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Entrevista: Jozz
Por Eloyr Pacheco
08/02/2008

Jorge Zugliani assina simplesmente Jozz. O quadrinhista ficou conhecido no meio independente pela publicação do Zine Royale e agora esta lançando O Circo de Lucca (leia a resenha do livro aqui), seu trabalho de graduação em Design Gráfico, pela Devir. O “carinha” teve a honra de ter como orientador o grande Luiz Gê! Imagine! Bem, aqui nesta rápida entrevista, Jorge fala sobre seu trabalho, seu livro e seus projetos. Confira.

Como e quando foi que você começou a se interessar por Histórias em Quadrinhos?

Sempre me interessei! Tenho três irmãos mais velhos, um deles desenhava, mas não lia muito, e o outro só lia. A coleção dele era recheada de Fantasma, Flash Gordon, terror, Heróis da TV, Liga da Justiça. Eu passava a tarde com as revistas. Mas como ainda não entendia muito, só copiava os desenhos. Depois de passar por Turma da Mônica e Menino Maluquinho, retomei as revistas do meu irmão e comecei a minha coleção de super-heróis. Na escola eu criava personagens baseados em cada colega da classe, fazia revistinhas, e cheguei até a fazer gibi da música Faroeste Caboclo da Legião Urbana pra aula de educação artística, aos 13 anos. Mas o que mexeu comigo foi ler o livro O Menino Quadradinho do Ziraldo, ainda aos 8 anos. Era eu ali. Depois dos super-heróis, no colegial, passei pras revistas do selo Vertigo. E quando vim pra São Paulo estudar Design Gráfico, comecei a ler fumetti (quadrinho italiano). Hoje, pelo hábito, o que tiver imagem em sequência, tô lendo! (risos)

Ah, você não é paulistano? Como está hoje a sua coleção?

Sou de Jaú, interior de São Paulo. Vim pra cá em 2002. Hoje minha coleção é variada por conta dessas fases. Mas minhas últimas aquisições foram essencialmente Quadrinho Nacional independente, a maioria do selo Quarto Mundo.

Você estudou na Quanta, não foi?

Isso. Eu já estava fazendo Design Gráfico no Mackenzie, amadurecendo a idéia de projetar uma revista. Na faculdade tive aulas com o Luiz Gê e com o Alexandre Jubran, e outros ótimos professores de desenho, mas o curso tem suas prioridades, e a parte de desenho à mão livre fica um pouco prejudicada. Foi aí que entrei na Quanta. Lá, não aprendi apenas as técnicas pra botar a mão na massa, aprendi a pensar o desenho. Na faculdade você aprende que um traço comunica. E ponto. Na Quanta, você sente a responsabilidade que é ver que você é capaz de se comunicar com um traço. Percebe a diferença? Aquele lugar alterou totalmente meu desenho e minha postura. E apesar de eu ainda ter um longo caminho e muito treino pela frente, espero que essa postura tenha se refletido nos trabalhos que fiz até agora, como o Zine Royale e O Circo de Lucca.

Você mantém contato com o Gê e o Jubran?

Com o Gê, sim. Ele montou um grupo de pesquisa de Histórias em Quadrinhos, com vários profissionais, e professores de diversas áreas. Na verdade, é um grupo de experimentação gráfica. Ainda não faço parte oficialmente, pois preciso estar ligado a alguma universidade, e só tentarei o mestrado ano que vem, mas já participo das reuniões.

Como surgiu o Zine Royale?

Foi dessa mistura Mackenzie/Quanta que tava na minha cabeça. Havia uma aula chamada Laboratório Experimental onde era preciso fazer um projeto gráfico à escolha. Optei por uma revista mix de Quadrinhos. Todos os meus trabalhos de design, aliás se inclinavam para os Quadrinhos. Então chamei meus amigos de sala da Quanta. Dessa turma, só a Potira continuou. Sem muita pretensão, cada um contribui de um jeito, e só depois de pronta vimos que a revista ficou bem diferente do que se tem no mercado. Não era só Quadrinhos, tinha entrevista, matéria, mas também não era uma super revista colorida, era P&B como um fanzine. Enfim, tinha espaço pra ela, e isso me surpreendeu. E também vi que eu não sabia nada do mercado independente. Por causa dela conheci o Bigorna, o Cadu Simões, e uma infinidade de gente.

Quando veremos novas edições do Zine Royale?

