2008

Esta é a versão encadernada dos cinco volumes escritos por Paul Dini e magistralmente ilustrados por Alex Ross, a saber: Super-Homem: Paz na Terra, Batman: Guerra ao Crime, Capitão Marvel: O Poder da Esperança, Mulher Maravilha: O Espírito da Verdade e Liga da Justiça: Liberdade e Justiça, lançados anteriormente de forma individual. Em primeiro lugar, nota dez para a Panini pela ótima qualidade de tudo: tradução, impressão, papel, acabamento, etc. Produto de luxo mesmo! Agora vamos ao conteúdo do mesmo. Realmente nossa cabeça muda com o passar dos anos! Se eu tivesse lido essas histórias quando era criança teria ficado deslumbrado com tudo, mas hoje, com a vivência de adulto, fica impossível não perceber coisas que os olhos infantis não perceberiam.

Sou grande fã de Alex Ross e o considero o artista mais talentoso, importante e influente desde Bill Sienkiewicz. Ross está tranqüilamente no panteão  dos "deuses" da ilustração hiper-realista, ao lado de Norman Rockwell, Frazetta, Bóris e Benício. Sua atuação nesta coleção e impecável, tudo que ele sabe oferecer como ninguém esta lá: ângulos vertiginosos, grandes angulares maravilhosas, cenários de cartão postal e rostos quase vivos de tão críveis. Enfim, seu trabalho por si só já justifica a aquisição deste primoroso volume. Pena que o texto de Paul Dini não esteja à altura de todo o talento de Ross. A premissa de Paul Dini foi criar histórias mais realistas e "sensíveis", para colocar os maiores super-heróis do mundo (ou da DC) em situações mais humanas. O genial Denny O’Neil já tinha feito isso antes com o Lanterna e o Arqueiro Verde nos anos 60, no famoso arco de histórias soberbamente desenhadas por Neal Adams (e também lançados pela Panini em duas edições. Não percam de jeito nenhum!!!). Naquela série, O’Neil expôs todas as mazelas e fracassos do "american way of life" como racismo, drogas, desrespeito aos índios, fanatismo religioso, etc, jogando os dois super-heróis num mundo real contra o qual seus super-poderes não valiam muita coisa.

Mas naturalmente nem todo mundo tem o talento e sensibilidade de O’Neil e Paul Dini de fato está bem longe disso. Na primeira história do volume, a do Super-Homem, o roteiro é tipicamente "americanóide": Superman se sensibiliza com a fome no mundo e tem a idéia de pegar o excedente da produção agrícola dos EUA e, com o apoio do governo americano, sai pelo mundo a distribuir essa comida aos países pobres. A ideologia da superioridade americana fica constrangedoramente evidente nesse momento. Enquanto os EUA são mostrados como uma nação "evoluída e altruísta”, os demais países (inclusive o Brasil) são mostrados como periferias paupérrimas, ditaduras violentas, povos analfabetos, letárgicos e fracassados. Enfim, o bagaço do mundo. No final, Superman acaba fazendo o papel do ingênuo bem-intencionado que não conseguiu acabar com a fome por culpa da ignorância humana. Simplista demais, não?

Mas o  maniqueísmo do discurso de Dini atinge seu clímax na história da Mulher Maravilha, onde a deliciosa amazona, vestindo literalmente a bandeira dos EUA, sai pelo mundo combatendo a "incompetência" de todos os países que a mente estreita de Dini escolheu para criticar. Há críticas a China, ao Oriente Médio e até ao Brasil, que aparece, advinhem?, maltratando a floresta amazônica, aquela mesma que os EUA são loucos pra meter a mão! Pra variar não há um único lampejo de crítica ao próprio EUA, terra natal de Dini. Bem que a Mulher Maravilha podia combater os israelenses, que com o apoio dos EUA, invadem a Palestina há 60 anos, ou ainda deter os zilhões de mísseis americanos lançados contra Afeganistão, Iuguslávia, Iraque e tantos outros, não? Ou já que ela gosta tanto de ilhas podia muito bem ter dado uma forcinha pra ilha de Cuba se livrar do criminoso embargo econômico dos EUA. Pena que Dini não pense assim e mal consiga enxergar a realidade além das fronteiras de seu país.

As coisas ficam mais suportáveis na história do Batman, onde o herói tanto como Bruce Wayne quanto como Homem-Morcego, tem que enfrentar empresários corruptos, violência urbana, miséria, pobreza, drogas, enfim, o submundo que existe em qualquer país. Ao transportar o problema pra dentro de casa e lavar a própria roupa suja, Dini se sai melhor e menos patético. As coisas melhoram muito na história do Capitão Marvel, de longe a minha preferida. Ao invés de enfrentar vilões rocambolescos como de costume, o super-herói mais puro e ingênuo dos Quadrinhos tem a nobre missão de levar conforto e esperança para crianças doentes terminais num hospital ou adolescentes espancados por pais numa entidade de assistência social. Pra mim, Dini acertou na mosca ao tratar de problemas mais próximos de si e que estão no seio de qualquer sociedade, mesmo as ditas de "primeiro mundo". O resultado é uma história realmente sensível e tocante, afinal, por mais força física que possua, o que pode o Capitão Marvel fazer para deter o câncer de uma menina que dá o último suspiro de vida em seus braços? Como devolver a perna amputada de um menino? Nessas horas a melhor força é a moral e psicológica! Tocado pela gravidade de problemas sociais que nunca sonhou em combater, o Capitão realiza a missão mais insólita de sua carreira: reintegrar um menino vítima de violência doméstica à sua família desestruturada. Por que não? Numa época em que pais jogam filhos pela janela e filhos matam pais na paulada de madrugada, só mesmo um superser para resolver tamanha decadência social.

Pra encerrar, a história com a Liga da Justiça pouco acrescenta ao volume ou ao currículo da LJA e mais parece um remake “cabeça” de alguma história da Liga da fase Dick Dillin, de longe a mais criativa e divertida do supergrupo. Na história, a Liga, com sua formação clássica, tem que enfrentar um vírus super-poderoso que ameaça dizimar a raça humana. Mas, como sempre, depois de muitos trancos e barrancos, nossos heróis conseguem vencer o vírus e terminar todos felizes no final. Pena que não fazem o mesmo com o vírus da Aids, nénão? Ô, Dini, já que cê é tão broder do governo americano, fala pro Bush gastar menos com guerra e investir mais na cura da Aids e do câncer! Essa sim é a história que toda a humanidade quer ler!

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