Há alguns dias eu postei uma charge (imagem acima) usando um personagem muito famoso, Ferdinando Buscapé (Lil' Abner nos EUA). Se alguém não lembrar dele, veja os links abaixo... Realmente é pra quem tem mais de 40 (risos). Eu simplesmente adoro a ingenuidade e brejeirice de Ferdinando e a turma de Brejo Seco. Ele era enganado por todo tipo de político sujo e corrupto, como o Senador Phogbound. Daí pensei: É o personagem ideal para cair na lábia da oposição golpista e invejosa daqui do Brasil, que se nega a reconhecer que o governo Lula representou um avanço em todas as áreas: econômica, cultural e educativa. Gente que usa da lábia corrosiva da nossa imprensa como os Dem ou Tucanos que eu retrato exaustivamente em minhas charges.
Voltando aos Quadrinhos
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Al Capp no traço de Bira |
Al Capp era um caricaturista e cartunista estupendo. Dono de um traço hilariante e de uma arte-final perfeita, com uma valorização dos traços de contorno, principalmente das voluptuosas mulheres de Brejo-Seco. Criou personagens fantásticos em suas páginas dominicais e nas tiras diárias de centenas de jornais norte-americanos e contou com grandes assistentes como Will Eisner e Frank Frazetta (com quem acabou se desentendendo e brigando para sempre). Veja seus cartuns aqui; algumas fotos aqui; e aqui, muitos desenhistas clássicos de HQs como Milton Caniff, Chic Young, Hal Foster e Al Capp.
Alfred Gerald Chaplin nasceu em 28 de Setembro de 1909. Faleceu em 1979, com 70 anos. Sob o nome artístico de Al Capp, criou a Família Buscapé, uma das mais importantes famílias de personagens da história dos Quadrinhos no mundo. Ele nasceu em Connecticut, nos EUA. Ainda pequeno, perdeu uma das pernas ao ser atropelado por um bonde. Gostava de desenhar desde criança e começou a fazer quadrinhos na adolescência. Em 1934, cria Ferdinando (Li'l Abner, gíria de little Abner, ou pequeno Abner, em inglês) e a Família Buscapé, uma sátira ao mundo e às famílias caipiras dos Estados Unidos: a mãe, Xulipa Buscapé, é uma mulher forte e dominadora, o pai um frouxo, e o cachorro é substituído por uma porquinha, Salomé. Em 1957, a história foi adaptada para um musical da Broadway e, depois, ganhou uma versão cinematográfica. Durante o McCarthismo lançou Shmoo, personagem-símbolo do socialismo. Já famoso, durante a II Guerra Mundial (1939-1945) fez espetáculos humorísticos em hospitais para soldados feridos no conflito. O uso que Al Capp fez da língua foi tão revolucionário que o escritor John Steinbeck o indicou para o Prêmio Nobel de Literatura.
O Estilo Capp de Humor
Capp era um grande criador de nomes engraçados para seus personagens como Mammy Yokum (Xulipa Buscapé, a doce velhinha, mãe de Ferdinando capaz de nocautear homens com o dobro de seu tamanho); o desajeitado detetive Fearless Fosdick (cujas aventuras, Ferdinando acompanhava avidamente nas tiras de jornal, criando uma bela metalinguagem com a tira dentro da tira); Marrying’ Sam (Sam casamenteiro); General Bullmoose; o azarado Joe Bfstplk (que era seguido por uma nuvem escura de mau agouro), Evil Eye Fleegle; Lonesome Polecat (o último mohicano) e Hairless Joe, seu companheiro, que tomavam o licor Kickapoo Joy Juice. Ele também era capaz de compor cenas intrincadas e holariantes como este quadrinho, que é um bom exemplo do humor e criatividade de Al Capp, ao criar detalhes tão específicos para cada figura da cena:
1. SHLEMEEL- É o garçom que escorrega numa bituca de charuto e derrama sopa quente no freguês. Ele não é um cara mau, nem quer fazer nada errado, mas é incapaz de fazer algo certo. E se desespera enquanto o cliente está sendo cozido vivo.
2. SHLEMOZZEL- Não precisa fazer nada para causar um desastre. Tudo que precisa é estar em qualquer lugar e o desastre o encontra.
3. SHNOOK- É o companheiro que ri surpreso com o que está acontecendo, e agradecido por não ser com ele, pois foi quem jogou no chão o charuto onde SHLEMEEL escorregou. SHNOOK não causa desastres deliberadamente, simplesmente tudo que faz resulta nisso. E ele não se desculpa.
4. SHTOONK – Está gargalhando do pobre SHLEMOZZEL. Ele gosta de ver a desgraça acontecer, apesar de ser incapaz de causá-la.
5. SHNORRER – Nunca perde uma oportunidade de economizar dinheiro. Ele está dizendo ao garçom que coloque rapidamente a conta de seu jantar na mesa de SHTOONK pois ele sente que o horror da cena fará SHTOONK tão bom que ele não notará que está pagando em dobro.
6. SHLOOMP – É incapaz de fazer algo. Nisso é parecido com o SHLEPPER. Mas não tem esperanças de que posso ajudar em nada, pois é esperto o suficiente para perceber que é muito estúpido para fazer qualquer coisa. Assim ele apenas se mantém sentado.
7. SHLEPPER – O que ele tem em comum com o SHLOOMP é a incapacidade de fazer coisa alguma. A diferença é que SHLEPPER pula de sua mesa para tentar fazer algo. E, não importa o que faça, vai deixar as coisas piores.
Xalberto* fala sobre Al Capp
"Bira, Al Capp sempre foi um de meus ídolos. Ele satirizou o 'american way of life' até a medula (muito antes do Underground), principalmente na primeira fase de sua carreira. Uma de suas criações, os adoráveis (e 'ameaçadores"shmoos') foram considerados a mais perfeita síntese do Socialismo, em plena época do McCarthismo. Steinbeck chegou a afirmar que Al deveria ganhar o prêmio Nobel de literatura. Alguns críticos consideravam que Capp, nos meados de sua carreira, teria dado uma guinada ideológica à direita. Outros chegaram ao exagero de considerar Capp como um 'cartunista de direita' (aliás, é como ele é apresentado no documentário sobre John Lennon, Imagine). Para estes, Capp respondia simplesmente que o que o motivava a fazer críticas ao Capitalismo era a ... FOME! Re, re! Ele pode ser considerado tudo, menos hipócrita! Ah, sim! Lembro perfeitamente de ter lido uma HQ sobre o rapto de Ringo Starr, na época da Beatlemania. Era uma história do 'Fearless Fodick', aquele detetive que o Ferdinando lia no jornal (no Brasil, Joe Cometa). Não era citado o nome de Ringo, só se criava um clima, tipo 'é ele'. Mas, pelo desenho era evidente. Talvez por isso, Capp tenha dito para Lennon, no debate que travaram, que lucraria mais desenhando John, do que confrontando-o. Aqui vai o link do debate Lennon/Capp."
* Xalberto ou Carlos Alberto Paes de Oliveira, nasceu em 24 de março de 1950. Participou da revista Crás (editora Abril) e da revista Balão. Pela editora Massao Ohno lançou os Contos de Nenhum Lugar (história originalmente publicada na Balão) e Íncaro. Desenhou a série Olimpo no suplemento de HQ da Folha de São Paulo e atuou (2002) como colaborador da revista Mad brasileira. Lançou em março de 2004 O Paulistano da Glória, em parceria com Sian e Bira Câmara, pela editora Via Lettera.
(charge e caricatura: Bira Dantas)