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A Lei por um olho só
Por Laudo Ferreira Junior
07/04/2008

A edição especial produzida por vários desenhistas

Há algumas “discussões” dentro dos Quadrinhos nacionais que nunca acabam e não serei eu aqui a exemplificá-las, pois muita gente conhece bem, algumas até tem fundamento, outras não e outras são puros chororôs. Uma delas é a famosa pergunta “qual a cara do Quadrinho nacional?” e eu pergunto “e qual é?” Melhor ainda: “precisa ter???”  Muito mais importante e fundamental que “ter uma cara” é ter uma história bem contada, bem desenhada e no mínimo original, ou melhor explicando, sem ter o caráter de cópia de los gringos, o que, diga-se de passagem, é um pouco comum de se trombar por aí.

Alguns gêneros (esqueçam super-heróis, eles não estão nessa lista!!!) de Quadrinhos e conseqüentemente de personagens são atraentes para muitos autores e valem a pena serem revisitados. O anti-herói, o tipo durão, feio ou não, porém despojado de muitos “vícios” sociais, mas com alma nobre e carregado de senso de justiça, é um exemplo clássico que também sempre vale a pena ser revisitado, até mesmo sem ter o compromisso de se criar algo novo, porque simplesmente não dá a essa altura. Basta apenas criar um personagem bem, de uma maneira sincera e honesta e contar bem sua história. Esse é o “segredo”. Segredo que nem é segredo, porém difícil para muitos entenderem...

Seqüência de uma das HQs
da edição especial: adrenalina pura! (clique para ampliar)

Augusto dos Anjos
foi um poeta paraibano do final do século XIX e início do XX que tinha uma poesia muito forte e carregada de imagens densas, fúnebres, tétricas, muito admirado, idolatrado pelos nossos góticos. Augusto dos Anjos também é o nome do policial criado pelo roteirista Iramir Araújo, maranhense e velho atuante dos nossos Quadrinhos, tendo inclusive já sido indicado ao Prêmio HQ Mix na categoria de Roteirista Estreante. O policial Augusto dos Anjos é muito mais conhecido pelo apelido de “Caolho”, apelido obviamente adquirido pela perda de seu olho esquerdo, marcado por uma nada discreta cicatriz no lugar. Iramir situa as histórias desse personagem no Maranhão. Uma série de HQs policiais passada no norte, na cidade do autor. Nada mais propício, nada mais correto: situa o personagem em um local de pleno conhecimento do criador/roteirista, portanto a coisa acaba ficando muito mais honesta e sincera em sua forma de contar e justamente sai do eixo Rio-São Paulo, que acaba virando clichê para se criar histórias policiais (ou não), como se só houvesse essas duas cidades grandes nesse imenso país, conseqüentemente só nelas existissem criminosos organizados, tráfico, corrupção. Pelo contrário, infelizmente a gente sabe que especificamente falando em Brasil a praga está espalhada do Oiapoque ao Chuí.

Caolho é aquele velho e clássico policial durão. Linha dura com os bandidos. Os roteiros de Iramir são crus. Uma porrada no estômago. Não existem em suas histórias vilões clichês dos Quadrinhos, pelo contrário, são “bandidos” que nós vemos a todo instante nas ruas, nos jornais e na televisão. Não há moral. Não há méritos. Não há solução. Há futuro? O próprio Augusto “Caolho” dos Anjos luta contra um presente corrupto, bandido e violento, o futuro para ele é outra história. O Quadrinho do policial “Caolho” é diversão e da melhor. Mas é incômoda ao percebermos da luta sem fim do nosso... herói... onde às vezes a mão da justiça pesa para o lado errado. 

O falecido ator Eduardo Conde, inspiração para o rosto do policial Augusto "Caolho" dos Anjos

Iramir Araújo criou o personagem em 1982 para publicação em uma revista da antiga e clássica Editora Grafipar, junto com o desenhista também maranhense Waniel Jorge. Chegou a publicar HQs do personagem em jornais do seu estado e em uma revista de lá chamada Fusão. Curiosamente, Iramir e Waniel criaram o rosto do personagem inspirado no ator e cantor Eduardo Conde, falecido em 2003 e muito atuante no Cinema e TV nos anos 70; segundo o próprio Iramir, as feições que Conde passaria para o Caolho a perfeita simetria de alguém inteligente, astuto e cínico. E vale acrescentar que inusitada. O grande momento do personagem veio em 2005 com a edição de Corpo de Delito, publicação independente com 72 páginas e formato magazine. Um deleite para os fãs de uma boa história e uma boa história policial, que você poderá ler num fôlego só. Pauleira pura. Adrenalina pura!!!! Lá o leitor conhecerá bem o universo real, sujo, corrupto e ao mesmo tempo muito humano e real que vive o policial Augusto dos Anjos. A edição conta com a participação de vários desenhistas como Salomão Jr., Marcos Caldas, Ronilson Freire, Carlos Sales e o mestre Luiz Saidenberg, mas é Beto Nicácio quem mais se adequa ao roteiro do Iramir e o que melhor dá vida ao policial caolho.

De lá pra cá, Iramir continua produzindo novas aventuras. Como tudo em termos de Brasil é difícil e árduo, para Iramir não seria diferente. Pretende assim que puder lançar uma nova edição da Corpo de Delito também com a participação de vários desenhistas (mestre Shima já produziu uma HQ de quatro páginas). Nós aqui só podemos torcer para que não fiquemos privados durante muito tempo ainda de nos aventurarmos no mundo de Augusto “Caolho” dos Anjos, com uma boa leitura de um bom Quadrinho. Aliás, privação que Iramir Araújo e o Caolho não querem passar mais tempo também. Interessados? A revista está à venda no site Na Bodega do Leonardo Santana.

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