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Por Roberto Guedes 28/01/2008 A História em Quadrinhos Brasileira jamais esteve tão por baixo em termos de produção e prestígio quanto nestes últimos anos. Com a realidade da rede mundial de computadores chegou-se a criar uma expectativa de que, enfim, os autores nacionais teriam um espaço democrático para divulgarem suas obras e, como conseqüência, criarem um público interessado e consumidor das mesmas. Mas não é isso o que aconteceu. Após quase uma década, o quadrinista brasileiro continua à margem do profissionalismo e da popularidade, o que, talvez, seja a constatação de que a “salvação” não se encontra mesmo sob os inúmeros recursos disponibilizados pela Internet. E pior: que continua sendo apenas do interesse do próprio autor a publicação de suas HQs. E agora, incapaz de sair dessa armadilha virtual, se encontra atolado em fotologs, fóruns e listas de bate-papo, onde imperam a autocomiseração e, às vezes, ataques e contra-ataques à reputação alheia. Esses mesmos espaços deveriam ser usados para os leitores e colecionadores tecerem comentários, e trocarem idéias e informações sobre os Quadrinhos de que gostam (americanos, japoneses, italianos e o escambau), mas o que acontece, em geral, é que os autores medíocres choram, os pseudo-entendidos e invejosos vociferam, e os néscios de plantão se esbaldam. Os que menos sofrem nessa Torre de Babel eletrônica, é evidente, são os néscios, afinal, como não entendem de nada, riem de tudo. Parte disso se deve ao debochado consenso geral, e cada vez mais vigente, de que “o brasileiro até desenha bem, mas que não sabe escrever”. É uma idéia tola e preconceituosa que vem de longa data, mas potencializada com o advento da Internet, via os já citados fóruns e listas, que, bem sabemos, transformam qualquer texto fora de contexto, em puro pretexto. Por essas e outras, é importante não perder o foco, falar menos e fazer mais. A ladainha é antiga, e já vem de quase um século. Só mudou de endereço. E o que é pior: não adianta nada. Não é raro escutarmos (lermos) o que o desenhista pretende fazer para alcançar seus objetivos, e pior, porque ele não conseguiu atingi-los. É como se o sujeito esperasse uma provisão divina ou, pelo menos, um apoio moral dos leitores. Só que o leitor não está realmente interessado em algo que, efetivamente, não existe. Sim, porque se você só fala e não tem nada para mostrar, é melhor se mancar e cair fora de uma vez por todas. E, por favor, não me venha com model sheets, OK? Além disso, é errado dizer como você vai fazer. O certo seria afirmar simplesmente que você vai fazer. Quanto mais você explicar detalhes aos colaboradores que pretende arregimentar, mais suas idéias serão questionadas e mais você será desencorajado. Afinal, é mais fácil destruir do que construir. É clichê, mas é verdade. Reconheço a coragem de muita gente talentosa por aí que não mede esforços na hora de colocar seu produto autoral à venda, ora criando espaços – até virtuais – para comercialização; ora dividindo o mesmo com outros autores, numa clara demonstração de camaradagem e de consciência cultural, como são os casos das independentes Marca de Fantasia e SM Editora e dos sites Un Hombre Estúdio Produções e Bigorna.net. Contudo, esses espaços de publicação e divulgação continuam sendo alternativos e restritos a um nicho específico de público – e isso, infelizmente, foge às suas forças, quando não raro, de seus interesses. É algo semelhante à situação dos selos alternativos dos anos 1990, como os paulistanos Fire Comics e Saga Publishing que imprimiam tiragens pequenas de suas publicações e as distribuíam em pontos específicos da Grande São Paulo, como as hoje legendárias lojas: Muito Prazer e Alex Comics – ou ainda via correio, de maneira mais tímida e menos eficaz. De qualquer modo, foi algo precursor ao sistema de distribuição do HQ Club implementado no começo deste século pela dobradinha Comix Book Shop/Opera Graphica – que só não conseguiu êxito, devido, entre outros fatores, à fragilidade organizacional das esparsas comic shops brasileiras. Para essa gente brava, formada por editores, escritores, desenhistas, roteiristas, jornalistas, comerciantes e entusiastas, não faltou/falta atitude – o que não deixa de ser um “tapa na cara” das grandes e indiferentes editoras (não que essa bofetada doa). Talvez surtisse algum efeito nas chamadas editoras “menores”, só que estas insistem em publicar Quadrinho gringo desconhecido, mesmo sabendo que vão ter prejuízo, material encalhado e que acabarão numa possível falência, já que as “marcas fortes” não estão à disposição delas. Contudo, os abnegados do circuito independente careciam (e continuam carecendo) de uma estrutura editorial adequada e de auto-senso crítico, muitas vezes, se satisfazendo com elogios de amigos e alguns tapas nas costas. E também com um ou outro prêmio anual, que é bom, claro, mas que na prática, só serve é para encher o ego, e não o bolso. Não que a coisa toda se resuma a dinheiro, mas que isto é importante, não há a menor dúvida. As faltas de grana e de expectativa para se atingir o grande público são o que determinam a marginalidade da produção brasileira, e que a mantém eternamente aquém de qualquer tipo de análise crítica mais profunda. Assim, qualquer um que exigir o que for de uma revista alternativa estará agindo como um boçal, para não dizer covarde, já que uma publicação destas não está sujeita a nenhum tipo de critério ou pressão editorial (profissional) que a determine como produto rentável, concebida para dar retorno financeiro. Sua análise deve se restringir, quando muito, ao aspecto cultural. A primeira década do novo século está chegando ao fim, mas o Quadrinho Brasileiro de autor ainda permanece em sua dormência conceitual, numa paralisia simplesmente vexatória, e sujeito à apatia das editoras e o descaso dos leitores. Quanto as primeiras, esqueçam-nas... quanto aos últimos, entenda-os. |
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