Estamos fazendo! É aquela eterna luta pela periodicidade, né? No papel o plano meu e da Potira é lançar três edições esse ano. Mas vai saber. Uma coisa que está dificultando é que eu ainda não sei exatamente quem é o público do Zine Royale. Vi que a revista tem saída, mas me parece que o leitor não é o mesmo das outras revistas independentes do Quarto Mundo, por exemplo. Estou com a impressão que só se interessa pelo Royale pessoas que estudam Quadrinhos, colecionadores adultos, ou pesquisadores acadêmicos. Eu queria atingir todo mundo, mas as melhores respostas vieram do Edgar Guimarães, Henrique Magalhães, Worney, Gazy, vocês do Bigorna. Isso tá influenciando o conteúdo dessa terceira edição.

E o Circo de Lucca? É um trabalho de graduação?

É, foi meu trabalho de conclusão de curso do Mackenzie em 2006. Por causa dele o Zine Royale ficou na geladeira (risos). Foi um ano e meio trabalhando nele, pesquisando, escrevendo, testanto, pesquisando mais. Os desenhos foram feitos todos nos últimos seis meses antes da banca. Meu orientador foi o Luiz Gê, e tinha que ser mesmo. Eu tinha uma tremenda encrenca na mão, uma pesquisa cheia de pontas, que não apontava pra lugar nenhum (risos). Durante a faculdade toda eu li e treinei Histórias em Quadrinhos pra fazer uma na hora da conclusão, mas quando chegou lá eu não queria mais contar uma história qualquer. Quer dizer, no contexto em que eu me encontrava (um estudante de Design Gráfico) de que adiantava fazer uma HQ sobre um grupo de amigos que se mete numa aventura e fim? Eu me sentia na obrigação de contribuir para o design contando uma história que fosse relevante pro design. Até por que esse tipo de coisa serve para reduzir o preconceito que os Quadrinhos têm dentro daquele curso. Isso SE os designers lerem (risos). Trata-se de uma tremenda mídia impressa onde qualquer designer pode deitar e rolar com sua criação. Não é apenas uma revista, é uma revista de Histórias em Quadrinhos. As possibilidades aumentam! Então vi que esse discurso poderia contribuir para o próprio meio das HQs e seus artistas. Talvez ajudasse algum quadrinhista que estivesse passando pelo mesmo problema que eu. Peguei o argumento que eu tinha do grupo de amigos, adaptei e fiz os personagens discutirem essas encanações através da metalinguagem.

Quando foi que você percebeu que esse trabalho seria "publicável"?

Eu não esperava nada com uma editora. Faria independente, com certeza, como o Zine Royale. Estava até guardando dinheiro. Mas começou a ficar enorme! Então, dividi em cinco capítulos, e lançaria cada um assim que desse. Mas no segundo capítulo o próprio Gê já começou a me cobrar sobre editoras. “E aí, já foi? Já mostrou?”. Só quando acabou, e eu estava com um boneco completo na mão, que saí mostrando para amigos, professores, quadrinhistas, jornalistas. Até que chegou na Devir. Totalmente inesperado, mas extremamente bem-vindo.

Onde você está trabalhando? Quais seus planos profissionais?

Eu trabalhava até pouco tempo no estúdio de animação do Alê Abreu. Assim que acabamos o curta Passo e o animatic do próximo longa, saí. Por enquanto trabalho em casa. Como designer procuro pegar projetos gráficos editoriais e edição e pós-produção de vídeo, e como desenhista, procuro por ilustração, Quadrinhos, storyboard, animação, e animatic. Quando é preciso criar marcas, fazer sites, eu passo pra minha namorada, a Juliana, que também é designer.

E quais são seus próximos projetos?

Eu só consigo fazer esses trabalhos comerciais se, paralelamente, eu estiver fazendo algo autoral. É fundamental pra eu manter a sanidade (risos). Então além do Zine Royale, pretendo lançar uma outra revista só com histórias minhas. E já estou desenhando uma HQ de 80 páginas do escritor e professor da USP Antonio Vicente Pietroforte. Se sobrar tempo, quero fazer um curtinha de animação também.

Obrigado, Jozz, pela entrevista. Grande abraço.

Eu que agradeço a atenção do pessoal do Bigorna! Obrigado!

O Bigorna.net agradece a Jozz pela entrevista concedida por e-mail e finalizada em 03/02/2008

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